COLUNA

O Atentado a Trump

Donald Trump. - Imagem: Reprodução | YouTube

Marcus Vinícius De Freitas Publicado em 17/07/2024, às 06h00

O Ocidente está doente. Muito doente. As reações à tentativa de assassinato de Donald J. Trump, no comício na Pensilvânia, evidenciaram o quadro devastador da enfermidade política e moral que a sociedade vive. De um lado, pessoas que se dizem da direita afirmando que o atentado era ação da esquerda. E do outro, pessoas que se dizem de esquerda afirmando que teria sido uma armação e que Trump iria abusar do populismo na politização da ação. Os absurdos das narrativas surpreenderam. Em nenhum dos lados do espectro político se levou em consideração a seriedade da ação e o quanto a democracia norte-americana vem-se fragilizando em razão da polarização insana que a acomete depois dos anos Clinton.

A sociedade norte-americana, ao mesmo que tempo que apresentou avanços consideráveis em muitas questões sociais, também criou enormes barreiras para que a liberdade que tanto apregoa se mantivesse como um valor universal. A ditadura do politicamente correto, a exacerbação da atuação de alguns grupos e o fato de o país não conseguir manter um diálogo com si próprio, somente em razão do ganho eleitoral é uma preocupação quanto à viabilidade de suas instituições.

Presidentes não podem ser presos por atos cometidos como Chefes de Estado e Governo. Se isso acontecer, nenhum assumirá responsabilidade por seus atos. Ou, pior ainda, poderá sentir-se incentivado a assumir poderes cada vez mais ditatoriais para não incorrer o risco de ser perseguido pelos sucessores. Os dois processos de impeachment contra Donald Trump e a caça às bruxas por meio de ações judiciais injustificadas somente deterioraram as instituições. E quando Trump vence algumas das questões, a alegação é de que ele deteriorou as instituições, particularmente o Poder Judiciário, em razão dos juízes que indicou. A retórica polarizadora jamais retrocede. Ela avança cada vez mais.

Neste cenário surgem os supostos influenciadores: artistas, jornalistas, comediantes, acadêmicos etc. Pessoas que, em razão de sua posição, têm uma quantidade relevante de seguidores. Com isto, pretendem, ao invés de fortalecer o jogo democrático, cancelar o candidato que lhes seja contrário. A atividade online desses “influenciadores” virou um jogo de soma zero, com a trituração de reputação e de imagem. E mesmo que sejam comprovados como errados, a semente do desastre já foi plantada e as suas consequências são impossíveis de serem controladas.

Atentados políticos ocorrem com frequência. Isto também se deve aos sistemas políticos que polarizam a escolha do eleitor. E neste processo de seleção, inflamam-se os ânimos, acirram-se as discussões e a lógica se perde. Eleições não são momentos para expressão de emoções, mas sim para uma análise fria e calculada dos planos de governo dos candidatos que se apresentam à função representativa.

O grande desafio que a democracia enfrenta é que a arma mais poderosa dada ao eleitor, que é o voto, é desperdiçada da pior maneira possível. O eleitor escolhe o candidato baseado no carisma, no grupo social que representa, numa causa particular ou, simplesmente por algum interesse de classe ou pessoal. Pouquíssimos são os eleitores que votam num candidato após conferirem a sua história, suas perspectivas, planos e projetos. O eleitor premia incapazes para assumirem funções que requerem enormes níveis de capacitação. E a burocracia estatal, que deveria frear os absurdos hoje em dia está mais interessada em proteger seus interesses e ganhos econômicos do que a própria preservação do Estado e das instituições.

A tentativa de assassinato a Trump revela o quanto a democracia está adoecida. Os que são eleitos não representam o povo como prometem. E são eleitos não por aquilo que pretendem fazer, mas, simplesmente, por fatores completamente inconsistentes com as altas responsabilidades que a função estatal pressupõe. E, como a cada quatro ou cinco anos, as cadeiras mudam, ninguém assume responsabilidades sobre os atos praticados. Buscar na Justiçar reparar danos causados por erros praticados é a pior das estratégias. Porque muitas vezes a compensação financeira jamais recompensará o dano incorrido.

É por essa razão que alguns estados ainda admitem monarquias, com famílias a quem se lhes dá a função de atuarem como curadores do Estado e da sociedade. Políticos não devem morar em palácios. Só devem morar em palácios aqueles que foram treinados e preparados para esta importante função vitalícia de curadoria de uma nação. Políticos vão e vêm. Reis e imperadores são permanentes. O Reino Unido – que já foi grande e hoje é minúsculo em relação ao passado histórico – mostra a estabilidade que o sistema monárquico lhe dá. O que diminuiu o Reino Unido não foi a Família Real, mas sim os maus políticos que foram eleitos. Houvesse essa falsa sensação de liberdade democrática sido mais bem explicada à população, talvez o país ainda continuasse relevante.

Agora, a situação norte-americana é ainda pior. Com a polarização a sociedade, que está doente, está-se chegando a um estado de coma. Tentar assassinar Trump é só uma gota d´água nesse redemoinho negativo que as democracias se transformaram em que o princípio básico de troca no poder simplesmente tem desaparecido. Quando um grupo ameaça ganhar uma eleição, a palavra extremo isto ou aquilo é aleatoriamente abusada para evitar que poder mude de grupos. A democracia está em coma!

Trump deverá ser reeleito. Mesmo que não seja, já entrará para a história como uma vítima da enfermidade de uma sociedade supostamente democrática.

Trump eua Biden clinton

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