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Casal de lésbicas buscava na igreja pela 'cura gay' e acabaram se apaixonando

A história de Mariana e Adriana terminou em casamento

Casal de lésbicas buscava na igreja pela 'cura gay' e acabaram se apaixonando - Imagem: reprodução
Casal de lésbicas buscava na igreja pela 'cura gay' e acabaram se apaixonando - Imagem: reprodução

Jessica Anjos Publicado em 25/04/2023, às 22h52


A farmacêutica Mariana, de 44 anos, e a pedagoga Adriana, de 51 anos, começaram o relacionamento delas com uma amizade na igreja.

Em entrevista à Universa, as duas contaram que oravam juntas pela salvação do casamento de Mariana e a "cura" da filha dela, uma adolescente que tinha se assumido lésbica.

O que nenhuma das duas esperavam é que essa amizade acabaria em casamento, com as duas apaixonadas uma pela outra. Após descobrirem sobre o sentimento mútuo, Mariana e Adriana tiveram que lutar contra os próprios preconceitos e contrariar regras da igreja para oficializarem o relacionamento. Hoje, elas estão há oito anos juntas, seis deles casadas.

Mariana conta que se casou com um homem por quem era apaixonada desde os 17 anos, mas tinha dificuldades na relação conjugal. Eles brigavam bastante e ela diz que o ex-marido era muito ciumento. 

Após completarem 10 anos de casados, os dois começaram a frequentar uma igreja Batista na cidade de Fortaleza. No local, ela conta que sentiu uma pressão maior para seguir o padrão esperado pela religião para uma mulher.

Entendia que eu tinha de mudar, aceitar, porque ele era o homem. E assim foi se configurando essa segunda metade do casamento, com machismo e relacionamento abusivo. Fui deixando de gostar para me proteger, mas sofria porque não era tratada da forma como esperava por uma pessoa que amava", contou.

Mariana diz que começou a preencher o vazio do relacionamento conjugal com amizades dentro da igreja. A filha dela frequentava aulas bíblicas e a líder da classe um dia ligou para ela. Essa moça era Adriana, sua atual esposa. 

A adolescente estava enfrentando problemas emocionais, dessa forma Mariana e Adriana estreitaram o relacionamento para poder ajudar a jovem e se tornaram melhores amigas.

"No desenrolar das coisas, descobrimos que minha filha era lésbica. Ela estava namorando uma menina da igreja. Foi terrível, eu não admitia de jeito nenhum. Para mim, era totalmente absurdo", relembrou.

A Adriana também tinha irmãos homoafetivos e o sonho dela era que os irmãos se curassem. A gente achava, nos nossos devaneios, que Deus queria alguma coisa com a gente em relação a isso, que ele nos juntou para que a gente desenvolvesse um ministério para essas pessoas se curarem. Pensávamos que iriam para o inferno", confessou.

Mariana relembrou que foram três anos orando e lendo a Bíblia em busca de uma solução. "A gente se colocava em um pedestal, numa bolha, como se estivéssemos certas porque orávamos, fazíamos jejjum. Interpretávamos a homossexualidade como uma doença", explicou.

O término

Após muitas sessões de terapia e uma grande briga, o casamento de Mariana chegou ao fim. Com o término, a farmacêutica rompeu com a igreja.

Ela passou a namorar outros homens e sair com rapazes diferentes. "Baixei o Tinder, comecei a paquerar", contou. Nesse período a, então, amiga Adriana se afastou. 

"Ela se afastou de mim quando me separei, achei que ela não ficaria próxima porque eu tinha saído da igreja, estava saindo com homens e ela era tão da igreja... Sabia que nossa amizade tinha acabado", disse.

Adriana contou que os novos relacionamentos de Mariana estavam gerando ciúmes dentro dela. "Pensei: 'Estou com ciúme, e isso não é saudável porque não tenho ciúme das minhas amigas. Acho que sou aparixonada pela Mari'. Aquilo foi assustador, chorei dias e dias. Eu condenava algo que eu mesma sentia, que estava dentro de mim e era maior do que eu", relembrou.

Enquanto isso, Mariana também percebeu que o que sentia pela amiga ia além de amizade. "Não passava pela minha cabeça ter um relacionamento com uma mulher. A distância me fez entender que nosso sentimento não era só de amiga, mas pensava que era uma coisa que ela nunca assumiria, se fosse o que ela sentia", confessou Mariana.

Quem tomou a primeira iniciativa foi Adriana. Uma dia foi até a casa da amiga e se declarou. 

O relacionamento 

Elas resolveram contar aos poucos sobre o relacionamento para os amigos e parentes, incluindo a filha de Mariana que atualmente se relaciona com um homem.

Quando contei para ela, tive medo de não me perdoar porque fui muito cruel com ela. Não passei 10% do que ela passou. Ela era uma adolescente que dependia dos pais e só encontrou preconceito. Mas, desde a primeira conversa, ela se mostrou aberta. Depois, descobrimos que o processo de perdão era bem mais profundo", relembrou Mariana.

O casal não frequenta mais a igreja. Mariana diz à Universa que hoje se considera sem religião, mas acredita em Deus. O filho dela é de uma religião de matriz africana, o que não causa nenhum problema na família. "Antes, tinha muito preconceito com outras religiões".

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