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COLUNA

Indenização a Bolsonaro expõe cortina de fumaça e erros do governo Lula no caso dos móveis do Alvorada

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert / PR
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert / PR
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 12/09/2024, às 08h39


O episódio envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro, contra o governo Lula trouxe à tona mais um capítulo da polarização política que vem marcando o Brasil nos últimos anos. A condenação da União ao pagamento de R$ 15 mil de indenização ao casal Bolsonaro, proferida nesta segunda-feira (9) pelo juiz Diego Câmara, da 17ª Vara Federal da Justiça do Distrito Federal, revela não apenas um erro administrativo, mas o uso de acusações infundadas para desviar o foco da opinião pública.

O caso dos móveis supostamente desaparecidos do Palácio da Alvorada, que inicialmente sugeria que o ex-presidente e sua esposa teriam se apropriado de 261 itens da residência oficial, transformou-se em uma manobra política desastrosa do atual governo. No início de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira--dama Rosângela da Silva, a Janja, insinuaram que a saída de Bolsonaro da presidência teria sido acompanhada pela retirada dos móveis. No entanto, uma auditoria realizada em março de 2024 comprovou que os itens nunca saíram do Palácio do Alvorada. Eles estavam, na verdade, em dependências diversas da residência oficial.

O desgaste causado pelas acusações infundadas foi inevitável. A mídia, alimentada pelas insinuações do casal Lula e Janja, não hesitou em amplificar o escândalo. Ao que tudo indica, a estratégia era clara: desgastar a imagem do ex-         -presidente Bolsonaro e, ao mesmo tempo, justificar uma série de compras emergenciais para o Palácio do Alvorada, totalizando mais de R$ 379 mil em novos móveis sem licitação. O que parecia um ataque direto ao casal Bolsonaro rapidamente se revelou uma tentativa de desviar o foco dos gastos públicos excessivos e mal explicados.

Michelle Bolsonaro, ao tomar conhecimento da auditoria que confirmou a localização dos móveis, foi categórica em sua defesa, afirmando que as acusações de Lula e Janja serviram como “cortina de fumaça” para encobrir as despesas com novos itens para a residência oficial. Em uma declaração pública, a ex-primeira-          -dama deixou claro que a narrativa construída pelo governo atual tinha como objetivo minar a reputação de sua família, enquanto ocultava gastos públicos que levantavam sérias questões sobre a gestão transparente dos recursos da União.

Diante da difamação, o casal Bolsonaro acionou a Justiça, pedindo uma indenização de R$ 20 mil por danos morais e uma retratação pública. O advogado Marcelo Bessa, que representa o casal, destacou que a ação foi movida contra a União, seguindo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que determina que o ente federado é responsável por danos decorrentes de atos ilícitos cometidos por servidores públicos no exercício de suas funções. O princípio da responsabilidade objetiva do Estado prevaleceu, com a possibilidade de a União buscar ressarcimento junto aos servidores responsáveis pelas declarações difamatórias.

A decisão do juiz Diego Câmara reconheceu o dano à imagem e à reputação do casal Bolsonaro, concedendo-lhes uma indenização de R$ 15 mil. Contudo, o magistrado negou o pedido de retratação pública, uma vez que considerou que as declarações de Lula e Janja ultrapassaram o limite do direito de crítica. Para o juiz, a acusação de desvio dos móveis foi um exagero, já que os itens sempre estiveram sob a guarda da União, o que caracterizou a ofensa à honra do ex-presidente e da ex-primeira-dama.

Esse episódio expõe a face mais sombria da política nacional: o uso indiscriminado de acusações para desestabilizar adversários. A tentativa de transformar um erro administrativo em escândalo político não apenas prejudicou a imagem de Bolsonaro e sua esposa, como também trouxe à tona a necessidade de maior responsabilidade por parte de servidores públicos, especialmente em cargos de liderança, ao fazer declarações que afetam a reputação de terceiros.

A Advocacia-Geral da União (AGU) já anunciou que irá recorrer da decisão, o que prolongará o desgaste político para ambos os lados. Contudo, independentemente do resultado final, o episódio deixa um recado claro: o uso de narrativas falsas para atacar adversários políticos tem limites, e a Justiça tem se mostrado disposta a atuar como moderadora desse embate, protegendo os direitos daqueles que são injustamente acusados.

Nesse contexto, cabe ao governo Lula refletir sobre os impactos de suas declarações e ações. A politização de episódios administrativos como o dos móveis do Palácio do Alvorada não apenas desgasta a confiança pública nas instituições, mas também revela uma tentativa desesperada de se afastar de problemas internos, utilizando a figura de Bolsonaro como bode expiatório para os erros e excessos da atual gestão.

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