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Declarações de Lula e derrota de Haddad no Senado pressionam economia e dólar fecha a R$ 5,40

Mercado financeiro demonstra pessimismo com política fiscal do governo

Dólar - Imagem: Reprodução | Freepik
Dólar - Imagem: Reprodução | Freepik
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 13/06/2024, às 06h00


A economia do Brasil voltou a dar sinais de instabilidade após o dólar disparar nesta quarta-feira (12). A moeda norte-americana fechou o dia a R$ 5,4056, alta de 0,85%. É o maior valor em 18 meses, quando atingiu os R$ 5,45, em 4 de janeiro de 2023, um dos primeiros dias do governo Lula.

Este é o quarto dia seguido de valorização. Os investidores mostraram que repercutiram mal as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o Fórum de Investimentos Prioridade 2024, promovido pelo Instituto da Iniciativa de Investimentos Futuros (FII Institute), no Rio de Janeiro (RJ).

O mandatário disse que não poderia discutir economia sem "colocar a questão social na ordem do dia". Afirmou ainda que o "mercado (financeiro) não é uma entidade abstrata, apartada da política e da sociedade".

O governo vem sendo pressionado a reduzir gastos e não consegue aumentar a arrecadação. Ontem, o Senado Federal devolveu a Medida Provisória (MP) que previa a compensação de créditos do PIS/Cofins como contrapartida à perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos. A medida, que poderia aumentar a receita federal em R$ 29,2 bilhões, foi uma derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O petista explicou que sua equipe econômica não tem um “plano B” para compensar a perda de arrecadação. Numa manobra política pífia, tentou jogar para os senadores a responsabilidade de encontrar uma saída.

O Senado assumiu uma parte da responsabilidade por tentar construir uma solução (para compensação) pelo que entendi da fala do próprio presidente Pacheco”, disse. “Mas vamos colocar toda equipe da Receita Federal à disposição do Senado para tentar construir alternativa, uma vez que tem prazo exíguo e que precisa encontrar uma solução”, completou.

Além da alta do dólar, o mercado via o Ibovespa a cair ao longo desta quarta-feira e atingiu a mínima do ano, abaixo de 120 mil pontos. O volume financeiro era de R$ 23,78 bilhões antes dos ajustes finais, num pregão influenciado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa e do índice futuro.

Ao mesmo tempo, contribuíram para o cenário de pessimismo os dados da inflação dos Estados Unidos e o anúncio da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), com um único corte na taxa de juros do país até o final 2024.

No Brasil, o mercado interno inverteu o sinal positivo da manhã após o presidente Lula discursar em um evento, defendendo que a economia não pode estar apartada do social.

A única resposta do Executivo foi uma fala do ministro Haddad, afirmando que vai apresentar ao presidente Lula uma proposta de mudança no formato dos pisos (gastos mínimos) em saúde e educação.

"Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público", minimizou, sem conseguir convencer o mercado que essa é uma solução plausível.

Também não ajudaram as explicações da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Ela explicou que o governo precisa de apoio do Congresso para revisar os gastos.

"Não estamos aqui para dourar a pílula, desafio das contas públicas não é pequeno", lamentou. Para ela, os atuais gastos obrigatórios do Orçamento são insustentáveis e uma revisão de gastos envolve toda a equipe econômica, não só o Planejamento.

Conforme explicou o diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, a incerteza dos rumos do Fed e os juros nos EUA, aliado ao desgaste político do governo e do Senado fazem o mercado agir com cautela.

Para o especialista em mercado de capitais Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. “Isso acaba levando a uma desconfiança dos investidores de maneira geral em relação ao conflito de gastos [entre Executivo e Legislativo]. Eu acho que não é muito o que o investidor e nem o mercado estão querendo ver agora”, finaliza.

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