Diário de São Paulo
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Sentidos Olímpicos: da falta de banho ao perfume, como o olfato tem influência no esporte

Alguns aromas são tão marcantes que até parecem acompanhar o que vemos. Nosso olfato é tão preciso, tão especial, que até criamos memorias a partir dele, como

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Redação Publicado em 09/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h26


No 4º episodio da série olímpica do Jornal da Globo, atletas da luta olímpica, do levantamento de peso, da vela e do atletismo contam como os cheiros têm importância nas competições

Alguns aromas são tão marcantes que até parecem acompanhar o que vemos. Nosso olfato é tão preciso, tão especial, que até criamos memorias a partir dele, como aquela comida de vó, sabe? Pois essa sensibilidade aos odores aparece também no universo olímpico, porque os atletas perceberam que, através do cheiro, também podem intimidar um rival. É algo que ocorre muito na luta olímpica. Tem gente que evita os banhos antes de competir.

– Às vezes, a gente faz eliminatória de manhã, para duas horas, vai para as finais de tarde, e aí se fala assim: não vou tirar a essência do guerreiro, não vou tomar banho, a intenção diretamente pode não ser o cheiro a atrapalhar, mas pode acontecer. Já vi muito isso – revela Aline Silva, atleta olímpica da luta.

Sim, a ideia é essa mesmo: chegar fedido para o combate. E não por acaso. Quando nosso corpo começa a esquentar demais, o cérebro envia um sinal para mais de 3 milhões de glândulas começarem a produção do suor. E ele, em si, não tem cheiro. Só que algumas bactérias presentes na nossa pele se alimentam desse suor. As excreções dessas bactérias é que causamo cheiro ruim embaixo dos braços. E, dependendo da situação, isso pode incomodar demais.

– Era a minha primeira luta, eu saí com um cheiro de “cc” que não desgrudava do meu corpo por nada. E aí bate o desespero: você está numa competição, tem que fazer mais um monte de luta e aquele cheiro não sai de ti. Isso jé me aconteceu – lembra Aline.

Fernando Reis levantamento de peso Jogos Pan-Americanos Lima 2019 — Foto: Guadalupe Pardo/Reuters

Em alguns esportes, os atletas estão em contato com a natureza. E, por consequência, com os estragos que o ser-humano causa. Veja o caso da última Olimpíada: a combinação do calor carioca com a poluição na baía de Guanabara criou uma situação difícil para os velejadores.

– No Rio de Janeiro, no verão, quando tá aquele calor infernal, óbvio, sempre está poluído, mas aí, realmente, com o calor, forma aquelas algas, matéria orgânica, lixo – recorda Kahena Kunze, da vela.

– O esgoto que é lançado na baía gera uma proliferação de algas e fica um cheiro absurdo com o calor – completa Martine.

Ao menos Martine a Kahena saíram das águas com a medalha de ouro, para guardar lembranças mais agradáveis dos Jogos do Rio.

Martine Grael Kahena Kunze ouro rio 2016 — Foto: Benoit Tessier / Reuters

Martine Grael Kahena Kunze ouro rio 2016 — Foto: Benoit Tessier / Reuters

Tem outro cheiro comum nas Olimpíadas. Mas esse é do tipo que auxilia os atletas. No levantamento de peso, antes de entrar em ação, os competidores costumam inalar compostos a base de amônia, que liberam um gás de odor marcante, capaz de ativar algumas terminações nervosas das vias aéreas.

– A amônia ajuda a acordar, é meio como um despertador. Quando vc tá indo para uma carga muito forte, eu tenho costume de usar antes dos treinos mais fortes, antes de tentar levantar o peso, você cheira a amônia, e ela ajuda a acordar, você toma um choque – afirma Fernando Reis, do levantamento de peso.

Aline Silva, da luta olímpica — Foto: Toru Hanai/Reuters

Aline Silva, da luta olímpica — Foto: Toru Hanai/Reuters

Como não existe nenhuma comprovação de que proporcione benefícios para o desempenho, a amônia não é considerada doping. Utiliza quem quer. Também é permitido usar perfume na hora de competir. E aí você vai perguntar: mas para que entrar em ação todo perfumado?

Bom, isso já ajudou o Brasil a ganhar medalha. Olimpíadas de Sydney 2000. Final do revezamento 4×100 metros no atletismo. O Brasil vinha brigando entre os três primeiros. Na última das etapas, André Domingos teria que passar o bastão para Claudinei Quirino.

– Eu não escutava o André, só escutava a torcida. Aquele barulhão, barulhão. E eu falei: nossa, eu não posso errar agora- lembra Claudinei.

Ele não errou. Nem ouviu o André. Mas reconheceu a chegada dele porque usou o olfato.

– Tem um perfume que ele usa, sempre cheiroso. Aí estiquei a mão e o André colocou o bastão. O cheiro dele era muito gostoso, e quem conhece ele sabe. E naquela hora lá, sem querer, eu usei um desses sentidos aí, que me ajudou muito – conclui Claudinei.

Vicente Lenílsin, Edson Luciano, André Domingos e Claudinei Quirino no pódio em Sydney 2000 — Foto: J. F. DIORIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Vicente Lenílsin, Edson Luciano, André Domingos e Claudinei Quirino no pódio em Sydney 2000 — Foto: J. F. DIORIO/ESTADÃO CONTEÚDO

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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