por Kleber Carrilho
Publicado em 12/08/2023, às 06h35
Esta semana, a Cúpula dos países da Amazônia trouxe de novo a discussão sobre a capacidade de liderança mundial de Lula, e de como os países importantes no jogo geopolítico o veem. Esse tema é importante porque, desde que anunciou que seria candidato, o presidente fez questão de se posicionar como alguém que colocaria o país de volta nas grandes negociações mundiais.
Tanto isso era importante que, mesmo antes da confirmação da candidatura, Lula saiu em visitas internacionais, o que incluiu uma calorosa recepção na Europa, com destaque para a França, onde Macron fez questão de recebê-lo com honras de chefe de Estado, o que naquele momento ele não era.
Passada a eleição, no entanto, o que parecia uma aproximação clara do Brasil com a Europa e os EUA de Joe Biden, mudou de contexto quando a importância dada aos BRICS resultou também em mensagens pouco amistosas para as lideranças ocidentais.
As discordâncias com Zelensky sobre a invasão da Ucrânia, a confirmação de que lutaria contra a manutenção do dólar como moeda de realização de negócios entre países, as discussões sobre os limites do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, além de discursos fortes em eventos com a presença de líderes da Europa Ocidental, deixaram uma dúvida na imprensa: “será que Lula entendeu o mundo de hoje?”
Para os defensores das atitudes dele, entre os quais eu me incluo em determinados momentos, a estratégia é clara: ao deixar de ser uma liderança que concorda com os países responsáveis por diversos problemas históricos na América Latina, na África e em parte da Ásia, há uma intenção de reparação econômica, além de se mostrar atento à mudança no peso dos poderes dos países, principalmente com a capacidade econômica da China e da Índia.
Porém, para que essa liderança mundial realmente aconteça, Lula precisa ter no seu entorno, principalmente na América do Sul, alguma capacidade de concordância. Não foi o que aconteceu na Cúpula da Amazônia, em que o documento final não traz grandes avanços na proteção da floresta, de acordo com especialistas no tema. Além disso, discordâncias com antigos parceiros, como os líderes do Uruguai e do Chile, em relação à aproximação com a Venezuela de Maduro e à não condenação dos crimes na Nicarágua de Ortega, mostra que a lição de casa ainda precisa ser feita.
Afinal, se isso não acontecer, Xi Jinping vai entender que pode ter a América Latina mais próxima sem precisar respeitar a voz de Lula, o que abre caminho para mais acordos bilaterais, já que o mercado da China, mesmo que esteja em crise, pode sustentar as economias de diversos dos nossos vizinhos.
Sem os líderes ocidentais e sem proeminência nos BRICS, Lula pode ser visto apenas como um personagem interessante, que fala o que vem à cabeça, mas que não consegue liderar nem mesmo os que têm realidades comuns muito urgentes para resolver, como é o caso da Amazônia.
Veremos o que pode acontecer. Afinal, são apenas os primeiros meses de governo. E essa, com certeza, tem sido a principal preocupação do Itamaraty, do assessor para questões internacionais Celso Amorim e do próprio presidente Lula.
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