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De ajudante de pedreiro à Copa SP: Rwan supera dificuldades e vira a aposta do Santos no torneio

Jogar a Copa São Paulo é um objetivo para muitos jogadores jovens que enxergam na competição uma chance de se destacar e buscar objetivos maiores na carreira.

De ajudante de pedreiro à Copa SP: Rwan supera dificuldades e vira a aposta do Santos no torneio
De ajudante de pedreiro à Copa SP: Rwan supera dificuldades e vira a aposta do Santos no torneio

Redação Publicado em 02/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 17h55


Jogar a Copa São Paulo é um objetivo para muitos jogadores jovens que enxergam na competição uma chance de se destacar e buscar objetivos maiores na carreira. Para Rwan, destaque do time sub-20 do Santos, o torneio virou uma oportunidade para viver um sonho.

Com apenas 20 anos, o atleta já tem uma história de superação dentro do esporte. Começou cedo a lutar pelo sonho de virar jogador profissional, enfrentou dificuldades e quase desistiu de tudo quando veio a pandemia. Hoje, depois de uma temporada de destaque na base do Peixe, sendo artilheiro do time nas competições da categoria, vê no clube a chance da sua vida.

– Por tudo que eu passei, sabia que era a hora de aproveitar. Era meu momento. Tinha que dar meu máximo. Passei por tantas coisas e, agora, tudo que queria era jogar. Consegui jogar bem. No sub-23 fui artilheiro da competição. No sub-20 também, Paulista e Brasileiro. Consegui me destacar, fazer grande jogos. Estou vivendo um sonho. Chegar no Santos, viver essa camisa. Todo dia realizo esse sonho. Acordo e agradeço. Só de entrar no CT já me sinto realizado. Treinar em um clube onde ídolos passaram. Pelé, Neymar. Estar ali presenciando esse momento é gratificante.

Rwan durante treino do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Rwan durante treino do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Rwan começou a jogar bola aos seis anos, ainda nas ruas de Recife, onde nasceu. Um primo, Sonildo, o levou para treinar em uma escolinha de futebol e arrumou a primeira chance para o atacante em um clube profissional, o Náutico.

No entanto, ainda criança, ele enfrentava dificuldades para poder treinar no Timbu. Rwan precisava atravessar a capital de Pernambuco toda para poder chegar ao clube. Além disso, a família não tinha muita condição financeira, e o Náutico não oferecia ajuda de custo.

– Era complicado. Eu morava na Zona Sul do Recife, e o Náutico era na Zona Norte. Às vezes não tinha dinheiro para passagem, para alimentação. Eu pedia até para o motorista (do ônibus) abrir a porta de trás para não pagar a passagem. Foi um momento difícil para mim. Às vezes tinha passagem para ir, mas não tinha o que comer na volta. No Náutico eu não recebia auxílio nenhum. Tinha o dinheiro que era pra comprar uma pipoca ou uma água. Não dava para comprar os dois. Tinha que escolher. Mas faz parte da superação. Graças a Deus passou e hoje estou aqui.

Rwan comemora gol pelo sub-20 do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Rwan comemora gol pelo sub-20 do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

As coisas melhoraram quando o jogador trocou o Náutico pelo Sport. No Leão, além de ajuda de custo, o clube ficava mais próximo de casa. Ali, ele passou a disputar campeonatos e decidiu que seria jogador de futebol profissional.

Pelo Sport, foi campeão estadual no sub-17 e ganhou destaque em outras competições. As atuações despertaram a atenção do Figueirense. Em Santa Catarina, na primeira experiência longe de casa, aos 16 anos, mais dificuldades. Problemas burocráticos impediram que ele assinasse um contrato, e ele passou nove meses apenas treinando.

– Eu tive que me adaptar ao clima. Em Recife era calor para caramba, e lá era frio (risos). Foi difícil pra mim, principalmente no início. Morava no alojamento do clube, embaixo da arquibancada. A distância da família também pesou. Foi a primeira vez longe. Era difícil. Sou apegado aos meus irmãos, meus pais. E ficar quase um ano sem jogar, sem contrato. Mas é algo que deixa a gente forte. Faz querer mais e acreditar para não se abalar e desistir dos nossos sonhos.

Flamengo e pandemia

Sem chance no Figueirense, Rwan aceitou uma proposta do Flamengo de Guarulhos para manter o sonho de ser jogador de futebol. Lá, em 2019, conseguiu se destacar no Campeonato Paulista sub-20. Na sequência, teve boas atuações na Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2020.

Porém, veio a pandemia de Covid-19, e o futebol de base parou. O jogador voltou para Recife. Lá permaneceu de março até setembro. Começou a ajudar o pai, que é pedreiro, e viu o sonho de jogar futebol ficar distante. Mas tudo mudou quando veio o convite do Santos para realizar um teste.

– Quando veio a ligação e eu soube da oportunidade de fazer teste no Santos estava na pandemia, em casa. Um momento difícil porque estava chegando a idade, estava ficando um pouco velho. Comecei a trabalhar com meu pai, que é pedreiro. Muitas pessoas falavam para eu desistir. Mas era o meu sonho, o da minha família. Passei tanto tempo traçando isso, para chegar agora, na hora do vamos ver, e desistir? Não. Comecei a ir para a praia treinar, sozinho, fazer o que dava para chegar aqui bem.

Rwan realizou teste no sub-20 e foi aprovado pelo então técnico Rodrigo Chipp, com quem já havia trabalhado no Figueirense. Porém, o acerto ainda dependia de uma nova aprovação, agora, no sub-23.

– Foram semanas e pensei: “Caramba, mais dificuldade, tinha que ser comigo (risos)”. Só que continuei, fui bem e me aprovaram. E logo em seguida veio a questão do transfer ban (proibição da Fifa para inscrever jogadores), sem poder jogar. Mais dificuldade ainda (risos). Continuei trabalhando. Sabia que meu momento ia chegar e graças a Deus chegou. Consegui fazer uma boa temporada.

Na primeira temporada pelo Santos, foi artilheiro do time em praticamente tudo que disputou. No sub-20, foram 18 jogos e 13 gols, além de três assistências. Já no sub-23, outras 11 partidas e três gols. O bom desempenho fez o Alvinegro desembolsar R$ 700 mil para obter 70% dos direitos econômicos do atleta.

Agora, ele mantém o foco em um bom desempenho na Copa São Paulo para quem sabe, num futuro, chamar a atenção do técnico Fábio Carille.

– Será tudo por merecimento. Não posso achar que, por fazer uma boa temporada aqui (no sub-20), eu tenho que estar lá (nos profissionais). Vou estar provando isso sempre para mim, para quem acredita em mim, quem acha que eu tenho que estar lá. Essa Copa São Paulo será mais um desafio. Espero fazer uma boa competição, que se Deus quiser vou estar com o elenco profissional no futuro.

Quem é Rwan e namoro com zagueira do time rival

Para o torcedor santista que ainda não o conhece, Rwan se descreve como um camisa 9, mas que também pode atuar na função de camisa 10, entrando na área.

– Cheguei jogando como camisa 9. De origem sou camisa 9. Mas já joguei no Sport como camisa 10. Eu tenho essa facilidade de flutuar entre as linhas. Eu tenho essa versatilidade. Sou um cara atacante rápido, sou forte, bom cabeceador. Espero fazer um bom trabalho na Copa São Paulo. Ultimamente estou treinando como 10, mas sempre pisando na área, como um segundo atacante.

As inspirações no futebol são duas: Neymar e Cristiano Ronaldo.

– São duas referências no futebol. O Neymar pelo estilo de jogo, aquele estilo brasileiro. E o Cristiano Ronaldo pela dedicação, pelo foco que ele tem e o atleta que ele é. São caras que eu admiro muito.

Rwan durante treino do sub-20 do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Rwan durante treino do sub-20 do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Na vida pessoal, Rwan convive de perto “com o inimigo”. Ele namora a zagueira Thaís Regina, do São Paulo. Eles se conheceram em Recife, ainda na pandemia, nas quadras de futevôlei.

– Começamos a nos conhecer, mas ela ia vir pra cá. Quando voltou o futebol, ela viria para o São Paulo. E eu fiquei sabendo que teria a oportunidade de fazer o teste no Santos. Quando eu vim fiquei feliz para caramba. De estar próximo. Começamos a namorar e até hoje estamos aí.

O atacante confessa já ter tentado recrutar a namorada para defender as Sereias da Vila, mas sem sucesso. Segundo ele, o relacionamento ajuda também ao casal se desenvolver na vida profissional.

– Já falei muito para ela vir para cá (risos). Mas não consigo ter o controle disso. É sempre aquela rivalidade, né? Eu falo que o Santos é maior que o São Paulo, ela brinca comigo também. É algo sadio. Conversamos bastante. Somos atletas, nos ajudamos muito para manter o foco, treinando bem. Isso é bom.

Agora, em um confronto direto, Rwan garante: apesar da namorada ser uma boa zagueira, nesse duelo, o Santos leva a melhor.

– Eu acho que eu ganho, hein (risos). Claro que ela chega firme, é zagueira. Acho que eu ganho.

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Globo Esporte

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