por Kleber Carrilho
Publicado em 29/07/2023, às 06h02
No meu mundo ideal, e eu vivo repetindo isso, a política seria o universo da racionalidade. As pessoas discutiriam formas de solucionar os problemas, trocariam argumentos, e as melhores ideias seriam implementadas. Simples assim.
E é isso o que a democracia liberal tenta fazer, com a divisão dos poderes, a representação nas Câmaras e nas Assembleias, as formas de participação direta, as audiências públicas e as eleições periódicas. Porém, como você já deve ter notado, o sucesso deste modelo é discutível. Existe, claro, alguma racionalidade, mas nada que deixe de lado o que é extremamente humano: a emoção.
Os defensores de que o afeto é parte integrante de toda interação humana, inclusive da política, em geral trazem frases de grandes pensadores, como o filósofo Baruch Spinoza, para mostrar que nada do que é humano pode deixar de ser também visto como a troca de anseios, paixões, emoções. Para eles, por mais que tentemos racionalizar as nossas relações, no fim das contas, o que aparece é o que nos faz gostar, amar, odiar.
Alguns teóricos da política, inclusive, tratam da arena da disputa pelo poder unicamente possível com a existência dessas emoções, como é o caso de um velho conhecido da nossa História: o populismo. O argentino Ernesto Laclau inclusive chegou a dizer que o fim do populismo (com todos os seus aspectos emocionais) seria a morte da política, pois sem ele sobraria apenas a administração, no sentido mais burocrático possível (vale a pena também ver o que Max Weber falou sobre o tema).
O problema é que as emoções não conseguem construir somente boas relações, saudáveis e respeitosas. O que temos, em geral, é a alternância de ciclos. Durante algum tempo, ocorrem os abraços, os carinhos, as demonstrações públicas de afeto, mas, depois, também aparecem as trocas de acusações, as inimizades e o ódio, no sentido mais próximo do que Friedrich Nietzsche chamava de ressentimento.
A propósito do ressentimento, a professora e psicanalista Maria Rita Kehl diz que é ele que, com o seu sentimento de injustiça e a sua necessidade de realimentação do ódio, dá origem (e também sustenta) ao bolsonarismo.
Observe que algumas pessoas, sentindo-se injustiçadas por ter perdido a capacidade de mandar em funcionários obrigatoriamente subservientes (olha a herança escravocrata aí), sentindo o medo de ter seus espaços invadidos (física e simbolicamente), nos aeroportos, nas lojas e nas Universidades, tiveram como resposta essa ideia de que era necessário (talvez como a única saída) sentir-se ressentido.
Quando juntamos esse ressentimento à ideia de frustração por ter perdido algum prazer, como o de maltratar os mais pobres, de se sentir rico, de ser a classe a ser admirada (o que, para alguns, sustenta a classe média), buscar uma saída de uma liderança de massa (lá vem Freud!) foi um processo quase automático.
Ao assumir a irracionalidadede chamar um líder de mito, os ressentimentos ficaram ainda mais evidentes, demonstrando que, ao contrário da racionalidade que poderia ser possível para buscar saídas e estratégias de longo prazo, uma grande parte dos brasileiros preferiu abrir mão de qualquer possibilidade de liberdade para buscar solucionar aquilo que movimenta a capacidade de se submeter ao poder do Estado segundo um outro grande pensador da política (Thomas Hobbes): o medo.
Temos que falar mais sobre tudo isso.
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