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COLUNA

O problema do Partido Democrata é bem mais complexo que o desempenho de Biden no debate

Joe Biden. - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @AFPnews
Joe Biden. - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @AFPnews
Dennis Munhoz

por Dennis Munhoz

Publicado em 13/07/2024, às 06h00


O atual Presidente não é unanimidade no partido, aliás não chega nem perto disto e já faz tempo. Há mais de um ano, de forma velada, lideranças do partido democrata sinalizavam a possibilidade do Presidente não concorrer à reeleição. Para entender a situação atual, precisamos voltar a 2016, quando o normal seria o vice-presidente de Barak Obama (Joe Biden) disputar com Donald Trump, como quase sempre acontece nos Estados Unidos. Essa hipótese sequer foi aventada pelo partido democrata, sendo que um dos fatores era a idade avançada do vice-presidente, pavimentando definitivamente a estrada para Hillary Clinton que esmagou qualquer pequena possibilidade de Joe Biden concorrer à presidência. Já faz 8 anos que isso ocorreu e, naquela oportunidade o partido democrata já achava que Biden teria remotas possibilidades de derrotar Donald Trump.

A inesperada vitória de Donald Trump (que teve menor número de votos dos eleitores que Hillary) causou um desgaste enorme entre os democratas que tinham como certa a vitória. A arrogância de Hillary Clinton nos debates era assustadora e, Donald Trump soube como se aproveitar disto vencendo a candidata apoiada por Barak Obama, que teve índices de aprovação elevados. O partido democrata não conseguia explicar a derrota e, Hillary Clinton está praticamente esquecida no cenário político estadunidense.

Em 2020 com a pandemia do COVID19 e alguns desacertos do governo Trump, inclusive em relação às vacinas e forma de tratar o assunto, ressurgem antigas lideranças do partido democrata, entre elas o Senador Bernie Sanders, da ala mais à esquerda do partido, tido como socialista e, Joe Biden, até então esquecido e para muitos finalizado a carreira política para enfrentar o polêmico Donald Trump. Neste ponto o partido democrata foi muito hábil na condução da estratégia. Alguns eleitores do partido republicano que tinha votado em Trump, estavam desapontados com a administração do então Presidente e, eventualmente aceitariam votar no candidato do partido democrata desde que não fizesse parte da “esquerda”.

A receita estava pronta para Joe Biden, tanto que opróprio Bernie Sanders abre mão de sua candidatura em favor dele. Ele e o partido conseguiram enxergar que jamais um eleitor republicano votaria em Sanders mas aceitaria Biden, comprometido com a parte mais conservadora do partido democrata. Deu certo. Apesar da vantagem apertada e muitos questionamentos sobre a licitude da eleição, Biden foi eleito Presidente.

A popularidade do atual Presidente tem batido recordes negativos devido à inflação elevada, taxas de juros alta, dívida interna que parece incontrolável, problemas sérios com o controle das fronteiras, posicionamento na invasão da Ucrânia e Israel com o grupo terrorista Hamas. A suposta senilidade, cochilos durante discursos, queda em escadas e bicicleta, falta de coordenação e conclusão de ideias, indecisão em assuntos importantes e a pífia atuação no debate do mês passado, muito provavelmente não teriam tanta repercussão se os pontos negativos estivessem mais controlados. Cabe a seguinte indagação: Se o problema é só Joe Biden, por que o partido não viabiliza rapidamente a candidatura da vice-presidente Kamala Harris?

Este seria o caminho lógico e mais prático. Ela também não tem aprovação popular elevada e pouca influência entre os “caciques” do partido, ou seja, os democratas por falta de liderança e indecisões internas ficam reféns do Presidente Biden para alegria declarada dos republicanos. Na política tudo pode mudar em pouco tempo mas até agora tudo aponta para vitória de Trump em novembro. A convenção do partido democrata é em agosto e, até lá o partido pode mudar de candidato. O atual Presidente afirma com todas as letras que não sairá da disputa mas a situação parece insustentável dentro do próprio partido. No último dia 07, Hakeem Jeffries, líder da minoria na Câmara, reuniu a liderança do partido onde supostamente o ponto principal teria sido a reeleição de Biden. Democratas conhecidos declararam publicamente a inviabilidade da manutenção da candidatura e acrescentaram que o partido caminha para a derrota. Recente pesquisa do Wall Street Journal revela que Biden perdeu apoio entre os eleitores democratas, caiu de 93% em fevereiro para 86% em junho.

O nome que parece tirar o sono de Donald Trump é o de Michelle Obama, negra, mulher, engajada com movimentos sociais e tendo como cabo eleitoral o marido Barak Obama. Parece ser a resposta rápida e contundente que o partido democrata tanto necessita mas ela reluta em aceitar. Nunca teve pretensões políticas e sempre ficou à vontade sem se preocupar com o politicamente correto. Será que os democratas estariam dispostos a esta mudança radical? O pior cenário é o atual, indecisão enquanto o tempo passa.

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