Diário de São Paulo
Siga-nos

Masp recua, retira veto a fotos do MST, que levou a pedido de demissão de curadora, e propõe adiar exposição

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) voltou atrás da decisão de recusar um conjunto de fotos selecionadas para a mostra "Histórias

Masp recua, retira veto a fotos do MST, que levou a pedido de demissão de curadora, e propõe adiar exposição
Masp recua, retira veto a fotos do MST, que levou a pedido de demissão de curadora, e propõe adiar exposição

Redação Publicado em 23/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h34


Em nota, Masp afirmou que ‘caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo ‘Retomadas’ na mostra”.

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) voltou atrás da decisão de recusar um conjunto de fotos selecionadas para a mostra “Histórias Brasileiras”, que levou ao pedido de demissão da primeira curadora indígena do museu, Sandra Benites, e propôs adiar a exposição para incluir as imagens que haviam sido vetadas pela direção.

As fotos vetadas eram de autoria de fotógrafos ligados ao Movimento Sem Terra (MST) e fariam parte do núcleo temático “Retomadas”.

Antes, ao ser notificado do pedido de demissão, o Masp havia dito, em nota, que “lamenta, mas respeita a decisão da curadora” de se afastar do museu.

No comunicado divulgado na última sexta-feira (20), no entanto, a instituição informa ter um “novo posicionamento” sobre o caso, que “tem refletido muito sobre o atual momento e, como um museu vivo, busca aprender com este episódio, inclusive observando falhas processuais e erros no diálogo com as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites, responsáveis pelo núcleo ‘Retomadas'”.

Também afirmou que, “caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo ‘Retomadas’ na mostra” (veja nota completa no final do texto).

O museu sugeriu ainda a inclusão no acervo do Masp das seis fotografias que haviam sido vetadas.

Antes, a instituição afirmou que a recusa ocorreu porque as seis obras foram “solicitadas pelas curadoras ao departamento de produção do museu muito fora dos prazos do cronograma estabelecido em contrato”.

“Essas restrições são comuns no processo de produção e impediram também que outros curadores da mostra solicitassem algumas obras em seus respectivos núcleos”, disse o museu.

No dia 15, em nota conjunta com a também curadora Clarissa Diniz, Sandra Benites afirmou, porém, que o cronograma do museu não foi previamente comunicado a elas e que as datas estabelecidas estavam dissociadas da realidade.

“Só quando houve a recusa das seis fotografias de André Vilaron e Edgar Kanaykõ, em 14 de abril, soubemos que o MAS havia fixado o prazo fatal de entrega para o dia 31 de março. Jamais fomos comunicadas deste termo final quando o prazo estava em curso”, disseram Diniz e Benites.

As duas curadoras seriam responsáveis pelo núcleo temático “Retomadas”, que foi cancelado a pedido delas no último dia 3. O núcleo seria um dos oito eixos da exposição “Histórias Brasileiras”, que tem estreia prevista para 1º de julho.

Recusa de obras

Em sua primeira nota, o museu citou os prazos e declarou que já havia procurado flexibilizar as datas para a solicitação de empréstimo de obra: mínimo de seis meses (para museus brasileiros) e quatro meses (para galerias, coleções particulares e artistas).

A instituição cobrou ainda “maior rigidez e disciplina com relação a todas as instâncias, não só curatorial e de produção, mas também contratuais” por parte das equipes de curadoria.

No entanto, em carta conjunta, as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites rebateram as alegações do museu, e disseram que, no contrato, não havia a mencionada distinção de seis meses para museus e quatro meses para galerias, coleções particulares e artistas nacionais.

“O único marco estabelecido para empréstimos nacionais era de 6 meses de antecedência”, disseram, na carta.

“A exposição tem “’revisão de inauguração em 1 de julho de 2022′, como anuncia a nota divulgada ontem pelo MASP. Portanto, caso o MASP estivesse efetivamente praticando os marcos do contrato, o prazo teria expirado em 1º de janeiro de 2022”, afirmam.

 Movimentação no Museu de Arte de São Paulo (MASP) na região da Avenida Paulista, em São Paulo (SP) — Foto: ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Movimentação no Museu de Arte de São Paulo (MASP) na região da Avenida Paulista, em São Paulo (SP) — Foto: ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

As curadoras disseram, na carta do dia 15, que o museu reconheceu que passou para elas “de maneira equivocada, uma data limite para recebimento do material do MST”.

Apesar disso, a instituição teria informado que “seguiria somente com o empréstimo de metade do conjunto — os cartazes e outros documentos vindos do arquivo do MST —, excluindo, portanto, todas as fotografias”.

“Reiteradas vezes, buscamos explicar ao MASP a importância da manutenção da totalidade do conjunto. As tentativas foram em vão. O Museu se manteve irredutível e não permitiu a formalização do empréstimo das seis fotografias, apesar de a inclusão das referidas imagens sequer envolver transporte ou seguro, pois se tratava de cópias de exibição produzidas mediante a impressão de arquivos digitais”, disseram.

O que diz a nova nota do Masp

“O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand vem a público com um novo posicionamento sobre o cancelamento do núcleo “Retomadas”, que fazia parte da mostra coletiva Histórias brasileiras, a ser inaugurada em 1º de julho próximo. A exposição faz parte da série de Histórias, que incluiu Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018), Histórias feministas (2019), entre outras.

O Museu tem refletido muito sobre o atual momento e, como um museu vivo, busca aprender com este episódio, inclusive observando falhas processuais e erros no diálogo com as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites, responsáveis pelo núcleo “Retomadas”. A instituição lamenta publicamente o cancelamento do núcleo, tão importante para a exposição, e a saída das curadoras do projeto.

Pretendendo avançar para que episódios semelhantes não se repitam no futuro, estamos abertos a ouvir Benites e Diniz, com a finalidade de aprendermos com essa experiência e aprimorarmos processos e modelos de trabalho.

Nesse sentido, caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo “Retomadas” na mostra.

Outra medida que estamos propondo é a realização de um seminário público durante a exposição sobre o núcleo “Retomadas” com a participação das curadoras.

Por fim, iremos propor a incorporação ao acervo do Museu, das 6 fotografias de autoria de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar, caso seja do interesse dos artistas, como registro da importância dessas imagens para a história do MASP e reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas curadoras junto ao Movimento Sem Terra—MST.

MASP está comprometido com a abertura de novos espaços de escuta, na certeza de que o que queremos é um Brasil mais plural, inclusivo e democrático – que só pode ser construído coletivamente, a partir do diálogo aberto, empático e colaborativo”.

.
.
.
.
.
.
.
G1
Compartilhe  

últimas notícias