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COLUNA

Sobre capivaras e criminosos do bem

Imagem: Reprodução | Instagram
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Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 06/05/2023, às 14h58


Você já viu como acontece o transporte de animais quando eles são vendidos ilegalmente? Se não viu e é sensível a imagens angustiantes, não procure no Googlenem no YouTube. Não quero atingir as pessoas que sofrem com isso, mas devo dizer que uma grande parte dos animais morre, porque as condições são realmente terríveis.

E, assim como eu, tenho certeza de que você acha que esse tráfico é crime, porque sacrifica animais indefesos, coloca a fauna em risco e também pode trazer problemas sérios de saúde pública, além de sabermos que esse comércio está ligado a inúmeras outras ações ilegais.

Mas, então, por que esses crimes são cometidos? Simples: porque ele resulta em beleza, prazer e demonstração de poder. As pessoas querem ver os animais, ouvir os cantos dos pássaros nas gaiolas, mostrar para todos que têm “objetos” que os outros não podem ter.

Esse comércio criminoso é mantido por gente que diz por aí que sempre tratou bem os animais, que os ama e que jamais faria algum mal a eles. E pode até ser que isso seja verdade. Porém, todo o resto, que apontei antes, também é. O problema quase nunca aparece no resultado final, mas em toda a cadeia e nos seus impactos.

Então chegamos a outro problema dos nossos tempos: a importância das redes sociais para esse comércio, como ambientes de influência, em que elas mostram como é bacana ter um animalzinho por perto, com seus gracejos, sons e movimentos tão interessantes.

Você consegue associar uma coisa a outra? Ligar a influência das redes aos crimes? Se não consegue, deveria fazer esse exercício. E é para que isso não ocorra que o Estado tem que agir com rigor, e mais especificamente, algumas instituições, como o Ibama.

O Ibama não precisa ser fofinho, parecer bacana nas redes. O Ibama tem a função de evitar inúmeros crimes ambientais, fiscalizando e fazendo cumprir decisões que estão na legislação e nas regulamentações.

Se tem um criminoso mostrando cenas lindas de exploração de animais silvestres para ganhar likes e muito dinheiro, tem que ser combatido. Não tem meio termo. “Ah, mas é só um rapaz cuidando de uma capivara. Tem tantas soltas na beira do Tietê… Por que o Ibama também não cuida dessas?”

Você entrou nessa conversa? Sério? Então, ou está mal informado ou mal intencionado. O Ibama tem a função de cuidar de todo o país, e portanto não tem recursos para tudo. “Então por que pegaram justamente o rapaz tão carinhoso com a capivara?” Simples! Porque as “cenas bonitinhas” influenciam inúmeras pessoas a terem comportamentos também criminosos e arriscados, que resultam em maus tratos aos animais e riscos ao meio ambiente, além do problema de saúde pública.

E o tal influencer já tem diversos casos de exploração de animais silvestres. Será que ninguém tem mesmo vergonha de defender um criminoso só porque aparenta ser “do bem”? Crime é crime, e não tem como o Estado (neste caso, o Ibama) contemporizar.

Pessoas do Ibama erraram? Sim. Poderiam ter comunicado de forma mais clara, utilizado influencers também para educar sobre o problema, trabalhar de forma mais planejada. Porém, um erro de algum servidor público na condução da comunicação não pode ser confundido com a imagem de uma instituição que significa proteção ambiental e tem um histórico de tanto trabalho pelo país.

Portanto, se você não sabia que um crime estava acontecendo na frente de todos, informe-se mais. Se sabia e mesmo assim acha que tudo bem explorar animais, então realmente as instituições do Estado devem estar atentas para não cair na onda da influência digital, continuando a cumprir os seus papéis.

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