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Virtudes e defeitos na oratória de Lula

Virtudes e defeitos na oratória de Lula - Imagem: Divulgação | Instituto Lula
Virtudes e defeitos na oratória de Lula - Imagem: Divulgação | Instituto Lula

Reinaldo Polito Publicado em 21/08/2022, às 08h18


Foi dada a largada. Teve início uma das campanhas mais acirradas da história política brasileira. Desde o início ocorreu uma polarização entre Lulae Bolsonaro. São dois experientes influenciadores das massas.

O petista construiu sua carreira como líder sindical. Seus discursos seduziam as plateias nas portas das fábricas, no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e nos palanques improvisados, desde que houvesse gente interessada em ouvi-lo. Obstinado pelo sucesso da carreira, venceu todos os obstáculos e chegou à presidência do país. Por duas vezes. Se não bastasse, colocou como chefe do Executivo a sua indicada Dilma Rousseff. Também por dois mandatos.

Julgado e condenado em três instâncias, Lula permaneceu preso por longos 580 dias nas dependências da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Mesmo encarcerado, aproveitando seu prestígio com a população, em 2018 apoiou a candidatura de Fernando Haddad nas eleições para o Palácio do Planalto. Ainda que não tenha vencido, “o poste”, como era chamado pejorativamente pelos opositores, foi para o segundo turno e obteve expressiva votação. Conquistou mais de 47 milhões dos votos. Verdadeira façanha para alguém desconhecido em muitas regiões do país. Tanto é verdade que, em certos estados, alguns eleitores, por terem dificuldade para entender seu nome, o chamavam de “Andrade”.

Edson Fachin, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) anulou as condenações do ex-presidente e o colocou novamente na vida política, permitindo que pudesse concorrer nessas eleições. Desde que deixou a prisão, no dia 8 de novembro de 2019, fez alguns discursos aqui e ali. Nada com muita intensidade. Nos últimos tempos, até por conta da campanha, ou da pré-campanha, suas aparições nos palanques têm sido mais constantes. E como tem se saído o orador?

Até quem não gosta muito de Lula reconhece que sua oratória é empolgante. Com seu jeito matreiro, simples e debochado faz com que as pessoas se envolvam com suas mensagens. Em todos os discursos se apresenta com três características constantes: indignado, irônico e emocional. Quase todas as vezes em que fala de problemas ou de seu adversário mostra indignação nas palavras. Em outros momentos, principalmente quando não possui argumentos suficientes para atacar, adota o tom irônico e sarcástico. Nunca, entretanto, deixa de se comunicar com emoção. É nesses momentos que consegue se aproximar mais dos eleitores.

Nas vezes em que planeja a sequência da fala, estabelece uma linha de raciocínio lógica e muito bem concatenada. Ao discursar em Belo Horizonte, na última quinta-feira, 18, por exemplo, foi genial. Conseguiu dizer, sem que os eleitores percebessem o autoelogio, que ele mesmo era um grande líder.

Como sabemos, o verdadeiro líder é aquele que inspira seus liderados em busca de uma causa. Os seus seguidores adotam essa ideia. E quando o líder já não estiver mais presente, eles continuarão perseguindo o mesmo objetivo como se aquela conquista fosse de cada um deles. Lula adaptou esse conceito em seu discurso com muita habilidade:

“Eu sei que não vou estar sozinho. Quando a minha cabeça não puder pensar mais, eu sei que vou pensar com a cabeça de vocês. Quando as minhas pernas não andarem mais, eu andarei com as pernas de vocês. Quando o meu coração não bater mais, eu baterei com o coração de vocês”.

Lula tem se expressado com energia, disposição, entusiasmo e eloquência. É praticamente impossível alguém ficar indiferente diante do seu desempenho oratório.

Nos últimos tempos, todavia, como nesse comício que fez em Minas Gerais, sua voz se mostra desgastada, fraca, sem qualidade. Dificilmente ele conseguirá suportar uma maratona com muitos discursos. E a voz é a grande ferramenta do orador. Talvez, para se poupar, daqui para a frente tenha de fazer apresentações mais curtas e espaçadas.

Outro ponto a ser considerado é que suas mensagens são ótimas para aqueles que fecharam com ele, independentemente do que tenha a dizer. Muitas de suas informações não resistem, porém, a uma confrontação mais criteriosa. Não se sustentarão, por exemplo, algumas acusações que faz sem respaldo dos fatos e certos números que apresenta fora de contexto.  Assim que forem averiguados, poderão minar a consistência da sua imagem.

O petista havia perdido a mão para falar nos palanques. Tanto que precisou ler alguns discursos para não dizer o que não devia. Chegaram até a afirmar que havia se transformado no maior cabo eleitoral de Bolsonaro. Agora já está mais centrado. Vamos ver se ele conseguirá se manter assim, ou se terá algum tipo de recaída. Siga pelo Instagram: @polito

Sobre o autor

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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