por Agenor Duque
Publicado em 07/09/2024, às 06h00
O embate entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, escalou após uma troca de farpas nas redes sociais. Marçal, empresário e influenciador digital, manifestou publicamente seu descontentamento com Bolsonaro após receber uma resposta irônica do ex--presidente em uma de suas postagens. A tensão entre os dois, no entanto, começou antes dessa interação, e revela um cenário de disputas internas dentro da direita política brasileira.
A polêmica surgiu porque Bolsonaro teria excluído Marçal do grupo dos que alavancaram a candidatura do então candidato à presidência da República, e Marçal respondeu dizendo ao ex-presidente que então devolvesse os R$ 100 mil que doou à campanha presidencial em 2022. Em uma série de publicações, Marçal relembrou o apoio financeiro e estratégico que deu à candidatura de Bolsonaro. "Coloquei 100 mil reais na sua campanha pra presidente, te ajudei nas estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no Planalto. Entrei pra lista de investigados da PF por te ajudar. Se não existe o 'nós', seja mais claro", escreveu o candidato.
O empresário ainda ressaltou a honra e a gratidão como valores fundamentais para um "homem sensato". Seu descontentamento veio à tona após Bolsonaro responder de maneira irônica a um comentário de Marçal, em uma postagem onde o ex-presidente exaltava os investimentos ferroviários realizados durante sua gestão, Marçal usou uma expressão frequentemente atribuída ao próprio Bolsonaro: “Para cima deles, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”. A resposta do ex-presidente foi direta e irônica: “Nós? Um abraço.”
A exclusão do “nós” irritou Marçal, que se considerava parte do grupo que ajudou a alavancar Bolsonaro à vitória em 2022. Em tom de desabafo, o candidato a prefeito de São Paulo recordou que, apesar dos desentendimentos, ambos haviam resolvido suas diferenças e que até haviam almoçado juntos recentemente. Ele também lembrou que Bolsonaro o havia honrado com uma medalha. No entanto, a resposta irônica o fez questionar a reciprocidade desse relacionamento. “Se o capitão quiser me tirar do ‘nós’, me ajude devolvendo os 100 mil reais", disse Marçal, mencionando que não utilizaria dinheiro público para sua campanha e sugerindo que Bolsonaro contribuísse para sua corrida eleitoral.
Além de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente e deputado federal, também atacou Marçal nas redes sociais. Eduardo questionou a lealdade do empresário, lembrando uma fala de Marçal nas eleições de 2022: “Estranho. Em 2022 você disse que a diferença entre Lula e Bolsonaro é que um deles tinha um dedo a menos. Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão.”.
Os seguidores de Bolsonaro seguiram na mesma linha, acusando Marçal de estar tentando se promover em cima do nome do ex-presidente. “Surfando na onda de Bolsonaro”, comentou uma usuária. Outros destacaram que, apesar do apoio que Marçal possa ter dado a Bolsonaro em 2022, ele ainda estaria distante de se igualar à figura do ex-presidente. “Lamento dizer, candidato [...], mas você precisa comer muito feijão para chegar aos pés de Jair Messias Bolsonaro! Ele é único e maior líder da direita, imbatível!”, declarou um seguidor.
Apesar das críticas, Marçal também recebeu apoio de parte da base bolsonarista. Uma seguidora afirmou ter visto Marçal fazendo campanha ativa para Bolsonaro em 2022, até mesmo em postos de gasolina, reafirmando que o empresário havia, de fato, ajudado o ex-presidente em sua reeleição.
Antes do início oficial da campanha pela Prefeitura de São Paulo, Marçal havia procurado Bolsonaro para tentar garantir seu apoio. No entanto, o ex-presidente recusou o pedido, prometendo apoiar Marçal apenas em um eventual segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL), caso o empresário chegasse à essa etapa da eleição.
Em resposta às recentes críticas, Bolsonaro foi incisivo em apontar uma mudança de postura em Marçal desde as eleições de 2022. Segundo o ex-presidente, o empresário o atacava até o período próximo à votação, chamando-o de "quadrilheiro". Bolsonaro também insinuou que Marçal poderia ter feito doações à sua campanha esperando favores futuros. “É lamentável que um candidato a prefeito faça doações esperando algo em troca”, disse Bolsonaro, revelando que a doação de Marçal teria sido de R$ 160 mil, e não R$ 100 mil, como o empresário havia afirmado.
O embate entre Bolsonaro e Marçal exemplifica as fissuras e disputas por espaço dentro da direita política brasileira, especialmente em um contexto de eleições municipais que prometem ser acirradas. Enquanto Bolsonaro se mantém como uma figura central da direita, Marçal busca se afirmar como uma nova liderança, o que inevitavelmente o coloca em rota de colisão com o ex-presidente e seu grupo mais fiel.
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