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De Olho na Cidade, por Fábio Behrend

O debate da Band e o cara que tira Marçal do sério

Pablo Marçal - Imagem: Reprodução | YouTube
Pablo Marçal - Imagem: Reprodução | YouTube
Fábio Behrend

por Fábio Behrend

Publicado em 09/08/2024, às 08h01


Impressões

Bloquinho, caneta, pipoca e uma cerveja stout ao alcance das mãos. Foi assim que assisti o debate de ontem na Band, que embora tenha sido quente, foi “fraco”. Explico melhor: além de poucas propostas por parte dos candidatos, Pablo Marçal acabou sendo “neutralizado” pelos adversários, o que acabou fazendo a temperatura do debate ficar em níveis aceitáveis. Não houve vencedores, mas na minha análise a maior surpresa foi a frieza de quem era o alvo predileto dos concorrentes.

O prefeito

Ricardo Nunes surpreendeu como vidraça. Preparado, não se intimidou com as pedradas que recebeu de todos os adversários, principalmente de Datena e Marçal. Não fugiu do confronto, respondeu os questionamentos agressivos dos adversários com calma, de maneira didática e apresentando dados. Normalmente linear, Ricardo Nunes mostrou emoção em alguns momentos e foi enfático ao criticar os adversários, principalmente Datena. O prefeito defendeu sua gestão e saiu do debate com a imagem inalterada. Se alguém esperava um Ricardo Nunes inseguro e claudicante, se decepcionou.

Coach messiânico

É complicado para quem acompanha de perto a política brasileira há quase 30 anos dizer que Pablo Marçal foi bem no debate. Agressivo, o coach milionário teve bons momentos, mas todos na base da lacração ao estilo quinta série. Marçal consegue impor sua narrativa com habilidade incomum e já está deitando e rolando na internet com os cortes de suas sacadas rápidas e precisas. Porém, mostrou que não conhece a cidade e chegou a ser ridicularizado por Ricardo Nunes ao falar do projeto do teleférico como meio de transporte em São Paulo. As próximas pesquisas eleitorais serão como réguas para medir onde Marçal poderá chegar.

Boulos

O candidato da coligação PSOL/PT soou artificial na televisão. Gestos estudados e a dicção calculadamente pausada tiraram a naturalidade de Guilherme Boulos. Foi bem na estratégia de publicar nas redes sociais a condenação prescrita de Pablo Marçal por furto qualificado, anunciando o post durante o debate e fez questão de enaltecer a gestão de sua vice, Marta Suplicy, sempre que pôde. Mas decepcionou quem esperava de Boulos mais agressividade,principalmente quando Marçal dirigiu-se a ele com um sinal sonoro e o dedo no nariz, referência clara, mas indireta, para usuários de drogas. Boulos simplesmente ignorou Marçal.

Aliás...

Marçal passou a semana falando que iria revelar quem seriam os usuários de cocaína que disputam com ele a prefeitura de São Paulo e, fora a insinuação contra Boulos, calou-se sobre o assunto. Os adversários também deixaram a questão de lado.

Datena

Datena estava à vontade em seu habitat natural e se alguém imaginava que a direção do debate seria complacente com ele em algum momento, dançou. Habilidoso, mesmo quando tabelou com Boulos contra Ricardo Nunes, criticou o candidato da esquerda com veemência. Focado principalmente em segurança pública, Datena gaguejou em dois momentos ao falar de outros assuntos e as cenas podem até virar meme.

Tabata Amaral

A candidata da Vila Missionária e de Harvard poderia ter causado melhor impressão se tivesse adotado o tempo todo o tom mais enérgico que usou no encerramento do debate. Respondeu com educação aos ataques de Pablo Marçal, mas em tom que pode ser considerado meigo demais. Mas constrangeu o coach ao perguntar sobre a Operação Urbana Água Branca, assunto que quem quer governar uma das maiores cidades do mundo deveria ter na ponta da língua. Tábata enalteceu as leis que aprovou como deputada federal, apresentou propostas interessantes, mas não encantou.

Inimigo nº 1

O maior “inimigo” de Pablo Marçal é brasileiro, negro, carioca, tem 34 anos e mora nos Estados Unidos. É formado em Economia, Relações Internacionais e Estudos Latino-americanos pela Universidade da Pensilvânia. Chegou à terra do Tio Sam com 15 anos de idade, com bolsa de estudos pelo esporte. Virou ídolo do mais tradicional time do futebol americano universitário, o Penn State, onde jogava como kicker (o cara que chuta a bola oval para que ela passe por aquela trave diferentona). Fez fortuna no mercado financeiro e, da mesma forma que Marçal, virou coach. Em 2013, ainda com 21 anos de idade, foi personagem de reportagem do Esporte Espetacular da TV Globo e disse que queria se tornar presidente do Brasil.

A treta

Os anos se passaram, Raiam parece que desistiu do sonho, mas virou concorrente de Pablo Marçal na venda de cursos de prosperidade na internet. A desavença começou em 2021, quando Raiam afirmou que os alunos dele ficavam ricos, enquanto quem fazia os cursos de Marçal só enriquecia o coach rival. Marçal reagiu nas redes sociais e, depois, Raiam passou a expor os problemas que Marçal enfrentou na justiça quando jovem. Agora, Raiam tem dito a amigos que vai voltar todas as suas energias para atrapalhar os planos de Pablo Marçal. No mundo político, pouca gente sabia desse grande babado da internet. Agora sabe.

Contato: [email protected]

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