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COLUNA

“Desequilibrado”: Papa Francisco responde à perseguição de Daniel Ortega à Igreja Católica

Papa Francisco responde à perseguição de Daniel Ortega à Igreja Católica - Imagem: Divulgação / Vatican News | Reprodução / El País
Papa Francisco responde à perseguição de Daniel Ortega à Igreja Católica - Imagem: Divulgação / Vatican News | Reprodução / El País
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 20/03/2023, às 07h23


Não é de hoje que o governo de Daniel Ortega, da Nicarágua, persegue católicos, conservadores e cidadãos de direita. Em 2022, sob ordens de Ortega, a Polícia Nacional nicaraguense proibiu a Igreja Católica no país de realizar procissões da Via Sacra na Quaresma e na Semana Santa. Além do mais o tirano acusou dirigentes desta igreja de cometer crimes de ordem financeira e condenou o bispo Álvarez a mais de 26 anos de reclusão, sob suposta traição, quando este se recusou a sair em exílio para os Estados Unidos.

Em dezembro de 2022, após 4 meses de prisão domiciliar, Mons. Rolando Álvarez, bispo da diocese de Matagalpa, irá a julgamento por acusações gravíssimas; nas palavras do governo: “[...] conspiração contra a nação e [...] divulgação de notícias falsas que atentam contra a segurança do país”. Outros nove religiosos foram detidos, sem ao menos, saberem de que estavam sendo acusados.

De acordo com Carlos Fernando Chamorro, jornalista e uma das vozes do exílio imposto pela Nicarágua, o clima entre os padres católicos no país é de medo, em face à crescente repressão do regime imposto por Daniel Ortega. O jornalista denunciou que “Os Ortegas não são contra a religião, são contra a liberdade. A Igreja Católica se solidariza com as vítimas (da repressão); eles querem uma Igreja silenciosa, alinhada com o poder” vigente no país. Chamorro é irmão da ex-  -candidata à presidência do país, Cristiana Chamorro, que está presa, e vencedor do Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo. Para ele, a Nicarágua tem como base o “messianismo” assumido por Ortega, em uma “repressão preventiva”, à moda dos regimes impostos em Cuba, Venezuelae Rússia, tão bem conhecidos e apoiados pelo atual governo brasileiro e sua equipe.

Em setembro de 2022, Ortega aumentou o tom e atacou a Igreja Católica, acusando-a de ditadora e praticante de “tirania perfeita”. Em fevereiro de 2023, o líder nicaraguense adjetivou a Igreja como sendo uma máfia, uma entidade que em seu governo antidemocrático não permite que seus fiéis elejam papas, cardeais, bispos e padres por voto direto. Curiosa essa declaração na boca de um líder que governa pela força.

No domingo (12), o Ministério das Relações Exteriores da Nicaráguasoltou nota, informando que a suspensão das relações diplomáticas existentes entre o país e o Vaticano. Em adição, circula que Ortega já teria dado ordens de fechamento da sede do Vaticano, na capital Manágua, e da embaixada nicaraguense em Roma, na Itália.

Essas ações foram tomadas após declaração do Papa Francisco ao comentar sobre fechamento de universidades que mantêm vínculo com a igreja católica. Nas palavras do líder religioso: “Com muito respeito, não me resta senão pensar em um desequilíbrio da pessoa que lidera [a Nicarágua]”; para o pontífice, o regime nicaraguense é de “ditadura grosseira”.

Ortegatem 77 anos e está no poder há 15 anos consecutivos, como é comum dos governos totalitaristas, e tudo isso em meio a denúncias de autoritarismo e fraude eleitoral.

O jornalista Chamorro pede atenção internacional quanto aos acontecimentos no país, lembrando que no final de 2022, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) havia declarado a Nicarágua como um país cujo regime tem como prática desrespeitar as inúmeras ordens de libertação de opositores detidos. Na mesma época, o Comitê contra a Tortura e o Subcomitê para a Prevenção da Tortura da ONUexortou o regime instalado por Ortega, ordenando que fossem cumpridos os tratados de direitos humanos subscritos.  

O cerco está se fechando.

É esperar para ver.

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