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Perspectivas para 2022

Por Marcus Vinícius de Freitas

Perspectivas para 2022
Perspectivas para 2022

Redação Publicado em 29/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h26


Por Marcus Vinícius de Freitas

Perspectivas para 2022

O ano de 2022, o terceiro da pandemia da COVID-19, continuará a ser desafiador globalmente. Eleições em várias partes do mundo determinarão o destino de muitas nações. Num momento que o mundo precisa de estadistas com uma perspectiva de longo prazo para avançar e progredir, o deserto de lideranças preocupa com relação à capacidade de obtenção de resultados efetivos. Descontentes com os resultados obtidos pelas lideranças atuais durante estes anos de pandemia, observa-se uma tendência dos eleitorados de troca de lideranças em várias partes do mundo, com um viés mais à esquerda do espectro político. Isto se deve, particularmente, à demanda por um papel mais ativo do Estado nas economias, contrariamente ao ideário liberal – mal aplicado, ressalte-se – nos países que fizeram uma opção mais à direita nos últimos ciclos eleitorais.

A tendência de inflação tenderá a manter-se relativamente alta em razão da vagarosa normalização das cadeias logísticas, de produção e burocráticas. Os lockdowns implementados pelos países reduziram, substancialmente, a produtividade e eficiência dos canais existentes, resultando em anormalidades processuais, além de um aumento substancial nos preços em razão da demanda elevada, que estava contida. O preço global de energia também tenderá a manter-se elevado em razão do lento processo de recuperação econômica. Isto se deve, em particular, a políticas equivocadas dos governos que incentivaram energias renováveis e não as mais tradicionais e estáveis, como, por exemplo, a nuclear.

A COVID-19 ainda não dará trégua em razão das novas cepas que têm surgido, parte do ciclo natural de pandemias. A bala de prata da vacinação tem tido resultados positivos, com a redução na taxa de mortalidade ou de internações graves. Mas a vacinação não é suficiente para controlar totalmente a difusão do vírus e suas variantes. O desespero de alguns países – particularmente no hemisfério norte – para flexibilizarem os protocolos médicos existentes em razão das férias de verão, além da fadiga relacionada aos extensos fechamentos e quarentenas, em adição às mudanças constantes de regras – que comprovaram que a ciência ainda é um conhecimento em evolução – constituem a razão primordial do número crescente de casos. Para quem acreditava que Europa e Estados Unidos eram exemplos, o fato é que a pandemia evidenciou que, em matéria de preparo para crises, estes países se encontravam tão despreparados como a maior parte do mundo.

O ano de 2022 deverá, ainda, trazer más notícias a Joe Biden em razão dos números crescentes de casos de Covid e a possível perda de maioria nas duas Casas Legislativas nas eleições de meio de mandato. Com isto, a implementação de sua agenda sofrerá reversões e dará sobrevida a Trump e seus seguidores republicanos. O confronto entre Estados Unidos e China tenderá a acirrar-se mais por vontade norte-americana do que por provocação chinesa. Os norte-americanos encontram-se numa cruzada de resistência ao desenvolvimento econômico chinês e na tentativa de manutenção de sua relevância e primazia global. À medida que a China avança em áreas que eram domínio natural dos Estados Unidos, particularmente na tecnologia, observa-se um aumento crescente na combatividade e nos múltiplos flancos abertos pelo país norte-americano para a manutenção de sua posição e do status quo. A tendência histórica, no entanto, é a China retomar sua posição de principal potência econômica. E a maré, neste sentido, parece irreversível até porque a China tem logrado manter-se distante das armadilhas de um cenário que busca repetir a Guerra Fria.  A União Europeia, por outro lado,  tem adotado uma postura dúbia quanto à relação conflituosa entre Estados Unidos e China. Embora tenha classificado a China como um rival sistêmico, o contraste entre Beijing e Moscou – dois supostos rivais do Velho Continente – favorece positivamente ao país asiático. Contrariamente a Moscou (e, algumas vezes, Washington), Beijing vê com bons olhos o processo de unidade europeia, somente se opondo em questões estritamente sinocêntricas.

O ano de 2022 é fundamental para a vida dos brasileiros. Não somente pelos 200 anos da independência, quando o Brasil passou a caminhar com as próprias pernas – apesar de ocasional e equivocadamente ainda culparmos os portugueses pelos erros existentes no País – mas também pela eleição que colocará o Brasil numa situação desafiadora porque, se por um lado, haverá um candidato corrupto, condenado e cujas políticas e sucessora levaram o Brasil ao caos que nos encontramos, por outro, teremos outro que jamais assumiu a responsabilidade pelas políticas equivocadas responsáveis por ceifar milhares de vidas. Como poderão os pais fitar os olhos dos filhos e netos e ensinar valores como honestidade, responsabilidade e confiança no País se forem irresponsáveis no voto? Que outras vias se consolidem é essencial para o futuro do Brasil.

Abraham Lincoln sabiamente ensinou no passado: “A melhor maneira de prever o futuro é escrevê-lo.” A escolha é sempre nossa, afinal o futuro é por nós escrito diariamente. O ano será desafiador. Mas poderá ser muito positivo. O futuro, como sempre, está em nossas mãos. Feliz 2022!

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*Marcus Vinicius De Freitas
Professor Visitante, China Foreign Affairs University
Senior Fellow, Policy Center for the New South
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