por Kleber Carrilho
Publicado em 09/09/2023, às 06h21
Neste fim de semana, ocorre a reunião do G20 na Índia (ou Bharat, como o governo quer que a Índia seja chamada agora). O grupo, que reúne as economias mais importantes do mundo e tem reuniões periódicas desde 2008, nunca esteve em uma situação tão desafiadora quanto neste momento. Com a crise entre a Rússia e a Ucrânia se aprofundando, com poucas expectativas de pacificação, e uma reunião dos BRICS há pouco tempo que incluiu uma expansão do grupo, é essencial verificar como serão os encontros bilaterais.
Para o Brasil, é uma oportunidade de demonstrar interesse nas possibilidades de conversas entre os membros, principalmente porque o presidente Lula vai assumir a liderança do grupo e organizar o próximo encontro, no Rio de Janeiro, em 2024.
Durante um ano, portanto, cabe ao Brasil utilizar essa vitrine global para propor soluções para que o ambiente, em vez de desconfiança, seja de mais tranquilidade com a mudança dos pesos da geopolítica e dos negócios globais, que já começou.
Ao tentar usar a imprensa para falar de uma solução fácil para o conflito entre Rússia e Ucrânia, no início do ano, Lula destoou do papel de mediador, pois poderia ter levado o tema para as salas de reunião. Também exagerou no discurso ao falar em um evento em Paris, ao cobrar publicamente de maneira muito enfática a responsabilidade dos países desenvolvidos na questão climática.
Agora, também liderando o estranhamento com a União Europeia em relação ao acordo com o Mercosul, o presidente traz para ele todo o foco de uma negociação que tem outros parceiros, que não parecem tão interessados nela.
É claro que assinar um acordo em que a Europa pode mudar as regras quando quiser não faz sentido. Porém, talvez Lula tenha que relembrar algo que já fez, principalmente na política interna: nomear interlocutores para comprar as brigas, em vez de aparecer na frente de todas elas. Se não tem, entre os parceiros do Mercosul, alguém com condições de brigar, pode arranjar um amigo entre as lideranças europeias para fazer isso. Ou será que também não é possível?
Ou ainda, em vez de falar pela imprensa, ele precisa usar mais o telefone, ligar para cada um dos líderes europeus, e explicar todas as razões pelas quais o atual texto do acordo não é viável do jeito que está para as exportações brasileiras.
Afinal, para ter uma presidência propositiva no G20 e ter capacidade de ser importante na expansão dos BRICS, é fundamental que as negociações fiquem nos bastidores.
PS: Depois de quase concluído este texto, houve a confirmação da ausência do presidente chinês no encontro. E, por tudo o que representa, ela aumenta ainda mais o papel de Lula nos próximos momentos da política global.
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