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Queda do real

Desvalorização do real fica atrás apenas da Argentina e Uruguai; entenda

Em 2013, era possível comprar US$1 com aproximadamente R$2,30. Hoje, precisa desembolsar quase R$5

Em 2013, era possível comprar US$1 com aproximadamente R$2,30. Hoje, precisa desembolsar quase R$5 - Imagem: Reprodução/Pexels
Em 2013, era possível comprar US$1 com aproximadamente R$2,30. Hoje, precisa desembolsar quase R$5 - Imagem: Reprodução/Pexels

Ana Rodrigues Publicado em 14/09/2023, às 09h28


O real teve o terceiro pior desempenho em relação ao dólar nos últimos 10 anos, entre as moedas sul-americanas. Depois de um levantamento feito pela consultoria financeiro L4 Capital, a moeda nacional perde apenas para o peso argentino e o peso uruguaio. 

O peso argentino teve uma desvalorização de 98,37% de 2013 para cá, sendo um reflexo da grande crise econômica que o país enfrenta há anos. Na esteira da crise argentina e com problemas na própria inflação, o peso uruguaio teve uma queda de 70,24% no período. 

Já o real perdeu 54% de seu valor em relação ao dólar, o que significa que os turistas brasileiros e as empresas que dependem de contratos feitos com a base na moeda norte-americana sentiram o valor pago em suas transações mais que dobrar durante o período, segundo matéria do G1

Cabe a observação de que o movimento de valorização do dólar não é só demérito dos países sul americanos. Como os Estados Unidos, são a maior economia do mundo, os investidores acabam tendo mais segurança em relação aos seus retornos financeiros que terão, assim, os EUA acaba tendo uma movimentação de maior aplicação de recursos, o que acaba valorizando a moeda.

Nos últimos anos o Brasil foi fortemente marcado por dois grandes fatores: a crise de 2015-2016 e a pandemia de Covid-19. No primeiro caso, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu nos dois anos, confirmando a pior recessão da história do país. Em 2015, a economia recuou para 3,8%, e no ano seguinte teve nova retração de 3,6%. Essa sequência de dois anos seguidos de baixa, só foi visto anteriormente em 1930 e 1931, quando os recuos foram de 2,1% e 3,3% respectivamente. 

Isso prejudicou o real porque investidores não gostam de incertezas econômicas", afirma o sócio da L4 Capital. Com isso, houve um aumento pela demanda do dólar, já que os EUA são conhecidos como um país estável. Houve um forte movimento de vender real, o que reduziu o valor da moeda.

Já na pandemia, a influência na moeda brasileira se deu porque, o país decidiu abrir torneiras dos gastos públicos para tentar amenizar o impacto da crise econômica. Essa decisão também gerou dúvida nos investidores sobre quais seriam as possibilidades de o país conseguir arcar com seu patamar elevado de dívida e manter uma agenda de austeridade fiscal. 

Mais uma vez, a incerteza trouxe um movimento de migração dos investidores para países mais seguros. Tanto que o real perdeu cerca de 16,65% do seu valor frente ao dólar entre fevereiro de 2020 (quando começou a pandemia) e maio de 2023 (quando a OMSdeclarou fim de emergência em relação à Covid-19).

Em setembro de 2013, início do comparativo, era possível comprar US$1 com R$2,2836, hoje é preciso desembolsar quase R$5. Especialistas entrevistados pelo G1 dizem que há ainda outras razões que explicam a desvalorização da moeda brasileira nos últimos 10 anos e sua manutenção em patamares baixos, sendo elas: 

  • Juros norte-americanos: esse fator tem grande peso, por conta das migrações dos investidores para economias com maior previsibilidade. Trata-se da mesma dinâmica de preferir aplicações mais seguras e previsíveis, com o bônus de que os juros estão mais altos e vão render melhores retornos;
  • Déficit-fiscal: é quando o governo gasta mais do que arrecada. Pesa no valor real porque, o governo precisa emitir mais dinheiro para suprir os gastos, ampliando o saldo negativo. Nos dados mais recentes, as contas do governo federal registraram déficit primário de R$ 35,9 bilhões em julho; 
  • Dívida pública: o endividamento faz investidores enxergarem o Brasil com dificuldade de honrar com seus compromissos econômicos, e, assim, decidem também vender os reais para comprar câmbio de países mais seguros, derrubando o preço da moeda brasileira;
  • Instabilidade institucional: é justificado porque as mudanças políticas recentes - sejam as mudanças de direção na presidência, como as relações ruidosas entre os Poderes da República - onde trouxeram imprevisibilidade para a cena política e econômica.
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