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Frustração, medo e fanatismo

Kleber Carrilho

Frustração, medo e fanatismo
Frustração, medo e fanatismo

Redação Publicado em 28/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h19


Kleber Carrilho

Frustração, medo e fanatismo

Em vários momentos, tenho usado este espaço para conversar sobre o ambiente político no Brasil, mostrando a preocupação com a frustração e o medo, que têm sido base para diversas decisões políticas, inclusive o voto.

Embora isso seja um fenômeno mundial, resultado da crise de representatividade de partidos e projetos políticos que sustentam a democracia liberal, temos sofrido de forma muito mais clara, principalmente pelo fato de não termos tradição de participação e de construção de expectativas conjuntas.

Portanto, em um ambiente em que uma pandemia e a crise econômica, que já chega a uma década, aumentam as sensações de insegurança, a frustração e o medo dão as cartas. E o resultado disso não pode ser outra coisa, a não ser o fanatismo.

E os fanáticos são perigosos sempre, porque são levados pelo medo e pela frustração, que, neste caso, resulta da sensação de injustiça, de que algo que deveria ter sido dado foi tirado. Embora eu não tenha a competência dos psicólogos para compreender o fenômeno de forma individual, fica claro que coletivamente a frustração é resultado de uma esperança que a comunicação política de projetos anteriores criou de que todos teriam capacidade de consumo, o que não foi cumprido.

Sem que haja a possibilidade de cumprir expectativas racionais, e sem ferramentas para que se tenha uma reconstrução pela via democrática, o ambiente fica aberto para a criação de mitos, que se constroem a partir de certezas que fazem sentido para quem se deixa levar pelo fanatismo.

E os fanáticos, como diz o escritor israelense Amos Oz, na obra “Como curar um fanático”, estão prontos para ver os outros, que não compartilham do mesmo fanatismo, como traidores. Para muitos deles, traidores não têm valor, e podem ser agredidos e mortos em nome das suas ideias.

Porém, é importante entender que a preservação da vida deve ser o objetivo da política. E este é o motivo pelo qual quem faz política, ao contrário de estimular a frustração e o medo, precisa desenvolver expectativas conjuntas e esperanças.

Então, responda: o projeto político que você defende tem criado esperança? Ou tem estimulado a frustração e o medo?

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social

Instagram: @KleberCarrilho

Facebook.com/KleberCarrilho

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