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COLUNA

Hipocrisia religiosa na disputa eleitoral

Soco desferido por um assessor do candidato/coach direto no rosto de um assessor do atual Prefeito Ricardo Nunes. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Soco desferido por um assessor do candidato/coach direto no rosto de um assessor do atual Prefeito Ricardo Nunes. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Marcelo Emerson

por Marcelo Emerson

Publicado em 26/09/2024, às 08h07


Este colunista tem acompanhado com alguma atenção os debates entre candidatos à Prefeitura de São Paulo. Tem sido corriqueiro o descontrole emocional de alguns envolvidos na disputa. Dois fatos têm sido noticiados à exaustão. Um deles é a agressão física de Datena contra o coach Marçal com o uso de uma cadeira; outro foi o soco desferido por um assessor do candidato/coach direto no rosto de um assessor do atual Prefeito Ricardo Nunes.

A disputa política partidária não é arena para santos. Isto já sabemos e não ousamos discordar. O elemento novo nessa história toda é a justificativa de alguns entusiastas dos agressores, há quem defenda que tais agressões possuembase bíblica! Justificam o argumento na passagem dos evangelhos de Mateus (Capítulo 21, versículos 12 e 13) e João (Capítulo 2, versículos 15 e 16).

Transcrevo aqui a passagem que ficou conhecida como o episódio de Jesus contra os vendilhões do templo: “E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.

A diferença entre ambas as situações é gritante até mesmo para um observador menos atento e nem um pouco versado em teologia: de um alado, uma disputa político-partidária mundana entre pessoas comuns; de outro, uma reprimenda aplicada pelo Mestre maior da cristandade sobre aqueles que corrompiam a salvação espiritual em troca de dinheiro.

Para além de utilizar incessantemente o nome de Deus em vão em disputas da política miúda e mundana, a justificativa nem de longe pode se aplicar ao “barraco” que alguns vêm fazendo na disputa eleitoral.

Uma interpretação só um pouco mais cuidadosa das escrituras sagradas nos orienta a nunca interpretar a Bíblia em “gavetas” ou “ em tiras”. Sacar um ou dois versículos isoladamente para criar falácias em prol do mundanismo e das más tendências humanas é típica característica da corrupção do verdadeiro Evangelho.

Uma breve interpretação sistemática já nos levaria a encontrar tantas passagens bíblicas que não deixam de pé a justificativa dos políticos agressores.

Cito apenas alguns exemplos, por limitação de espaço, pois há muitos outros: ”Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9); “...que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão […] ” (1Jo 3.11). Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5.43-47);

Que os políticos se engalfinhem tresloucadamente em busca de votos é conduta que já se espera em campanhas eleitorais. Quando justificam o “quebra-pau” como se estivessem agindo em imitação a Cristo cometem hipocrisia das mais graves.

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