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COLUNA

A lorota da preservação da cultura indígena: Apoio da Ford e desculpa para corrupção e alienação

Sônia Bone Guajajara, Coordenadora Execuva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). - Imagem: Divulgação / Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Sônia Bone Guajajara, Coordenadora Execuva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). - Imagem: Divulgação / Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 07/08/2023, às 07h29


Discurso em tom de denúncia da deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) na CPI das ONGs, em 23/06/2023, revela que a Fundação Ford financia viagens a personalidades indígenas para falarem contra o Brasil, maculando a imagem do agro brasileiro, afirmando que este tentou invadir terras indígenas e que os povos indígenas não têm permissão para utilizarem seu território plantando soja, feijão, arroz, pois tais itens não são parte da cultura deste povo.

Curiosamente, a mesma pessoa que fez esse discurso é a que defende ferrenhamente a legalização da maconha no país e é defensor da utilização de terras indígenas para a plantação de maconha.

É, no mínimo estranho, que indígenas não possam plantar arroz, feijão...; que não possam usufruir dos benefícios da eletricidade, mas possam participar do plantio de maconha e no narcotráfico.

Em discurso arrebatador, a deputada, que também é indígena, fez um panorama da história de colonização do país, desde a chegada dos primeiros desbravadores, que portavam a tecnologia da pólvora, e abordando que seu povo, que nada tinha à época, continua sem nada ter, pois continuam desprovidos de acesso à tecnologia e a uma vida melhor e mais segura.

Com argumentos irrefutáveis, a deputada questiona a razão da política de segregação, que mantém seu povo subjugado e isolado, sem água quente para tomar banho e água gelada para refrescar-se em dias de calor; sem acesso à internet para pedir uma refeição no aplicativo. E acrescenta-se a isso que os indígenas estão privados de ouvir a Palavra de Deus, pois atividades religiosas (por não indígenas) estão proibidas em terras indígenas, sob desculpa de que isso os descaracterizaria culturalmente.

Ser indígena é estar condenado à vida precária dos anos 1.500, sem domínio e os benefícios da ciência? Onde estão os Direitos Humanos e seus defensores? Onde estão, para este povo, os direitos garantidos pela Constituição a todo cidadão brasileiro, que lhes permite, inclusive, acesso e liberdade religiosa, de crença e culto? Como usufruirão essa liberdade, garantida constitucionalmente, se sequer podem ter acesso ao conhecimento que lhes permitirá decidir a qual religião seguir?

É o Brasil das falácias, dos direitos válidos apenas para as minorias lacradoras, das meias--verdades ditas com objetivo de se obter lucro, de quadrinhas disfarçadas de ONGs e agentes governamentais corruptos e corruptores que pilham os indefesos, quando deveriam os ajudá-los, dar-lhes apoio, fornecer meios para que tenham acesso a uma vida mais digna, menos pesada e primitiva; que deveriam esforçar-se ao máximo para que esse povo usufrua de tudo o que lhes é garantido nas páginas da Lei.

É urgente que haja mudanças e sejam reparadas ações e omissões feitas a este povo. Até quando se lucrará à custa da pobreza, da segregação, do sacrifício e da pilhagem dos indígenas no Brasil? Não há como isso continuar. Os direitos garantidos pela Constituição são para todos os habitantes em território nacional, o que inclui os indígenas.

Na floresta não tem tecnologia, não tem SAMU, não tem recursos. Alguém precisa ver e tomar providências quanto a essa política nojenta e desumana de segregação. Afinal atentar contra os indígenas, deixando-os à própria sorte e esquecidos na floresta, enquanto se vive de forma regalada, regada a bebidas de preços exorbitantes, ostras e caviar, voos de jatinho, é atentar contra a própria carne, afinal todo brasileiro “têm um pezinho” entre indígenas.

Quem lucra com a segregação?

Eu sei. Você também sabe.

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