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O Brasil é o País do Futuro

Por Marcus Vinícius de Freitas*

O Brasil é o País do Futuro
O Brasil é o País do Futuro

Redação Publicado em 15/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 06h59


Por Marcus Vinícius de Freitas*

O Brasil é o País do Futuro

Há alguns anos, quando era professor no Brasil, em sala de aula, questionei aos alunos, entre 17 e 19 anos na maioria, como viam o papel do Brasil no futuro, num cenário de 20 a 50 anos. Como eram jovens, de classe econômica favorecida, eu esperava ouvir respostas como “potência mundial”, “líder global”,  “um grande país” ou “um exemplo” . Qual não foi minha surpresa ao ouvir que não tinham perspectivas muito positivas sobre o País e que anteviam uma situação muito semelhante à atual. Fiquei frustrado. Se a juventude não tem a capacidade de sonhar com coisas grandiosas, estamos em maus lençóis. Afinal, é a força de vontade do jovem, aliada à experiência e sabedoria dos mais velhos, que faz com que o mundo evolua sempre. Se o jovem pensa como velho, não vê perspectivas melhores, a perspectiva do futuro pode ser aterradora.

Ao refletir sobre aquela conversa, veio-me a impressão de que estamos enfrentando grandes desafios. A pandemia somente aflorou alguns. Notamos, por exemplo, que as pessoas estão ficando mais imaturas e muitas perderam a perspectiva de dias melhores.  Diante da quantidade de coisas oferecidas pelos governos, da ditadura do politicamente correto e das distorções de valores, vemos uma cultura cada vez mais egocêntrica prevalecendo. E quando pensamos mais em nós primeiro, somos facilmente ofendidos, e enfrentamos a vida sem o conteúdo necessário ultrapassar as muitas provas da vida. As redes sociais têm a sua parcela de culpa. Para tudo, hoje em dia, as pessoas têm uma opinião, sem uma reflexão aprofundada sobre os fatos, buscando respostas instantâneas para questões que necessitam de tempo, amadurecimento e qualidade de decisão. Isto leva à intolerância e às absurdas manifestações que tão frequentemente somos obrigados a ler. Sempre de um ponto-de-vista unilateral, com as pessoas se ofendendo facilmente num debate de baixíssima profundidade.

Os sonhos também estão morrendo, porque a política – que é a arte de fazer sonhar – está tão conspurcada de escândalos, trapaças e desrespeito ao dinheiro público, que nos cansamos do governo. E o governo – que contrariamente ao que dizem, pode ser, sem dúvida, a solução para muitos dos problemas sociais – tornou-se o maior de todos os transtornos. Temos sido levados a acreditar que vivemos num país de 5a. categoria, corrupto, e um perdedor internacional. É um 7 a 1 diário, sob a crença de que as perspectivas são cada vez piores. A falta de estadistas nos leva a esta situação. Ninguém nos diz que os melhores dias ainda estão por vir e que é bom ser o País do futuro, pois o futuro sempre será melhor.

Muitas das religiões, que deveriam desempenhar um papel relevante na busca pelos melhores valores da sociedade e oferecer a perspectiva do divino, infelizmente se preocupam mais com o pagamento dos dízimos e ofertas do que com a salvação individual. A fé foi sacrificada no altar da conveniência financeira.

Como resultado, não vemos mais valor na meritocracia. Viramos a sociedade da quantidade e não da qualidade. No caso brasileiro, o mérito é ainda menos incentivado. Estamos presos no labirinto de Minotauro, prestes a sermos devorados por nossa falta de competitividade, proatividade e apreço pelo belo e o que é bom.

O que fazer, então? Em primeiro lugar, não se deixar ludibriar pelo mundo maravilhoso das mídias sociais nem sucumbirmos à superficialidade dos debates existentes. Em vinte anos, com certeza, ninguém mais se lembrará do que foi o Facebook ou Instagram, ou dos políticos atuais, além dos historiadores. Em segundo, não cair na ideia de que governo e País são a mesma coisa. O Brasil é muito superior, maior, e melhor do que os seus governos. O Brasil tem um futuro brilhante. Teve um passado glorioso. Mas para tornar-se uma uma potência global tem que mudar seu comportamento. A sociedade, como um todo, deve desenvolver tolerância zero com incompetência, corrupção e falta de visão.

Precisamos sonhar mais. Com dias melhores, com um futuro melhor. Não podemos deixar que ninguém ou nada nos retire essa capacidade. Os sonhos podem impulsionar-nos. Viver sem eles, por certo, será a nossa sepultura. É preciso, portanto, sair do labirinto. Ao sairmos, veremos o mundo de oportunidades e possibilidades se abrirem.

Recentemente, numa conversa com chineses, foi-me dito que um dos modelos inspiradores da enorme transformação da China foi a admiração pela história de Bill Gates. Se, em menos de 40 anos, um indivíduo que começou a desenvolver software para microcomputadores se transformou na maior fortuna do mundo na ocasião, o que poderia fazer uma nação se a liderança e o seu povo tomassem esta mesma decisão? A partir disso vieram as grandes reformas e o processo de abertura do país asiático e o transformaram na grande potência emergente do século XXI.

Tentei naquele dia transmitir esta minha perspectiva sobre o futuro do Brasil. Espero não ter errado na minha expectativa.

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*Marcus Vinícius De Freitas
Professor Visitante, China Foreign Affairs University
Senior Fellow, Policy Center for the New South
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