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Dia Nacional do Livro Infantil: confira 7 dicas de como estimular a leitura nas crianças

O Diário de S. Paulo conversou com personalidades da área para traçar os principais benefícios para os pequenos

O Diário de S. Paulo conversou com personalidades da área para traçar os principais benefícios para os pequenos - Imagem: reprodução Freepik
O Diário de S. Paulo conversou com personalidades da área para traçar os principais benefícios para os pequenos - Imagem: reprodução Freepik

Vitória Tedeschi Publicado em 18/04/2023, às 16h00


Todos os anos, no dia 18 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil, e não é por acaso. A data foi escolhida porque, nesse dia, em 1882, nasceu o escritor Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira, autor de clássicos como 'Sítio do Pica-Pau Amarelo', 'O Saci', 'Fábulas de Narizinho', 'Caçadas de Hans Staden' e 'Viagem ao Céu'.

Esse dia foi criado e oficializado pela Lei nº 10.402, em 8 de janeiro de 2002: "Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional do Livro Infantil, a ser comemorado, anualmente, no dia 18 de abril, data natalícia do escritor Monteiro Lobato", em que foi oficializada a homenagem ao autor pioneiro.

Além de Monteiro Lobato, outros escritores que contribuíram para a divulgação da literatura infanto-juvenil no país merecem ser mencionados: Ana Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Lygia Bojunga, Ziraldo, Maria Machado, Tatiana Belinky, etc.

Esse também é um momento importante em que podemos aproveitar para discutir e entender a importância da literatura na vida das crianças - com reflexo na vida dos adultos -, compartilhar dicas de como incentivar essa leitura, e também de ouvir autores brasileiros que fazem parte desse movimento tão importante.

Vanessa Zito, pedagoga e psicopedagoga pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, é uma das profissionais que defende o contato das crianças desde a primeira infância - fase dos 0 aos 6 anos - com os livros, por seus inúmeros benefícios já comprovados cientificamente.

O contato com a leitura promove o desenvolvimento de inúmeras habilidades cognitivas: especialmente no que se refere ao desenvolvimento da linguagem, pensamento crítico, imaginação e criatividade, além das habilidades de base para a aprendizagem, atenção, memória e funções executivas", afirma Vanessa.

Além disso, a psicopedagoga clínica também defende que a leitura nesse momento da vida da criança também ajuda a fortalecer os laços afetivos entre pais e filhos e a criar momentos prazerosos de qualidade entre a família.

"Outro aspecto é referente ao desenvolvimento emocional: além de estimular a imaginação e a curiosidade, a leitura é uma ponte para a criança desenvolver habilidades emocionais, como a empatia e a capacidade de lidar com sentimentos, por meio do enredo dos textos narrativos", complementa Vanessa.

Para além dos benefícios defendidos por Vanessa, o autor e ilustrador de livros infantis como "Obrigado" e "O Colecionador de Chuvas", André Neves, conta que também enxerga nessa área da literatura uma oportunidade de despertar a inocência da infância que habita em todos os adultos.

Eu acho que a paixão por criar livros [infantis] vem desse universo da infância que está tão guardado em mim, como adulto, que eu quero despertar também nas outras pessoas, e nas crianças manter", diz André.
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As obras "Obrigado"(R$55, 54) e "O Colecionador de Chuvas"(32,85) estão disponíveis para a compra na Amazon e são indicados para para os anos iniciais do Ensino Fundamental 3º ano e 4º ano / Imagem: reprodução https://andreneves.com.br/

Para além das vantagens de se ter o hábito da leitura, tanto para as crianças quanto para os adultos, o autor que ganhou o "Prêmio Luíz Jardim - de melhor livro de imagem", em 2001, teve uma menção honrosa no "Prêmio Jabuti" e também no prêmio "O SUL - Correios e Telégrafos" de 2003, além do "Prêmio Açorianos - de melhor ilustração" em 2004, defende que o mais importante é despertar a sensibilidade que só as palavras e imagens dos livros são capazes.

"Eu penso sempre, em primeiro lugar, em despertar a sensibilidade. Eu acho que a sensibilidade que a arte provoca nos seres humanos os tornam pessoas melhores porque a sensibilidade é uma das formas mais incríveis de olhar para a vida, olhar para o outro e respeitar as pessoas", defende ele.

Mas os livros ainda têm espaço?

Em meio a uma suposta onda de fechamento de livrarias e boatos de que as pessoas não leem mais pois estão acostumadas com textos curtos das redes sociais a pergunta que não quer calar é: "Será que mesmo em tempos de uso de tantas telas, como tablets, celulares e televisão os livros ainda têm espaço na rotina das crianças?". André Neves acredita que sim.

Os livros terão sempre espaço em todos os leitores, nas crianças e nos adultos, sejam na sua forma física, na estrutura de papel, ou seja em outros suportes além das tecnologias e das várias formas de ler que ainda surgirão. O que vai existir vai ser a preferência das pessoas em se adaptar melhor a ler de uma forma ou de outra, mas uma coisa não vai desclassificar a outra, vai apenas mudar o sentido", afirma ele.

Vale citar ainda que de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, o número de crianças leitoras deu um salto de 2015 a 2019, período em que 48% disseram que leem porque gostam e não apenas por obrigação.

Apesar disso, é sempre importante que os pais participem desse momento e nunca deixem de incentivar o hábito, que é indispensável para o desenvolvimento dessas crianças. Ainda para Vanessa Zito, isso deve ser feito de forma estratégica e cuidadosa e por isso valem algumas orientações preciosas para pais, cuidadores e educadores.

Confira abaixo 7 dicas de como estimular a leitura nas crianças:

1.Comece cedo: leia para a criançada desde os primeiros meses de vida. O ato de ouvir o que está sendo narrado estimula o desenvolvimento de habilidades auditivas e atencionais;

2. Crie um ambiente acolhedor: determine um espaço aconchegante para a leitura, por exemplo, almofadas, tapetinhos, uma poltrona confortável, livros ao alcance da criança, iluminação adequada, com poucos distratores no entorno. Cuidados que contribuem com uma associação positiva frente ao momento de ler, escutar e compreender;

3. Leia em voz alta: a leitura em voz alta com entonações diferentes para cada personagem ajuda a tornar a história mais interessante e envolvente, além de orientar a criança quanto ao pensamento sequencial, pensando em espaço e tempo;

4.Interaja com a criança: faça perguntas sobre a história, peça que ela aponte elementos nas ilustrações e incentive sua imaginação. Mediações que contribuem com o desenvolvimento de habilidades para interpretação;

5. Diversifique os gêneros textuais: inclua poesia,contos de fadas, revistas infantis e gibis;

6. Leia com frequência: torne a leitura um hábito diário, mesmo que seja por alguns minutos do dia. Isso ajuda a criar uma rotina e incentivar o interesse pela leitura;

7. Seja referência: mostre que ler é importante, lendo para a criança e também lendo você mesmo, na presença dela.

Uma ressalva a Monteiro Lobato

Vale citar que, por mais que Monteiro Lobato (1882-1948) tenha recebido grandes homenagens como o Dia Nacional do Livro Infantil, e enorme fama, mesmo após a sua morte, quando a série Sítio do Picapau Amarelofoi adaptada para a televisão, muitas são as polêmicas envolvendo seu nome e sua escrita, que merecem ser mencionadas.

Isso porque, em várias de suas obras é possível observar o uso de expressões de cunho racista e preconceituosas. É o que observam especialistas como a historiadora e professora do Departamento de História da Unicamp, Lucilene Reginaldo em artigo para a Folha de S.Paulo.

"Tia Nastácia era sempre a 'bola da vez': ingênua, simplória, medrosa, serviçal e alvo de racismo e discriminações explícitas. Tudo em perfeita consonância com a hierarquia racial: na base da pirâmide, a mulher negra", explica ela.

No mesmo artigo, Lucilene ainda complementa que a personagem era "adjetivada como negra, preta, o tempo todo. Só ela tinha cor, apenas nela a cor se colava como uma marca indelével [o que não se pode apagar], mesmo que fosse 'a boa negra'. No trecho de "Reinações de Narizinho" é possível perceber a questão levantada pela historiadora: "Dona Carochinha botou-lhe a língua - uma língua muito magra e seca - e retirou-se furiosa da vida, a resmungar que nem uma negra beiçuda", narra Lobato.

As obras de Monteiro Lobato passaram a ser de domínio público, após 70 anos estarem sob os direitos autorais de seus descendentes. Este fato permite que as editoras publiquem os títulos adaptados ou na íntegra.

Assim, a mesma pesquisadora afirma que essas mudanças não alteram a obra do autor, que era "um homem do seu tempo", ou seja, vivia em uma época em que o racismo era visto com outros olhos e não como crime, como nos dias atuais.

"Sua obra não perderá a qualidade se tirarmos, aqui e ali, xingamentos acachapantes. Lobato era um homem do seu tempo. Usando uma expressão que já virou lugar-comum, surfava na onda das teorias científicas e do pensamento social dominantes na primeira metade do século 20", lembra Lucilene.

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