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Rodrigo Constantino: Desinformantes

Walter Duranty foi um jornalista anglo-americano nascido em Liverpool que serviu como chefe do escritório de Moscou do The New York Times por quatorze anos

Rodrigo Constantino: Desinformantes
Rodrigo Constantino: Desinformantes

Redação Publicado em 24/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 17h44


Desinformantes

Rodrigo Constantino

Walter Duranty foi um jornalista anglo-americano nascido em Liverpool que serviu como chefe do escritório de Moscou do The New York Times por quatorze anos após a vitória bolchevique na Guerra Civil Russa. Em 1932, ele recebeu um Prêmio Pulitzer, o mais alto da carreira, após uma série de “reportagens” sobre a situação na União Soviética.

Seu esforço em ocultar o terror vivido pela fome no regime, especialmente na Ucrânia, fez com que muitos demandassem a revogação do prêmio, quando ficou claro que ele tinha conflitos de interesses, recebia “mimos” do regime ditatorial comunista.

Desde então muita coisa veio à tona sobre esse modus operandi dos comunistas. Eles tentavam cooptar jornalistas e formadores de opinião do Ocidente de várias formas: comprando, intimidando, enganando e apelando para a ideologia. Os mais bobos eram chamados de “dupes”, os idiotas úteis do sistema. Mas muitos sabiam exatamente o que estavam fazendo: mentindo, por mais que tentassem justificar a mentira como necessária por uma “causa nobre”, o comunismo.

Muita gente poderia pensar que tudo isso ficou para trás, nos tempos de Guerra Fria. São os mesmos que repetem que o comunismo morreu ou nunca existiu, ignorando Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e China. Esta última, por ter realizado uma abertura econômica controlada, é tida como ex-comunista, sendo que o regime político segue o mesmo, comandado pelo Partido Comunista Chinês com mão de ferro – e muitos abusos aos direitos humanos.

O embaixador chinês no Brasil adota postura agressiva, busca “persuadir” parlamentares contra a ideia de reconhecer a independência de Taiwan, faz chantagem com vacinas e muito mais. Sua passagem pela Argentina deixou rastros de uma conduta similar e incompatível com democracias. Não obstante, partidos de esquerda como o PDT realizam seminários com o embaixador para extrair “lições” sobre o modelo chinês. Senadoras querem se deitar no chão para o embaixador pisar em cima se for o preço para ter vacinas. A vassalagem é escancarada – e escandalosa.

E vemos o mesmo na imprensa. Jornalistas que se recusam a criticar um regime opressor, que persegue jornalistas em seu país, por “pragmatismo”. E agora, estimulados pela vassalagem, o regime deu um passo adiante. Eis o que a embaixada chinesa publicou: “Conhecer a China pode até parecer difícil, a distância é grande, mas a gente encurta ela para você. Nessa série, apresentamos as experiências jornalísticas e de pesquisadores estrangeiros na China contando as vivências incríveis no país. A jornalista Rita Fatiguso apresenta a visão sobre a experiência de liderança do Partido Comunista Chinês, o grande motivo do sucesso e realização do sonho chinês, contando sua experiência como correspondente internacional na cobertura da Assembleia Popular Nacional do Partido”.

O tema da “aula” é este: por que a China precisa de uma liderança central? Eufemismo para regime ditatorial opressor, claro. Revistas e jornais publicaram conteúdo semelhante, impossível de distinguir se é peça de publicidade oficial ou editorial. Isso não é jornalista nem aqui, nem na China! O nome certo é desinformante.

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