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A questão da educação

A questão da educação - Imagem: Reprodução | G1
A questão da educação - Imagem: Reprodução | G1

Marcus Vinícius De Freitas Publicado em 24/08/2022, às 07h49


Os chinesesafirmam que é por nunca recusar os pequenos riachos que os rios e mares se tornam grandes. Ao celebrarmos o Bicentenário da Independência do Brasil e projetarmos os próximos duzentos anos, deveria constituir um objetivo coletivo do País erradicar muitas das suas mazelas históricas e assegurar um futuro resplandecente considerando os inúmeros recursos que o Brasil possui e que, muitas vezes, por uma falta de visão e perspectiva estratégica diluem o oceano de possibilidades que o País tem.

Dentre os pequenos riachos que são essenciais para que o Brasilse torne grande, não há dúvida que questão da educação é primordial. Quanto mais educada a população, mais ela pode contribuir à melhoria da economia, do tecido social e do desenvolvimento global do País. Nos últimos tempos, no entanto, temos observado uma demonização do ensino universitário brasileiro, que, infelizmente, se politizou demasiadamente e tem ficado refém do embate ideológico prevalecente no País. Ao invés de discutirmos os desafios existentes na educação brasileira, observamos um ativismo político que exaure a qualidade intelectual e acadêmica das instituições, seus docentes e, principalmente, seus discentes. Tudo isso impede uma evolução mais positiva e acelerada do Brasil.

A educação universitária atual enfrenta três grandes adversidades: o custo, a qualidade e a empregabilidade. Cada vez mais, o custo da educação aumenta, o que, num país de economia estagnada há tempos, dificulta a viabilidade de dedicação integral do aluno ao conhecimento e à sua área de formação intelectual. Os governos deveriam buscar baratear o máximo possível o custo educacional e estimular o aumento da produtividade intelectual, por meio da redução da tributação incidente sobre computadores, tablets, etc. Além disso, o setor privado também deveria criar mais produtos mais baratos voltados ao público universitário.

A qualidade também constitui uma dificuldade enorme. No Brasil, o número de cursos universitários cresceu exponencialmente sem o acompanhamento efetivo de uma melhoria na qualidade educacional. O resultado é que, mais frequentemente do que deveríamos, vemos muitos alunos formados que mal conseguem exprimir-se ou serem capazes de atuar profissionalmente. O analfabetismo funcional, que no passado, era restrito à educação primária e secundária, atualmente se estende também às universidades. Isto se deve, em parte, àquele velho ditado conhecido: “o professor finge que dá aula e o aluno finge que estuda!” A remuneraçãoprofissional do professor é fundamental para alterar este problema.

A resultante destes dois aspectos acima é a reduzida empregabilidade, muitas vezes porque os empregadores observam um abismo entre a formação acadêmica e as habilidades necessárias ao exercício profissional. Também, num mercado estagnado, as oportunidades profissionais são mais reduzidas. Não há maior pecado social do que o desemprego, particularmente para o jovem recém-formado que, se não praticar o que aprendeu nos bancos acadêmicos, verá o conhecimento aprendido diluir-se rapidamente.

A educação brasileira precisa de uma reforma profunda e modernizadora, que garanta acesso igual, com base no mérito, a toda a população. Neste sentido, é importante que o Estado estabeleça métricas e parâmetros que deem à educação pública a chance de concorrer globalmente em qualidade e resultados efetivos. O governo deveria dedicar o máximo de recursos para promover a competitividade internacional das universidades brasileiras e garantir o máximo possível a inovação. Os próximos governos deveriam ter como objetivo nacional que ao menos duas de suas instituições superiores estejam entre as 20 melhores universidades mundiais. Para tanto, será necessário reformar a estrutura universitária, a carreira acadêmica e até mesmo o processo de admissão, a fim de garantir que chegue nestas instituições o melhor talento que a sociedade consiga produzir.

Este compromisso do Estado com seus cidadãos não deve estar adstrito somente até o fim do período universitário, mas sim uma obrigação de criar o conceito de educação continuada, em que a população seja incentivada a abraçar o processo educacional ao longo da vida, transformando os estudos num hábito e estilo de vida. Este conceito de educação continuada é tão importante quanto à política de saúde pública. O acesso à boa educação deveria ser garantido à população, não importando gênero, raça, religião ou status social. Quanto mais aberto e flexível for a educação, maiores serão as oportunidades de desenvolvimento pessoal, acadêmico e contínua facilidade de ascensão social. 

É necessário modernizar a gestão das universidades para que tenham boa governança administrativa. A autonomia universitária deveria implicar uma gestão de excelência e não somente liberdadesem responsabilidade de resultados efetivos. Outro aspecto fundamental, que não pode ser ignorado, é a associação de inovação e empreendedorismo no processo educacional diferenciado, a fim de que, ao promover a inovação coordenada com empresas e outras instituições, o desenvolvimento possa ser impulsionado com a formação de novos e inovadores talentos, com habilidades práticas.

Por fim, é relevante que o setor educacional brasileiro seja aberto ao mundo. A iniciativa de levar a língua portuguesa ao mundo, através dos Institutos Camões de Portugaldeveria constituir prioridade do governo brasileiro para garantir acesso universalizado ao conhecimento da língua portuguesa. Ao tornar as universidades mais competitivas internacionalmente, será possível promover ainda melhor cooperação com instituições de ponta e incrementar substancialmente a qualidade dos quadros docentes. O Brasil deveria ter por objetivo desenvolver uma educação que fosse capaz de atrair estudantes de todo o mundo e assim formar elites globais com relacionamento e devoção ao País. Por fim, o Brasil deveria estimular, cada vez mais, que os alunos estudassem línguas estrangeiras, com prioridade ao inglês, espanhol e mandarim, em razão da utilizada profissional que o conhecimento de tais línguas outorgará aos estudantes. O futuro do Brasil agradece!

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