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COLUNA

Javier Milei é apenas mais um político

Javier Milei. - Imagem: Divulgação
Javier Milei. - Imagem: Divulgação
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 25/11/2023, às 07h57


Passadas as eleições argentinas, que deram a vitória de Javier Milei, a confirmação de que ele é só mais um político que usou a performance para ganhar votos fica evidente a cada manifestação pelas redes sociais ou em entrevistas.

O grande inimigo de Lula já diz que o presidente brasileiro será bem-vindo à posse. Aquele que dizia que não negociaria com a China já agradeceu a carta de Xi Jinping. Isso quer dizer que muito do que foi dito durante a campanha eleitoral está ficando somente na memória.

E isso acontece porque, no final das contas, quem faz política sabe que, depois que se ganha uma eleição, a grande arte é fazer o que se consegue e o que se apresenta como urgente, confirmando a frase muito usada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “A política não é a arte do possível. É a arte do possível necessário”.

Portanto, Milei sabe que precisa, muito rapidamente, dar sinais de que vai resolver o grande problema econômico que assola a Argentina: a hiperinflação. E não dá para focar em outras coisas, possíveis, mas não tão necessárias, antes que esse problema seja debelado, preferencialmente no curto prazo.

É provável que a equipe econômica do novo governo já esteja tentando entender como resolver um problema que poderia até ser solucionado com a dolarização da economia, como prometeu Milei quando candidato, mas que traria, com esse remédio, um desastre para as exportações (principalmente agropecuária), que são fundamentais para as contas do país.

Com certeza, mesmo sabendo da urgência do problema econômico, o novo presidente vai tentar levar a atenção para outras coisas, como a ideia de retomada das Malvinas, oumais mensagens telepáticas do cachorro. Porém, talvez ele não tenha o tempo da “lua de mel” que sempre permite que os novos mandatários tenham alguma tranquilidade para resolver questões de governabilidade e equilíbrio no poder.

Para resolver o problema econômico, Milei terá que reconsiderar as críticas à China de forma mais veemente, lembrando que a aproximação com os BRICS pode ser, principalmente para a conquista de mercados para os seus produtos, muito mais produtiva do que a insistência de ser amigo dos Estados Unidos.

A minha aposta é que a revisão de pensamentos e de falas espontâneas durante a campanha estará muito presente nos próximos meses, e não duvide se, em pouco tempo, ele não estiver em Brasília pedindo ajuda (e dinheiro) para Lula.

Portanto, só para lembrar, Milei é só mais um político, que usou a campanha eleitoral para se destacar, teve competência no discurso e na performance, e conseguiu conquistar o voto dos argentinos que tiveram as suas vidas precarizadas nos últimos anos, graças à incompetência dos peronistas.

Mas, agora, os objetivos do novo presidente mudaram: ele quer se manter no poder. E, para isso, é essencial negociar, fazer alianças, buscar o equilíbrio. Então, as bobagens da campanha precisam ser deixadas de lado.

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