O professor de ciências da computação Ciswal Santos, de 31 anos, foi selecionado para estudar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais
Redação Publicado em 27/09/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h00
O professor de ciências da computação Ciswal Santos, de 31 anos, foi selecionado para estudar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais tradicionais do mundo. O ex-catador de latinhas de Juazeiro do Norte, no Ceará, que fazia bicos para comprar o material escolar, vai estudar para desenvolver o projeto que pode ajudar milhares de pessoas de sua cidade: gerar energia solar de forma sustentável com um aparelho que custa um pouco mais de um salário mínimo.
O professor elaborou um projeto para desenvolver um equipamento que reduz em 70% o consumo de energia de uma residência de uma família de classe média, com quatro pessoas.
A ferramenta é orçada atualmente em cerca de R$ 2,2 mil. “Ainda não é o preço que eu quero. Já tive contato com pessoas que desenvolvem tecnologia asiática – que está bem a nossa frente – e podemos fazer uso dessa tecnologia para reduzir o custo do equipamento para R$ 1,2 mil, mas o objetivo final é baratear para um salário mínimo, para que qualquer trabalhador possa comprar.”
Nessa fase do projeto, explica Ciswal, ele não pode receber nenhum apoio privado para criar a máquina de energia solar. “Pela política da Universidade de Harvard, ainda não pode receber valor de empresa privada, é contra os valores deles.”
Ele vai receber aulas on-line de professores de Harvard por 18 meses, podendo prorrogar o período letivo por mais 18 meses, e a partir daí angariar recursos públicos e privados para criar o equipamento de energia solar sustentável.
“É um projeto que supre energia para iluminação e muitos equipamentos, ele só não sustenta motores mais potentes, como os de geladeira e máquina de lavar”, explica o autor da ideia.
Mas para chegar a Havard, Ciswal teve que trabalhar pesado, acordando cedo, trabalhando em supermercado e catando latinhas depois das aulas.
Ciswal ingressou na faculdade aos 16 anos e teve que “se virar” para manter os estudos. “Sou filho de uma faxineira; minha mãe, Valdenora, sempre trabalhou para nos dar comida. Só que precisava de dinheiro para comprar materiais, farda e xerox de apostilas, pois não tinha como comprar livros. Comecei a trabalhar em um mercantil ganhando R$ 20 por semana, porém às vezes nem recebia, pois levava comida do mercantil para casa e era descontado”, lembra o professor.
“Como o dinheiro era pouco, vi no lixo a oportunidade de suprir minha necessidade e minha vontade de estudar. Quando eu saía da faculdade à noite, andava pelos bares de Juazeiro do Norte catando latinhas de cerveja para vender no quilo, isso eu ainda fardado”, lembra o professor.
No momento em que ele chegou perto de desistir, Ciswal conta que recebeu apoio do proprietário do bar onde ele catava as latas.
“Me senti um nada e chorei. Contei a ele [o proprietário do comércio] o motivo, ele colocou a mão no meu ombro e disse que eu não precisava me envergonhar e que eu não fosse mais lá tão tarde e usasse esse tempo para estudar mais que ele guardaria essas latinhas para eu pegar pela manhã”, diz o professor, “assim eu me formei, graças a esse anjo e às latinhas de cervejas que peguei no lixo”, completa.
Além de lecionar, Ciswal Santos é tricampeão de judô, atividade que pratica desde a adolescência, e campeão nordestino de xadrez. Ele concilia a profissão de professor com o cargo de gerente de manutenção em uma empresa na cidade em que vive.
Com todas as atividades, ele ainda conseguiu tempo para escrever, lançado o livro “pensamento que fazem crescer”. “Nunca use pretexto que você não teve oportunidade de estudar na vida, pois para tudo sempre há um jeito. Talvez você chore, sofra, mas é possível ser um vencedor”, finaliza.
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