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COLUNA

Etarismo...para jovens?

Idoso trabalhando - Imagem: Freepik
Idoso trabalhando - Imagem: Freepik

por Danilo Talanskas

Publicado em 14/04/2023, às 07h54


Etarismo tem sido uma expressão mais fácil e “elegante” de se falar sobre preconceitos. Por outro lado, o grande interesse no assunto vem de profissionais mais maduros, como se o assunto não fosse vital para os jovens.

Ao contrário do que se pensa, o tema afeta profundamente as carreiras daqueles que estão em início de carreira. Vamos ver o porquê.

A taxa de fecundidadepor mulher no Brasil nas últimas décadas, teve uma redução gradativa. Em 1960 era de 6,3 filhos, reduzindo ano a ano e chegando a 2,3 filhos por mulher em 2000. Trata-se de uma matemática fácil de ser entendida pois, uma pessoa jovem, hoje em início de carreira entre os seus 20 a 30 anos de idade, encontra uma maciça maioria no mercado de trabalho, de várias gerações anteriores. O próprio nome de minha geração fala por si só: “baby boomers”.

A diferença numérica é enorme, pois essa “onda” de jovens vindos de uma geração com poucos filhos, irá conviver com os nascidos desde a década de 1960 (ou até antes), com taxas de natalidade bem superiores. Além disso, possuem uma plena capacidade funcional e de saúde, pois a longevidade profissional estendeu-se extraordinariamente nas últimas décadas, dados os avanços da medicina e da autoconsciência dos cuidados para o bem-estar pessoal.

Com esse cenário, acabaram-se os paradigmas de que "uma geração substitui a outra" ou, de que "os mais velhos devem dar lugar aos mais jovens". Simplesmente, não há nem haverá jovens suficientes, para substituir todos os mais maduros e ativos que estão hoje no mercado de trabalho.

Trata-se de uma situação nunca enfrentada com tal impacto em gerações anteriores, e que durará pelo menos por mais duas ou três gerações. Mudará quando tivermos uma taxa de natalidade de 1 a 2 filhos por mulher, taxa essa que estará abaixo dos níveis de se manter um crescimento populacional, assim como acontece hoje e muitos países europeus.

A cada geração que entra no mercado de trabalho há um rótulo na forma de uma letra ou de um nome para defini-la. Especialistas acadêmicos e gestores esforçam-se para identificar as suas características e, de como lidar com esses novos comportamentos. É irônico pensarmos que uma enorme maioria precisa entender uma pequena minoria. Nada de errado com isso, mas e a contrapartida? Como essa minoria pode ser treinada a enfrentar essa enorme maioria que vai encontrar agora ao iniciar a carreira?

O tema é tão sério que deveria ser abordado nos bancos acadêmicos, passando para os profissionais de recursos humanos das empresas e conscientizando-se líderes empresariais. Muitos deles, alcançaram posições mais elevadas e ainda carregam consigo os modelos com os quais cresceram profissionalmente. O mundo de hoje mudou radicalmente.

Assim como as gerações anteriores, as atuais vêm de suas escolas e faculdades convivendo com colegas de suas idades. Iniciam as carreiras dessa forma, quando de repente, têm que conviver com pares de idade muito superiores à sua, ou até mesmo tornarem-se gestores de uma equipe muito diversificada em idade.

Não sou psicólogo, mas deve ser um processo muito complexo para a mente de um jovem, ou até uma pessoa um pouco mais madura, quando vê as “figuras” paternas ou maternas trabalhando a seu lado, ou até mesmo como subordinados.

O que muitos de nós chamamos de preconceito, na realidade pode vir de insegurança, de medo do desconhecido e da própria falta de convivência com profissionais muito mais velhos, que não sejam os seus gestores. Essa transição de atitude necessita de muito treinamento e conscientização.

Não podemos negar que, quando jovens, algum pensamento como esse passou por nossas mentes. Ao escrever esse artigo, com pesar lembrei-me de três profissionais, no início de minha carreira como gestor, aos quais nunca desrespeitei. Muito pelo contrário. Porém, não deixei de pensar que gostaria de ter pessoas mais jovens naquelas posições. Sentia-me desconfortável... não sabia muito bem como lidar com aquela situação.

 Ao olharmos as novas gerações, precisamos colocar as “lentes” de quando tínhamos a mesma idade dos mais jovens, e não com os “óculos” adquiridos através de experiência e da maturidade já vividas. Nos dias de hoje, essa situação pode multiplicar-se exponencialmente, devido ao número muito maior de profissionais mais maduros trabalhando ao lado dos mais jovens. Como citei acima, é uma questão matemática.

Os gestores que estão no meio da “ponte” profissional, têm a visão do imenso grupo que já passou por aquele ponto, assim como daqueles que estão por vir, do outro lado. Cabe a esses líderes o dever da integração dos dois grupos e de abrir as mesmas oportunidades para todos.

Às vezes, a “miopia” de gestores nesse assunto é tão grande, que me faz lembrar um técnico que treina seus atletas a surfar em altas e perigosas ondas, mas não enxerga o grande tsunami que se aproxima.

Sim, esse assunto impacta profundamente os mais jovens hoje, pois são uma minoria no mercado de trabalho e precisam entender como isso os afetam. A minha esperança é de que muito em breve o tema Etarismo deixe de existir e que possamos futuramente utilizar um termo mais natural, como por exemplo, “Integração de Gerações”.

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