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Idosos à mercê do crime

Golpes contra idosos. - Imagem: Reprodução | Freepik
Golpes contra idosos. - Imagem: Reprodução | Freepik
Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 30/01/2024, às 07h57


O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou em 2023 que 15,1% da população brasileira é de pessoas idosas, assim reconhecidas as que têm idade igual ou superior a 60 anos. Com os avanços da medicina e a melhora dos serviços de saúde, a despeito de nossas reconhecidas mazelas nesse campo, a expectativa de vida aumenta e até 2050 os idosos serão 30% dos brasileiros, estima-se. Seremos cerca de 60 milhões de idosos na metade do século XXI.

Índices e estatísticas, contudo, não dizem tudo. A legislação - em que se insere o Estatuto do Idoso (Lei 10.741 / 2003) - contempla os mais velhos com princípios como direito à vida, à alimentação, à saúde, à cultura, à moradia, ao transporte e outros. Um avanço, registre-se, mas que não garante aos idosos a deferência que merecem da sociedade como um todo.

Respeitar o idoso e a idosa é muito mais que lhes reservar assento no transporte público e vaga no estacionamento. É enxergá-los como pessoas capazes de produzir, praticar esportes, opinar, decidir, amar e celebrar a vida. É também conceder-lhes a atenção necessária quando as forças física e cognitiva começam a minguar, em conformidade com a natureza humana.

Ocorre que o mundo submerge de tal maneira nas desumanidades que existem hoje, não só no Brasil, grupos criminosos especializados em lesar idosos. A criatividade a serviço do mal dessa gente é assustadora.

O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) lista 10 tipos de golpe desferidos rotineiramente contra idosos, a maioria deles aproveitando-se da pouca desenvoltura das vitimas com ferramentas tecnológicas. O mais comum é o “golpe do consignado”, com 57.824 queixas nos Procons em 2022. Os criminosos conseguem por hackeamento ou vazamentos os dados da vítima na Previdência Social e, em nome do aposentado, obtêm empréstimos consignados.

O “golpe do WhatsApp” também é comum. O bandido modifica os dados de contato de um número de celular, inclusive a foto, de modo a passar-se por algum parente da vítima, normalmente um filho ou um neto - roubo de identidade. E pede dinheiro, quase sempre via PIX, para alguma emergência. Boa parte dos idosos nunca imaginou coisa desse tipo e cede ao apelo emocional.

Já o “golpe do delivery” é uma variante presencial. Um entregador bate à porta da pessoa idosa, normalmente em alguma data como Dia dos Pais ou das Mães, portando um presente. Que surpresa agradável! É necessário apenas pagar pelo custo da entrega, via cartão de crédito ou débito, um valor bem baixo. Só que a máquina de pagamento é fraudada, e o valor verdadeiro da transação fica ao gosto do criminoso.

Há ainda o “golpe da aposentadoria”, o “golpe do Meu INSS”, o “golpe do falso sequestro”, o “golpe da compra pela internet”, o “golpe do falso atendente de banco”, a “fraude do seguro e da tarifa de banco” e várias modalidades de golpes com cartão de crédito.

Os indivíduos que praticam esses crimes possuem know-how tecnológico e contatos em instituições diversas, além de um espírito cruel e desumano. Supõe-se que as polícias detenham igualmente o conhecimento tecnológico para identificá-los, detê-los e apresentá-los ao Judiciário. Paralelamente, espera-se do Poder Público, com apoio da sociedade, uma ampla campanha de alerta e esclarecimentos.

Nossos idosos não podem ficar à mercê do oportunismo e do crime.

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