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Inflação brasileira está "surpreendendo positivamente", afirma Campos Neto

Taxas de juros reais ainda são altas no Brasil, mas diminuíram em relação a outros países

Campos Neto. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Campos Neto. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil

Marina Roveda Publicado em 20/10/2023, às 07h35


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, proferiu um discurso na quarta-feira (18) em um evento do Credit Suisse no qual enfatizou o surpreendente desempenho da inflação no Brasil, destacando aspectos qualitativos. Segundo Campos Neto, a inflação corrente tem apresentado resultados positivos, e as métricas de núcleos também têm gerado surpresas positivas.

Uma das observações do presidente do Banco Central é que a inflação no Brasil tem se comportado de forma mais favorável do que a média global indicaria. Ele reiterou a importância de manter o centro da meta de inflação em 3% como um meio de reduzir as expectativas de IPCA a longo prazo. A estratégia visa garantir a estabilidade econômica no país.

Campos Neto também ressaltou a presença de taxas de juros reais elevadas no Brasil, embora tenha observado que a diferença em relação a outros países tenha diminuído ao longo dos anos. Além disso, ele destacou a necessidade de avançar na agenda de recuperação de crédito, observando que a recuperação judicial ainda é um desafio significativo no país.

A questão do crédito direcionado também foi mencionada pelo presidente do Banco Central. Ele destacou que o Brasil lidera em termos de crédito direcionado, uma característica que contribui para a manutenção das altas taxas de juros no país. Campos Neto enfatizou que essa observação não está relacionada a ações específicas do BNDES ou de outros bancos, mas sim a uma tendência geral que mantém as taxas de juros elevadas.

No âmbito internacional, Campos Neto abordou as discussões sobre a desinflação em várias reuniões globais. Ele observou que as questões sobre como a desinflação ocorrerá no futuro têm sido debatidas, inclusive nas últimas reuniões do FMI, no Marrocos. O presidente do BC salientou que em alguns países, a inflação parou de cair devido ao aumento dos preços de energia, levando a revisões nas projeções de inflação para 2024.

No contexto brasileiro, a decisão de manter o centro da meta de inflação em 3% foi destacada como uma estratégia eficaz para ancorar as expectativas. Campos Neto mencionou que os preços de alimentos continuam contribuindo para a desinflação no país.

Quanto à política monetária global, o presidente do Banco Central apontou a precificação da curva de juros dos EUA como um tópico central. Ele destacou que, atualmente, a precificação da curva americana é um dos principais fatores para determinar as taxas de juros locais em todo o mundo. No entanto, surgem incertezas quanto à possibilidade de o Federal Reserve dos EUA aumentar as taxas a partir de dezembro, bem como sobre a existência de um componente fiscal no aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.

Campos Neto enfatizou a importância da política fiscal e a necessidade de o Brasil continuar a ajustar suas políticas econômicas. Ele reconheceu as dificuldades em cortar gastos, mas argumentou que persistir no ajuste fiscal é crucial para a estabilidade econômica do país. Segundo o presidente do BC, a desinflação no Brasil apresenta variáveis mais favoráveis do que em economias desenvolvidas, o que é essencial para manter a qualidade das métricas econômicas no país.

Roberto Campos Neto também discutiu a possibilidade de a inflação global permanecer em patamares mais altos do que o observado anteriormente, apontando que o comprometimento das economias em levar a inflação à meta desejada será uma das principais determinantes desse cenário. Ele lembrou que a postergação da desinflação resulta em prazos mais longos de taxas de juros, o que pode criar restrições de liquidez.

No encerramento do discurso, o presidente do Banco Central observou as diferenças entre economias desenvolvidas e emergentes no que diz respeito à política monetária e reforçou a importância do Brasil cumprir seu "dever de casa" na política fiscal para manter a credibilidade e a estabilidade econômica no cenário global.

A presença de Roberto Campos Neto no evento do Credit Suisse proporcionou insights valiosos sobre a economia brasileira e suas perspectivas em meio a um cenário econômico global complexo.

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