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COLUNA

É hora de apontar os culpados e dizer: “eu avisei!”

Enchentes RS. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Enchentes RS. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 11/05/2024, às 06h00


Com os acontecimentos do Rio Grande do Sul, que atingiram tanta gente, de forma tão catastrófica, eu me lembrei de diversas pessoas que conheço, que trabalham com os temas ligados ao meio ambiente e à crise climática. Essas pessoas avisaram muito, e agora é hora de elas repetirem em alto e bom som: “eu avisei”.

Tenho visto nas redes sociais, em discursos de políticos e mesmo na imprensa que não é hora de apontar culpados, porque é o momento de todos unidos ajudarem as pessoas que estão sofrendo. Eu discordo. Para mim, é hora de apontar culpados sim, sem que para isso deixemos de ajudar as pessoas que precisam ser ajudadas.

Se não forem apontados os dedos aos culpados, outros líderes políticos vão continuar a ignorar a crise climática, fingindo que não têm nada a ver com isso. Porém, se os responsáveis (e culpados) forem expostos claramente na imprensa e nas redes, com os especialistas que tanto avisaram dizendo exatamente o que deveria ter sido feito, o medo vai fazer com que quem está no ambiente político pense muito bem antes de se candidatar a um cargo público.

Neste ano, com eleições municipais, cada candidato a prefeito dos mais de cinco mil municípios do país precisa temer que, na sua possível gestão, possa ter que lidar com terríveis acontecimentos como o que está acontecendo agora. Com isso, devem incluir nos seus programas ações claras para a prevenção de desastres, no curto prazo, e para uma atividade econômica que se preocupe com o clima, no longo prazo.

Os governos estaduais, o governo federal e cada um dos ministérios, principalmente os que mandam na Esplanada, precisam ser questionados. Afinal, quando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, começou um discurso em uma coletiva de imprensa dizendo que não era hora de apontar culpados, claramente houve uma tentativa de salvar a própria pele.

Não tem como ver tudo o que aconteceu por lá e deixar de lado a decisão de que o Brasil é o país do agronegócio. Se isso é verdade, precisa ser de um agronegócio inteligente, que não acabe com o meio ambiente somente porque isso faz bem para a balança comercial e para o PIB.

Da mesma forma, não adianta ter cidades enormes sem que haja a mínima preocupação com o que a ocupação humana desenfreada pode causar. E isso não é só problema de Porto Alegre. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, entre tantas outras grandes cidades, não estão investindo nem o mínimo necessário para evitar as tragédias. No caso paulistano, pelo contrário, o investimento é para que a próxima temporada de chuvas traga ainda mais problemas, com o projeto do prefeito, em busca da reeleição, de asfaltar tudo o que é paralelepípedo na cidade. Afinal, com todos os problemas, paralalepípedo pelo menos é mais permeável do que asfalto.

Por todos esses motivos, é hora de apontar o dedo, de dizer “eu avisei” e de cobrar todos os que querem ter cargos na gestão pública. Porque, no final das contas, as pessoas só trabalham direito no ambiente político quando são pressionadas.

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