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Seis Perguntas aos Presidenciáveis

Por Marcus Vinícius de Freitas*

Seis Perguntas aos Presidenciáveis
Seis Perguntas aos Presidenciáveis

Redação Publicado em 05/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h58


Por Marcus Vinícius de Freitas*

Seis Perguntas aos Presidenciáveis

O ano de 2022, além de marcar o bicentenário da independência do Brasil, também será um ano de polarização diante do cenário eleitoral conturbado que se aproxima. A democracia brasileira passará por seu maior desafio histórico, na eleição mais importante de todos os tempos. A razão para tal situação é tudo aquilo que está em jogo: da nomeação de novos ministros do combalido Supremo Tribunal Federal aos valores que deixaremos como legado para as futuras gerações. A situação torna-se ainda mais complexa, em razão do perfil de alguns dos candidatos que – em outros países – jamais teriam a possibilidade de candidatar-se a uma posição tão elevada em razão da sua folha corrida.

Em razão disso, considerando que os debates tendem a ser fracos, protocolares e com perguntas que tendem a ser pueris muitas vezes, tenho refletido sobre os assuntos que, de fato, são relevantes, e que muito pouco se discute quanto ao futuro do país. As perguntas, nos debates, não permitem um escrutínio verdadeiro. Além disso, o calendário eleitoral brasileiro – muito mal feito, diga-se de passagem – favorece a candidatos já conhecidos pelo público, o que impede inovação na política. Basta olhar para o cenário eleitoral de 2022 e notar que, de fato, muito pouco mudou nos últimos 15 anos na política. As caras são as mesmas, as ideias são retrógradas e a falta de alternância amedronta.

A eleição de 2018 representou uma movimentação rara de ruptura com o cenário tradicional. Surgiram novos nomes. O problema, no entanto, foi que no deserto de ideias que prevalece em terras brasileiras, o novo, ao encontrar-se com o velho  envelheceu rapidamente. E a oportunidade foi perdida. Muitos afirmam que, diferentemente de 2018, a eleição de 2022 tenderá a voltar ao tradicional feijão com arroz da política brasileira, ou seja, o País voltará a eleger quadros conhecidos. Considerando a situação que estes quadros levaram o País, seria um erro ao Brasil repetir soluções que jamais funcionaram.

Nenhum país alcançou um sucesso histórico sem uma liderança que tivesse, de modo claro, um projeto efetivo dos resultados pretendidos. O que mais vemos é a ênfase em pessoas, e não em planos ou ideias. Por isso, pensei em seis questões que deveriam ser propostas a todos os candidatos, para sair da retórica repetitiva de educação, saúde e segurança e do cuidado com as pessoas.  As perguntas são as seguintes:

  • Como presidente, quais são os movimentos que pretende fazer para elevar a renda per capita do Brasil para um mínimo de 15 mil dólares nos seus próximos 4-8 anos de governo e tentar reduzir a pobreza que nos assola há 522 anos?
  • A Presidência da República deve ser respeitada porque representa a nação, obedecendo, inclusive, a uma liturgia do cargo. Seus valores, vida pessoal, histórico individual, acadêmico, político, profissional e administrativo o qualificam para a posição de liderança como presidente da república e também representam o respeito que a instituição merece e carece? O jovem brasileiro teria orgulho de espelhar-se em sua vida? Seu passado e seu legado político lhe dão autoridade moral para governar o Brasil?
  • O que o seu plano de governo apresenta de inovador para estimular a maior competitividade do Brasil na parte educacional, empresarial e governamental? Como ele fomentará emprego e crescimento econômico?
  • Na agenda internacional, qual é a sua perspectiva quanto ao papel do Brasil como liderança regional e global? Qual será a mensagem do Brasil ao mundo? E como pretende atualizar a nossa Política Externa às mudanças tectônicas do século XXI?
  • Como pretende tornar o Brasil atraente aos próprios brasileiros, quando muitos vêm nos aeroportos a única saída para o País? Sua eleição desacelerará o desencanto do brasileiro com o País, particularmente da juventude?
  • O histórico de seu grupo político na liderança do Brasil são motivo de orgulho ou vergonha pessoal?

Obviamente que a lista de perguntas não pára por ai. É fundamental que tenhamos claro a direção que o País tomará nos próximos quatro anos. Infelizmente, desde a partida da Família Imperial em 1889, o Brasil tem sido uma nau à deriva, sem políticos que respeitassem a Chefia de Estado ou que, de fato, quisessem o bem do País. O Brasil já sofreu demasiado nas últimas décadas. Se quisermos legar um país decente para filhos, netos e bisnetos, na hora do voto devemos visualizar alguém que nos dará orgulho como cidadãos. Do contrário, seguiremos sempre aquém de nossas potencialidades, o que seria um destino cruel para as futuras gerações. Nas palavras da jornalista Helen Thomas,  “se nos preocupamos com os filhos, os netos, as gerações futuras, precisamos ter certeza de que eles não se tornem bucha de canhão no futuro”.

Nesta grande nação chamada Brasil, onde santos, poetas, artistas, conquistadores e tanta gente do bem já viveu, será que não conseguiremos reverter o curso atual da história e construir um amanhã melhor?

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*Marcus Vinícius De Freitas

Professor Visitante, China Foreign Affairs University
Senior Fellow, Policy Center for the New South
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