Diário de São Paulo
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Admirador de Senna, fã de bossa nova e pai carinhoso: quem é Abel Ferreira longe do Palmeiras

O Abel Ferreira treinador você certamente já conhece. Aquele obcecado por trabalho, que levou o Palmeiras aos títulos da Copa do Brasil e da Libertadores em

Abel
Abel

Redação Publicado em 17/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h25


Em entrevista exclusiva ao ge, treinador do Verdão abre o jogo sobre vários assuntos e fala sobre seu lado pessoal, com a paixão por automobilismo, dá dicas de filmes, séries, livros e mais

O Abel Ferreira treinador você certamente já conhece. Aquele obcecado por trabalho, que levou o Palmeiras aos títulos da Copa do Brasil e da Libertadores em poucos meses de clube e se tornou ídolo dos torcedores.

Mas nessa entrevista você vai conhecer (e se surpreender com) um outro lado do técnico palmeirense que poucas pessoas sabem como é. Abel Ferreira atendeu a reportagem do ge durante suas férias em Portugal para um bate-papo virtual sobre tudo, menos futebolAssista também em vídeo e ouça o podcast.

Dá pra imaginar, por exemplo, que o treinador de personalidade séria já foi fã de Mamonas Assassinas no passado? A relação com a música brasileira, aliás, é antiga. E um tanto quanto eclética. Do axé baiano, passando bela bossa nova, até chegar a Roberto Carlos, todos fizeram ou fazem parte da vida do português.

A proximidade que vem de muitos anos com o Brasil não fica só na música. Ele também contou sobre a paixão pelo automobilismo e a grande admiração por Ayrton Senna. Hoje, está encantado pela culinária do país: tapioca, água de coco e muito mais!

Abel Ferreira durante treinamento do Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Abel Ferreira durante treinamento do Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Descontraído, Abel Ferreira também deu dicas de filmes, séries e livros, contou como um jogo de computador o ajuda até hoje na carreira de técnico, mostrou o lado de pai e marido carinhoso, mas de cozinheiro sem talento, entre vários outros assuntos.

Confira abaixo a entrevista na íntegra e conheça um pouco mais quem é Abel Ferreira fora do futebol:

ge: Como tem sido o período de férias aí em Portugal? Quanto de saudade você estava de ficar ao lado da sua família?

Abel Ferreira: – Era muita, não posso negar. É verdade que a tecnologia que hoje temos, como fazemos essa entrevista, nos aproxima, mas sou uma pessoa de contato, gosto de sentir o contato, de abraçar, gosto de beijar, então obviamente que a oportunidade de estar aqui é tentar minimizar o tempo perdido. O tempo nunca vai para trás, não se pode comprar, mas tenho feito de forma bastante simples, desde apreciar um café da manhã, um almoço nós quatro, dar uma caminhada pelo espaço verde, como vocês dizem aí. Conversamos, colocamos a conversa, falamos de tudo, do Palmeiras, da vida, dos meus filhos, dos nosso projetos individuais.

– Vou chegar mais gordinho aí, como muito pão, e aqui como muito. Gosto também de ver um bom vinho maduro português, que é muito bom, e acompanhando é muito melhor. Faço as coisas simples da vida, como qualquer pessoa normal, não faço coisas diferentes. Tenho uma visibilidade diferente, mas minha vida é bem simples e tranquila, não preciso de muito para ser feliz.

E você já teve uma conversa com ela para tentar trazer sua família para o Brasil?

– Eu vou ser sincero, quando diz a verdade é a melhor coisa que existe. Na altura quando troco de clube, vê para onde vai, os riscos que corre, sabem que nossa profissão não é estável. Eu tenho uma filha de nove anos (Mariana) e outra de 13 (Maria Inês), que já estão na escola. Para trocar toda essa logística, o impacto emocional que vai ter nas minhas filhas, é duro, é duro. Falo com outros amigos que fizeram. E é sempre para os dois lados. Quando aconteceu isso na primeira vez, a decisão foi de eu vou e elas ficam.

– Também agora está a estragar um bocadinho de tudo, não só isso da pandemia, acabaram os voos diretos a São Paulo… Esse é um obstáculo que cria a todos nós constrangimentos grandes. Mesmo nós, em casa, temos que ter o dobro de cuidado agora. Nossos pais, nós podemos matar nossos pais, esse é o termo que pode ser dito. Não há outra forma de esconder a verdade, há o risco de visitar meus pais e eu contaminá-los. Esse para mim foi o maior adversário, minha família não estar presente naquilo que é a vida diária.

– Falamos sobre isso de elas irem ou não. Aí cabe meu poder de persuasão que tenho. Neste contexto, neste momento, calculamos que é um risco muito grande. No Brasil estamos a atingir o pior momento. Aqui na Europa já estamos abaixando, estamos saindo do confinamento, os restaurantes reabrindo, mas mesmo assim com cuidado. Seria para todos nós, não só para mim, se isso não tivesse existido, o contexto, se calhar é por isso que falo muito da família. Todos nós estamos tentando lutar contra esse adversário, ainda não conseguimos manda-lo embora, é difícil para todos. Quando falo e lembro das conquistas eu me lembro da minha família porque é o que você abdica para atingir algo, deixas para trás. Por um lado, valeu a pena, mas por outro é tão dura a dor. É emocional. Estamos falando da minha vida. Está difícil por estar longe, mas também por culpa do que está acontecendo.

Abel Ferreira durante sessão de fotos no Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Abel Ferreira durante sessão de fotos no Palmeiras — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Todo mundo conhece o Abel Ferreira treinador. Mas como é o Abel em casa, com a sua esposa e com as suas filhas?

– Eu tenho 42 anos, estou com minha esposa desde os 18 anos. É muito (risos). Ela é uma das minhas conselheiras, posso compartilhar isso com vocês. Às vezes tenho dúvidas e escuto ela. Gosto de dar ouvido. É uma companheira desde o tempo de jogador, de treinador, e as mulheres têm uma sensibilidade diferente. Às vezes ela ajuda a ver prismas diferentes. Compartilho minhas dores com meus companheiros, gosto de ouvi-los, mas as mulheres têm uma sensibilidade diferente. Nós, que estamos juntos há muito tempo, me entende no olhar, sabe quando estou nervoso, então com ela há essa cumplicidade muito grande. Estou muito feliz em voltar para ela, tocá-la, estar com minhas filhas. Acho que minha filha mais nova viu uns três jogos do pai. Nenhuma delas entende de futebol, sabem o que é o gol (risos). Enquanto treinador, minha paixão fora do futebol são elas.

– Agora, tenho dois sobrinhos que são fanáticos, seguem tudo, perguntam porque tirei o Veiga, porque coloquei o Veiga, porque o Veiga não jogou mais tempo, porque tirou o Luiz Adriano, porque tirou o Patrick? Porque não testou no meio? (risos). Eu tenho aqui quase dois filhos, que são meus sobrinhos, meus parceiros de futebol. Mas o futebol é zero para as minhas filhas, não falo nada disso com elas. Só ficam felizes que o pai ganhou. A mais nova fala que o trabalho do pai nunca acaba, já trabalhou no PAOK, agora está no Palmeiras, não estou entendendo. A mais nova ainda não entende muito bem o futebol, não explico nada, mas é muito bom estar com elas. A mais velha está em um período de 13, 14 anos, a mais nova é abraços, carinhos, beijinhos, acorda contigo e vai abraçar. Quem é pai sabe, ganhar um abraço verdadeiro. É muito simples ser feliz se pensarmos no significado da vida, e com ela aí na porta, se pararmos pra pensar, a gente é feliz e às vezes não sabe.

Falando um pouco sobre sua vida no Brasil, você se mudou durante a pandemia. Como é pra você morar em um país sem poder vivê-lo de verdade? Quais são as primeiras coisas que gostaria de conhecer?

– Duas coisas eu gostaria de conhecer, o circuito de Interlagos e o Parque Ibirapuera. Eram as duas coisas que tenho mais curiosidade em conhecer. Já fui na grande Avenida Paulista, já fui de dia, de noite. Só passei com o carro, não saí, é fantástico. Com o tempo, ainda mais com o calendário que não deixa passear muito, que aí prefiro descansar quando tenho tempo. Conheço meu ritmo, tenho mesmo que descansar. Tenho dificuldades de dormir depois do jogo, se ganha ou não. Tenho a necessidade de recuperar no outro dia. Se der folga, caso de descanso, preciso descansar, fico à vontade. Gosto de não fazer nada. Esse é o termo.

– E a forma que eu tenho e tive, de uma forma muito simples de conhecer o Brasil, foi através das séries que têm na Netflix. Você tem como o que mostra que o Lula foi destituído, que é uma jornalista que faz (Democracia em Vertigem). Dá para entender como a política e o país funcionam. Eu acho que o Pelé é um belo exemplo de como funciona o futebol brasileiro, esse último filme que saiu sobre ele. E têm vários filmes que você consegue conhecer um pouquinho da cultura do Brasil.

– No meu primeiro ano de profissional eu adorava ouvir música brasileira, Banda Eva, Banda Beijo, Mamonas Assassinas, na época em que tiveram o acidente de avião, Caetano Veloso, que ainda hoje a bossa nova é fabulosa, Roberto Carlos… “pelas baleias que cruzavam os oceanos…” não é Roberto Carlos essa música? Eu ouvia muita música brasileira ali nos meus 18 anos. A cultura brasileira é uma mescla de etnias, de povos. A própria escravatura, como vem a história. A riqueza do próprio país, não precisa depender de ninguém, Deus abençoou o Brasil com quase tudo. Foi a forma que tive de conhecer o Brasil. Depois outra coisa, que não é segredo para ninguém, que é uma das minhas referências, não posso dizer ídolo, mais referência, que é o Ayrton Senna. Ele não era palmeirense. Não sei o time que torcia.

Abel Ferreira faz analogia do trabalho no Palmeiras com "Garota de Ipanema"

Abel Ferreira faz analogia do trabalho no Palmeiras com “Garota de Ipanema”

Ele era corintiano…

– Eiiiita (risos). Mas para mim está perdoado. É alguém que passou a ser uma inspiração não só para mim, mas para todos os brasileiros. Lembro de uma época brutal na políticas, mas ele era a única alegria que o brasileiro tinha no meio de tanto sofrimento, um exemplo. Para nós, europeus, um país irmão, víamos Alain Prost e Ayrton Senna, ainda hoje adoro essas frases marcantes, as séries, tem um documentário fabuloso dele. Foi uma forma de visitar e conhecer profundamente o país que é o Brasil.

O automobilismo é uma de suas paixões?

– Gosto de tudo que é esporte motorizado. É uma forma que eu encontrei da minha atenção não ir para o futebol, de estar desligado. Se eu estiver vendo corrida, motor, Fórmula 1, Moto GP, kart… Eu tinha um kart até pouco tempo. É uma forma de se desligar. Gosto do cheiro da gasolina, gosto do poder de aceleração dos carros. Gosto de ver o risco que eles têm, a velocidade que ultrapassam na Moto GP é algo extraordinário. Eu gosto, é algo que me fascina, que me distrai. Se eu tivesse tempo, era um hobby que gostaria de fazer de forma regular.

Uma coisa que a gente conhece muito aqui no Brasil é a culinária de Portugal. O que você mais gosta nisso? Tem seu lado cozinheiro também?

– Tenho, mas é fraco (risos). Tenho, mas tenho que reconhecer que é fraco. Dá para… Não, é fraco, não posso comparar com minha esposa. Infelizmente posso dizer que tive um mês na Grécia confinado, só saia para comprar comida e voltar para cara para fazer um arroz de ervilhas com cenoura, um peixe fácil de fazer, peixe aberto com sal, ervas no forno… É preciso fazer um bom peixe, adoro um peixe grelhado, uma batatinha ao lado. Não custa nada cortar uma batata, regar com um pouco de azeite, ervas. O bacalhau está ao nível da picanha do Brasil, aqui é bom, mas a daí…

Abel Ferreira com jogo de dardos ao fundo — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Abel Ferreira com jogo de dardos ao fundo — Foto: Cesar Greco\Palmeiras

Então o que você mais gostou da culinária brasileira?

– Vocês têm um café da manhã maravilhoso. Suco de tudo, caju, manga, goiaba, é suco de tudo. Tem uma coisa que gosto muito que é o que se toma no almoço, que pode ser salgada, doce… tapioca! É maravilhosa, gosto da doce e da salgada, gosto muito da de banana com mel. Feijão é maravilhoso, gosto muito do feijão de vocês. Fazem saladas gostosas, são muito, muito boas. O peixe eu acho que somos melhores, mas vocês na carne são muito bons. A forma que vocês usam o queijo, tinha aperitivos que nunca tinha comido, como a isca de frango, um arroz mais malandrinho, mais molhado, um feijão com esse arroz gosto muito. O nosso vinho é melhor, desculpem, não fiquem chateados. Mas em compensação o suco de vocês, além da água de coco. Para vocês é algo banal, mas para mim é uma delícia tomar uma água de coco gelada.

Há pouco você nos disse que vê muitos filmes, séries, e lê muito também quando está de folga. Quais as dicas que você pode dar? Aqueles filmes, séries e livros imperdíveis…

– Eu adorei ver o filme do Pelé, do Ayrton Senna, não sei se é filme ou série, sei que é do Senna. Adorei ver o Tony Parker, que é uma série… Gosto de tudo que tem a ver com esportes. “The Last Dance”, que é a série do Michael Jordan, extraordinário. Eu vi a série “All or Nothing”, do Tite, da Seleção campeã da América, vi do Manchester City, do Tottenham, com o Mourinho, do Dortmund… Adoro ver o David Letterman, faz entrevistas com figuras que tenham influência na classe social, Barack Obama, Michelle Obama, George Clooney… Adoro ver esses tipos de documentários. Tem o da Formula 1, saiu agora há pouco um da Moto GP.

– Através desses pequenos documentários você faz associações com o esporte. Sobre livros, tem o do Guardiola, o Confidencial, que vai um jornalista o ano inteiro com ele no Bayern. “A Vida é um Jogo de Xadrez”, de Garry Kasparov, fala de estratégia, de como dominar o adversário. Eu gosto de ler coisas soltas. Vai no meu Facebook, tem posts do Daniel Pink, um psicólogo, gosto de ler sobre a inteligência emocional, como funciona nossa cabeça. Tem o livro do Mourinho, que acaba sendo a grande referência dos treinadores portugueses. Livros, para ser sincero, já não leio faz algum tempo.

– Olha como ficam meus livros, faço muitas anotações. Acho esse espetacular (Guardiola), o do Kasparov me encanta, parece que vicia. Desde quando cheguei ao Brasil, com jogos de dois em dois dias, o que gosto de fazer na véspera de jogar à tarde gosto de ver documentário, um episódio, até mesmo vejo algo repetido. São séries que me inspiram, como falei, como a do “All or Nothing” do Tite, depois que o Neymar foi embora, vejo o trabalho que foi feito em uma seleção, o trabalho de um treinador. É a forma que tem de evoluir é upgrade, não só na nossa vida, mas em restaurantes, em negócios. Muito daquilo que você vai lendo, você vai usando, o que vê em um discurso, uma palestra, acabo lembrando das coisas que li.

Abel Ferreira dá dicas de filmes, livros e séries

Abel Ferreira dá dicas de filmes, livros e séries

E qual vai ser o nome do livro do Abel Ferreira?

– Primeiro Grande Premium. É uma analogia com a taça da Libertadores: prêmio, premium. Futebol, carros, taça. Vamos ver se sai, se vai sair. Não sei. É uma ideia.

Dentre essas coisas que você gosta, sei que uma que te ajudou muito na carreira de técnico foi o jogo Football Manager. Qual a sua relação com esse jogo e a importância dele para seu trabalho?

– Posso dizer que utilizo esse jogo ainda hoje para ver características de jogadores que o Palmeiras me propõe. Acho um jogo completo. Vejo jogadores para o Palmeiras, a fotografia, ver como o jogo descreve no mental, na técnica e no físico. Não sei quem trabalha para esse jogo, mas o nível de conhecimento e informação, nível estatístico que esse jogo tem, é muito, muito real. Portanto é uma das fontes de onde tiro informação, não é o único, mas é um dos lugares que eu tiro informação. É incrível. Não perco tempo a jogar, utilizo para tirar informações de estatísticas e para conhecer, é rápido para ter a informação, mas não tenho tempo mais para jogar. Joguei em um determinado tempo da minha vida, quando era jogador, nos meus primeiros anos, não gostava de treinar equipes “top”. Todos meus colegas eram campeões, ganhavam, mas na realidade não é assim. Posso ser campeão ao meu nível, treinar o Penafiel e não cair de divisão, fui campeão, atingi o meu objetivo.

– O objetivo do Palmeiras é ser campeão, e atingimos. O Guto Ferreira, se o objetivo é ficar entre os dez, à maneira dele, ele foi campeão. Uma equipe que estava para cair, e ela não caiu e conseguiu ficar na elite, foi o título deles. Era assim que eu via esse jogo, treinava muito o Penafiel. Subia de divisão, das equipes mais antigas da segunda liga da história, ficar no meio da tabela para tentar subir, não consegui muitas vezes, confesso, mas era uma forma de passar o tempo (risos). Dizer para as pessoas que jogam o FM, há uma “pequena diferença” entre o jogo e a realidade: a pele e osso. A pele e o osso. É tudo muito parecido, pois você consegue fazer os treinos, você consegue escalar o time, consegue fazer as substituições, muda a tática, e os jogadores ainda reclamam. Tem um jogador que fica insatisfeito porque você vendeu o amigo. O capitão da equipe fica insatisfeito porque você vendeu o centroavante. É diferente a realidade. Vou ver se consigo descrever em uma frase: quem acha que de futebol só sabe, nada de futebol sabe. Quem pensa que só pensar em futebol chega, nada sabe sobre futebol.

Abel Ferreira analisa o jogo "Football Manager"

Abel Ferreira analisa o jogo “Football Manager”

Essa “pequena diferença” que você diz é a parte humana, né…

– Futebol é jogado por homens. Quem chuta a bola são os homens, que passam. Tem que juntar as duas coisas. É quase uma equação: juntar parte humana, se está feliz, se separou da mulher, se vive momento difícil ou não, se está em final de contrato, se o empresário está chateado todos os dias. Depois vem a parte técnica, a tática, fisicamente. A equação é igual ao rendimento do jogador, às vezes consegue perceber que em uma temporada o jogador rende 5, depois rende 3, depois rende 4, há variantes que não estão no patamar que precisam estar para que o fator rendimento seja aquilo que queremos, eu treinador, os torcedores.

Pode falar um pouco da sua relação com o torcedor? Houve um tempo que existia até a Turma do Amendoim e hoje tem até torcedor fazendo tatuagem sua na pele…

– A única coisa que posso prometer a eles e aos meus jogadores, porque somos humanos e erramos, o torcedor quando vai para o trabalho dele tem que fazer cinco relatórios e só fez quatro, por exemplo, sentimos isso. Temos que aceitar a frustração e a alegria, o xingamento e o apoio. Temos que aceitar isso. Na Libertadores, se calhar eram familiares dos jogadores, gritando “bota o Willian, bota o Willian”. Talvez o Willian pudesse entrar ou tivesse que entrar, mas minha função é essa. Em termos de palmeirenses são 16 milhões, vamos arredondar para 20 milhões de torcedores, imagine cada um escalando a sua equipe. Seriam 20 milhões de equipes diferentes. Uns quatro, cinco ou seis em consenso, um quer um, outro quer outro. O treinador é alguém que reúna o consenso, uma vez cheguei a um plantel, e vocês chegam a um acordo e é a equipe que joga. Eles disseram: “professor, não temos”. Vocês sabem então qual é a minha função, é ter que escolher, pensar. Cornetar quando tiver que cornetar, e aplaudir quando tem que aplaudir.

– Nós, neste trabalho, queremos que nossos torcedores acreditem que eu e minha equipe técnica temos comprometimento e envolvimento total e absoluto para podermos proporcionar alegria. Mentira se disser que vamos ganhar sempre. Temos que todos ter essa consciência. Nem o Klopp ganhou sempre, nem o Guardiola, nem o Scolari, nem o Tite. Isso faz parte do futebol. Tem que ter responsabilidade e entendimento grande. Uma coisa pode ter certeza: não querem mais do que eu ou do que nós de vencer. É isso que queremos, é esse nosso trabalho. Há dias que correm bem, outros que não correm. No futebol é difícil ter essa capacidade que é um trabalho que queremos fazer da melhor maneira possível. Já acontece de estar naquele dia e não sai o gol, tem dia que tem três oportunidades e faz quatro gols, com um gol contra. Tem dias que podem ir bem.

Abel Ferreira fala sobre a relação com a torcida do Palmeiras

Abel Ferreira fala sobre a relação com a torcida do Palmeiras

Já que você é fã de bossa nova, da música brasileira, qual seria a trilha sonora dessa sua passagem pelo Palmeiras:

– Garota de Ipanema. Acho que um bocadinho do que fizemos como equipe, como grupo… “Olha que coisa mais linda”. Foi o que me saiu com a pergunta, não tinha pensado (risos). Não gosto de ouvir uma música em si, mas gosto muito de bossa nova. Samba é mais mexido, não é muito a minha praia. É cultural até fora do Brasil, a bossa nova às vezes fica em dúvida. Essa que me lembra. Associar a “menina”, a “mulher”, aos nossos títulos. Não sei a letra toda de cor, a coisa mais linda são os nossos títulos.

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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