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Pedro Sortica: Autoridade e afeto – uma questão de equilíbrio

Darcy Ribeiro, conhecido historiador, antropólogo, escritor e político, em uma entrevista descreveu uma cena, assistida por ele, por ocasião de uma de suas

Pedro Sortica: Autoridade e afeto – uma questão de equilíbrio
Pedro Sortica: Autoridade e afeto – uma questão de equilíbrio

Redação Publicado em 28/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h21


Darcy Ribeiro, conhecido historiador, antropólogo, escritor e político, em uma entrevista descreveu uma cena, assistida por ele, por ocasião de uma de suas muitas passagens por tribos indígenas. Uma mãe índia estava construindo uma panela de barro, algo meticuloso e exigente de atenção e cuidado. Pois bem, quando a artesã estava quase terminando sua obra, seu filho que brincava por perto se aproximou e desmanchou o trabalho dela. Sem dizer uma palavra, a resignada mãe começou tudo de novo. Depois de refeita a peça, o mesmo menino avança sobre a mãe e destrói novamente seu trabalho.

A esta altura, o antropólogo Darcy Ribeiro, talvez querendo compreender aquele quadro, de certa forma constrangedor, pergunta à mãe:

— “Você não vai dizer nada ao menino?”

— “Quando ele se cansar, ele vai parar” – respondeu a mãe, retomando o seu trabalho.

Na linguagem camponesa, antiga, diríamos que aquele menino estava sendo “criado com todo leite”. Ou seja, sem parâmetros, limites. Será que a sociedade contemporânea copiou esse modelo? Não cabe a nós julgar a forma de caminhar de um povo que até pouco tempo vivia em isolamento. Mas, convenhamos, é impossível construirmos uma sociedade equilibrada sem ensinar a seus membros que a vida exige limites.

Algo meio que inexplicável aconteceu nos últimos cinquenta anos, pelo menos. Surgiu uma geração de pais que, conscientes ou não, renunciaram a determinados valores essenciais para a formação da personalidade humana. Penso que foram aqueles filhos cujos pais quase não ofereceram afetividade e em contrapartida abusaram daquilo que eles entendiam como autoridade. E o resultado tem sido pais “enchendo” seus filhos de afeto enquanto a autoridade está “desativada”.

O resultado desse contrassenso tem sido uma geração de moços e moças com muita informação e quase nada de maturidade. Não dá para se construir caráter e produzir personalidade sem uma boa dose de afeto com o peso equilibrado de autoridade.

“Tudo pelo amor e através do amor” é uma frase que cai na cesta da teoria sem produzir resultados práticos. A vida em sociedade demanda solidariedade e respeito. O cidadão e a cidadã necessitam o mínimo de cidadania. Se meu leitor está pensando em sala de aula para que “bons” professores “eduquem” nossos filhos, é provável que você seja um desses “abnegados” que terceirizaram o seu papel de pai, mãe.

A paternidade é a principal coluna da sociedade imediata, a família. Ali é o ninho de aconchego e o ancoradouro da existência humana. Eu quero tomar a liberdade de afirmar que nesse ambiente sagrado, o pai está com maior peso de responsabilidade, em função do que representa na formação do caráter e no desenvolvimento do menino e da menina.

Se abolirmos Deus da nossa existência, a família será desfeita e o caos se estabelecerá por completo. Não devemos nos deixar levar por quaisquer ventos que nos distancie do propósito.

“Na frágil figura do pai terreno há um depósito abundante de afeto e autoridade, atributos do Pai Celeste, essenciais à estruturação da pessoa e da sociedade humana”.

Pedro Sortica mora em Paulínia/SP, é pastor e autor do livro NA TERRA COMO NO CÉU – PAI (Life Editora). (https://embaixadores.org.br/pedrosortica/ e https://bit.ly/pedrosortica).

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