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Será que ainda dá tempo de reverter a crise climática?

Será que ainda dá tempo de reverter a crise climática? - Imagem: Reprodução | Médicos sem fronteiras
Será que ainda dá tempo de reverter a crise climática? - Imagem: Reprodução | Médicos sem fronteiras
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 30/09/2023, às 06h23


Acontecimentos no Brasil e em todo o mundo nos últimos dias deixaram grande parte da humanidade preocupada. Se não todas pessoas, pelo menos aquelas que já entenderam que existe uma crise climática em curso. E espero que você seja uma delas.

A pergunta que muita gente faz, ao ver, entre tantos sinais, as enchentes no Rio Grande do Sul e na Líbia, as ondas de altas temperaturas em todos os cantos e o derretimento de gelo onde ele esteve desde que existem registros, é: “ainda dá tempo de reverter isso aí?”

Os especialistas divergem, mas grande parte deles diz que estamos muito próximos do ponto em que não vai ser possível voltar mais. E, então, estaremos focados na redução de danos, quase como um cuidado paliativo.

Mas cuidado paliativo para quem? Não, não é para o planeta. Afinal, com menos ou mais espécies, ele continuará existindo. E não consta que os seres humanos farão falta.

A grande questão que temos que entender agora é que o sofrimento do planeta será (e já tem sido) o sofrimento de todos nós. Falta de alimentos, desertificação, necessidade de deslocamento de grandes massas de população, além do encurtamento da vida para quem tem contato com poluentes e também com o calor intenso.

Quando manifestantes há alguns anos começaram a dizer que não havia planeta B, lema que foi adotado por muita gente, talvez tenha havido um erro de foco, porque, no final das contas, o risco não era (e nem é agora) do fim do planeta, mas sim da humanidade. Se não de toda ela em um primeiro momento, de uma boa parte.

E não adianta os ditos países ricos simplesmente fecharem as portas para o deslocamento de famintos, afinal, um estudo recente mostrou que as capitais europeias convivem com poluição que reduz a expectativa de vida de quem, pensava-se, tinha conseguido desenvolver uma vida plena, com saúde e bem-estar social.

Um filme antigo (pelo menos para os mais novos) chamado Sonhos, dirigido pelo cineasta japonês Akira Kurosawa, mostra, em uma das suas sequências, um mundo distópico em que o monte Fuji entra em erupção enquanto reatores nucleares explodem e anunciam o fim do mundo (ou da humanidade). Para mim, durante muito tempo, aquele era o retrato mais claro do momento em que tudo acabaria.

Hoje, no entanto, acho que as coisas serão ainda mais complicadas. Massas de pessoas tentando fugir de enchentes, de incêndios, de poluição extrema, tudo ao mesmo tempo, sem o charme de um momento de arrebatamento, de um gran finale apocalíptico.

O que estamos preparando é um fim sem graça, em que os poucos que forem sobrevivendo vão tentar proteger suas contas bancárias, suas startups, suas imagens nas redes sociais.

Isso, claro, se realmente não houver jeito de voltar e recuperar o tempo e o meio ambiente perdido. Se houver essa possibilidade, quero mesmo pensar que todos nós vamos preferir isso.

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