Que o Santos ganhou tudo e mais um pouco no Maracanã, certamente você já ouviu falar. Não faltam imagens em preto e branco do Peixe, que enfrenta o Palmeiras,
Redação Publicado em 29/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h34
Que o Santos ganhou tudo e mais um pouco no Maracanã, certamente você já ouviu falar. Não faltam imagens em preto e branco do Peixe, que enfrenta o Palmeiras, no sábado, às 17h, pelo tetracampeonato da Libertadores, ao alcance de um jovem em poucos cliques no Youtube.
Mas há algo maior que liga o alvinegro praiano de Pelé ao antigo maior estádio do mundo. De tanto ir ao Rio de Janeiro, o Santos morou no Maracanã. Tudo bem, morar é força de expressão. Antes da final do Mundial contra o Milan, em 1963, o Peixe se alojou e ficou duas semanas no então estádio Municipal Mário Filho – entre as duas partidas realizadas contra o time italiano (4 a 2 e 1 a 0).
Para contar essa história pouco conhecida – e que ajuda a explicar a relação impagável dos cariocas com o Santos – recorremos à memória de uns senhores que vão voltar a pisar no Maracanã neste sábado. Pepe, Lima, Mengálvio, Edu e Clodoaldo – que vai colocar os pés na Calçada da Fama do estádio antes do jogo.
Lima lembra de uma faixa que era estendida no Maracanã. Ela intitula essa reportagem e dizia: “Santos, o mais carioca de todos os paulistas”. Lá, o Peixe nunca se sentiu fora da água:
– Lembro bem porque ali no estádio também funcionava uma escola estadual. A gente ficava no Maracanã e não saía para nada, somente para treinar. Treinamos no campo do América, do Fluminense, do Vasco – recorda Lima, autor do terceiro gol na segunda partida da decisão contra o Milan.
– A gente usava o gramado só na véspera do jogo para reconhecimento do gramado.
Além da primeira partida da final da Libertadores de 1963 contra o Boca e do jogo de ida contra o Benfica no Mundial, o Peixe levantou taça no Maracanã na era Pelé em 1962, 1964, 1965 e 1968 (Brasileiros), 1963 e 1964 (Rio-São Paulo), além do Mundial em 1963. Nas estatísticas gerais, são 162 jogos no estádio, com 53 vitórias, 34 empates e 75 derrotas
Este setor do estádio foi desativado já nos anos 1970. Diretor de engenharia do Maracanã durante 45 anos, Fernando Pedroza tem histórias sensacionais do estádio e de seus artistas. A do maior de todos você vai conhecer um pouco mais embaixo.
– O alojamento ficava no quarto andar. Antigamente você pegava o elevador, aquele que ia para a tribuna, para o setor de imprensa, e no quarto andar era o hotel. Quando cheguei, em 1973, já estava desativado. Tinha virado sala administrativa da Suderj, almoxarifado, essas coisas – lembra Pedroza.
Lima lembra que os quartos tinham duas ou três camas, tinha TV, e as refeições eles faziam no segundo andar – numa configuração arquitetônica que, evidentemente, já não existe há tempos no Maracanã. O jornal “O Globo” contou, na edição de véspera da final com o Milan, que o cardápio daquele dia tinha frango com farofa.
– Todo carioca era santista na época. Era o time do Pelé! – conta o engenheiro.
O restaurante também já não existe há bastante tempo e servia no dia a dia aos funcionários que trabalhavam no complexo esportivo do estádio. Ídolos do futebol brasileiro, os santistas tinham paz num momento em que o assédio já era muito grande.
“Tomaram banho, trocaram de roupa, descansaram um pouco, comentaram a sensacional vitória, mostraram-se emocionados com as manifestações que a torcida carioca continuava a fazer – agora debaixo de suas janelas – e depois desceram, já por volta dos 30 minutos da madrugada de hoje, para cear no restaurante do estádio”.
Construído como símbolo da grandiosidade do país para a Copa de 1950, o Maracanã também era parte do orgulho carioca. O jornalista Felipe Santos, que escreveu dissertação sobre os efeitos sociais e participação do poder público no Maracanã para as Copas de 1950 e 2014 para mestrado em Sociologia Política pelo IUPERJ-UCAM do Rio, lembra que o estádio desbancava o Pacaembu, palco de alguns dos grandes jogos daquele Santos de Pelé.
Então capital federal, o Rio de Janeiro trouxe uma cultura da Copa de 1950, de receptividade, resultado de intensa campanha para aquele mundial traumático da derrota para o Uruguai.
– Existiu uma enorme propaganda de relações públicas para que a torcida se comportasse, digamos assim, de forma civilizada. Para apoiar, não vaiar, não atirar objetos no campo. Esse comportamento pegou naquela época. Se criou a cultura de que o Rio recebe melhor um time que vem de fora – analisa o jornalista.
A mudança para o Maracanã, claro, também tem a ver com a capacidade do estádio. Antes da série de reformas, cabia muito mais do que o dobro das 40 mil pessoas do Pacaembu – veja mais acima que o Peixe bateu recordes de arrecadação.
Receber o Santos era um cabo de guerra. O presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão, em 1962, queria levar o primeiro jogo para o Pacaembu, mas, segundo o “Última Hora”, os dirigentes santistas temiam torcida contra do “trio de ferro” São Paulo, Corinthians e Palmeiras. A primeira decisão terminou sendo no Maracanã (3 a 2 para o Santos).
Santistas recebiam apoio de vascaínos, tricolores, botafoguenses, rubro-negros, banguenses, americanos… Tinha até escola de samba dando ritmo no estádio. A casa santista deixava todo mundo à vontade. A ponto de o dirigente Modesto Roma, pai do antigo presidente santista Modesto Roma Junior, ser flagrado “imitando beduíno” debaixo de chuva no Maracanã.
“O carioca Santos venceu, realmente, como melhor equipe do futebol brasileiro e mundial”, destacava “O Globo” de novembro de 1963, no dia seguinte à épica virada sobre o Milan (4 a 2). Entre o segundo e o terceiro jogo contra o campeão europeu, os jogadores aproveitaram a estadia no Maracanã para assistir ao “clássico dos milhões”, com vitória do Flamengo sobre o Vasco por 4 a 3.
Gerente de marketing do Santos, Marcelo Frazão trabalhou por dois anos na concessionária que administrava o Maracanã, em 2014 e 2015, e lembra bem: a torcida do Peixe era muito presente no tour de turistas pelo estádio. Entre as principais atrações estão as marcas do eterno camisa 10 santista.
– Tem a rede, a camisa e a bola do gol mil do Pelé. O Maracanã tem uma história forte com vários times de fora do Rio, mas acho que a mais relevante fora dos cariocas é a do Santos. Tinha algo curioso, que era a quantidade de torcedores que iam ao Tour do estádio. Tínhamos um controle de quem mais visitava, e a torcida do Santos era super relevante. Tem uma parte da história do clube lá – conta Frazão, que está no Santos desde 2018.
Vendido em 2019 para empresa que abriga estudantes de todo o Brasil, o hotel Novo Mundo era a casa “titular” do Santos quando jogava no Rio de Janeiro. Construído para a o Mundial do Brasil de 1950, era o local que recebia governantes brasileiros – de Juscelino Kubistchek a Jânio Quadros, que quando era ministro de Getúlio Vargas frequentava o bar do Novo Mundo – a artistas – Cauby Peixoto, que morou por anos ali, fazia shows de improviso para a delegação santista. E também tinha um hóspede ilustre, sempre: o Rei. Aliás, foi ali parte da festa depois do título mundial na Suécia.
O Novo Mundo fez uma placa que lembrava do milésimo gol de Pelé, marcado contra o Vasco no Maracanã, em 1969. O quadro está no acervo pessoal dos antigos proprietários. Na época áurea do Peixe, Pelé ganhou título de hóspede vitalício do Novo Mundo.
– A gente saía do almoço e dizia que ia “tirar fora o litro”, porque bebíamos muito líquido na refeição. Então íamos passear naquele parque em frente (Aterro do Flamengo). Mas não podia caminhar muito porque senão ia ter que comer de novo quando voltasse – brincou Lima.
– Eu sempre gostei de sair, dar uma volta para conhecer os lugares. E eu via aqueles campos de futebol no Aterro, eu ficava, quietinho, vendo a garotada jogar – conta Edu.
Nas memórias do Rei, reproduzidas pelo “Museu da Pelada”, Pelé, mais discreto, preferiu só acompanhar as peladas do quarto do seu hotel. Contou à época ao “Jornal dos Sports”, que promoveu torneio de futebol no Aterro do Flamengo.
Pelé frequentava Copacabana e outros cantos da cidade, cumprindo agenda de autoridade mesmo depois de parar de jogar. Numa dessas, Pedroza, o antigo engenheiro do Maracanã, foi seu parceiro para driblar a marcação cerrada no Rio e dar uma volta.
Pelé se sentia tão em casa no estádio que uma usou um telefone fixo para ligar para uma namorada – no caso, a rainha Xuxa. Entrou na sala de Pedroza, nas dependências da Suderj, e avisou à namorada que já estava saindo do estádio para encontrá-la.
Mas não era simples sair do Maracanã naquele dia, no meio da final da Libertadores de 1981 entre Flamengo e Cobreloa. A solução? Carona no Fusca do engenheiro.
– Nesse dia ele foi para aquele edifício Chopin, uma cobertura que um amigo dele tinha. Como tinha muita gente, saímos um pouco disfarçados, ele foi atrás de mim, entrou no meu Fuscão e fomos. Nesse dia, ele subiu, pediu para eu esperar e voltou com um relógio para me dar de presente – conta Pedroza.
Dois anos depois, Pelé voltou ao Maracanã para gravar filme dos Trapalhões, dirigido por Carlos Manga. Pedroza aproveitou para tirar uma foto, desta vez.
.
.
.
Fonte: GE – Globo Esporte.
Leia também
Peça teatral com Tony Ramos tem sessões canceladas em SP
Inundações na Itália mostram que mortes no Rio Grande do Sul poderiam ter sido evitadas
ONLYFANS - 7 famosas que entraram na rede de conteúdo adulto para ganhar dinheiro!
CENAS FORTES - Policial descobre traição e mata amante e esposa a tiros
POLÊMICA! Charles Leclerc, astro da Fórmula 1, termina namoro de anos com famosa
Zolpidem: como o aumento das regras pode influenciar no uso do medicamento
Peça teatral com Tony Ramos tem sessões canceladas em SP
Projeto de moradias provisórias está sendo desenvolvido pelo Governo do RS
Vendas de pacotes de arroz estão sendo limitadas por todo o país
Homem é preso em Santo André por envolvimento em golpe das doações para vítimas das enchentes no RS