COLUNA

Arselino Tatto: um propósito e uma história

Arselino Tatto: um propósito e uma história - Imagem: Acervo / Arselino Tatto

Henrique Tatto Publicado em 14/10/2024, às 06h00

No domingo (06), durante as eleições municipais, Arselino Tatto (PT), após nove mandatos consecutivos como vereador na Câmara Municipal de São Paulo, não conseguiu se reeleger pela primeira vez. Com 29.105 votos, ele ficou como terceiro suplente da bancada petista, que, mais uma vez, elegeu oito vereadores, consolidando-se como a maior bancada da capital para os próximos quatro anos. Felizmente, seu irmão caçula, Jair Tatto (PT), foi eleito com 30.905 votos, somando 60.010 votos para a família Tatto. Durante os anos em que Arselino atuou como vereador, ele construiu um eleitorado fiel, e ao perceber a oportunidade de dividir essa base com seu irmão, ambos conseguiram se eleger juntos por três mandatos consecutivos.

A trajetória de Arselino, filho dos agricultores Ignês Fontana Tatto e Jácomo Tatto, teve início na cidade de Frederico Westphalen (RS). Nascido em uma família extremamente pobre, ele partiu em busca de melhores condições de vida para seus pais e nove irmãos, mudando-se para São Paulo em 1972, aos 15 anos, em busca de oportunidades de trabalho. Na metrópole, sua primeira experiência profissional foi como office-boy, e, mais tarde, na metalúrgica Eletromec, teve seu primeiro contato com o movimento sindical. Desde a infância, Arselino seguiu os ensinamentos da Igreja Católica e, ao chegar a São Paulo, começou a participar das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e se integrou ao grupo de jovens da Igreja Nossa Senhora Aparecida, onde atuou como catequista. Influenciado pelo padre José Pegoraro, que discutia a relação entre fé e política, Arselino começou a entender a luta por justiça social e direitos trabalhistas, identificando-se rapidamente com os ideais de Luís Inácio Lula da Silva.

A partir desse ponto, Arselino Tatto começou a fazer história. Ele foi eleito vereador pela primeira vez em 1988 e, ao longo de seus nove mandatos, apresentou propostas de grande relevância para os cidadãos paulistanos, participando de momentos marcantes na cidade, como a elaboração da Lei Orgânica do Município. Entre as mais de 140 leis que ajudou a aprovar, destacam-se: a criação do Programa Renda Mínima; a adaptação de ônibus para deficientes; sepultamento e exumação gratuitos; o Programa Atende; meia-entrada para estudantes e idosos em cinemas; vagas especiais para deficientes em estacionamentos; combate ao assédio moral e sexual; isenção de IPTU para aposentados e pensionistas; casas de abrigo para mulheres vítimas de violência; isenção de IPTU para vítimas de enchentes; campanhas educativas contra a violência de gênero; e a criação de campos de futebol de várzea, entre outras. Arselino também foi presidente da Câmara Municipal por duas vezes, combateu os altos salários, criou o Restaurante Escola para jovens da periferia, que funciona até hoje e já formou muitos deles. Tornou-se o vereador com mais leis aprovadas na história da cidade!

Embora muitos não saibam exatamente qual é a função de um vereador ou de outros cargos do Poder Legislativo, é importante ressaltar que o vereador é a figura mais próxima da população. Ele é o primeiro contato que um cidadão tem com o poder público, sendo responsável não apenas pela apresentação de Projetos de Lei, mas também por levar as demandas e reivindicações da população para debate e transformação em realidade. Arselino seguiu essa missão com afinco, sempre se dedicando à classe mais necessitada. Por ter vivenciado as dificuldades enfrentadas pelo povo, seu compromisso com os mais vulneráveis sempre foi evidente. Apesar de seus muitos feitos na política, ele nunca buscou vaidade ou almejou cargos mais altos. Com força, preparo e votos, ele poderia ter conseguido posições mais elevadas, mas optou por permanecer próximo ao povo de São Paulo, incomodado com a miséria e o descaso. Para ele, é inconcebível que haja pessoas passando fome, sem um teto para morar, sem acesso à educação e sem os direitos básicos garantidos. Arselino nunca foi o tipo de político que se elege para beneficiar amigos ou para promover a si mesmo; sua luta sempre foi por justiça social.

Mesmo conhecendo a fundo a história do meu pai, escrever este texto foi uma das tarefas mais difíceis que já fiz. Na verdade, este artigo é uma carta aberta da minha família ao meu pai. Seus nove irmãos, nós – seus cinco filhos: Cristiano, Lenin, Caio, Camila e eu – e sua esposa, Ma Tatto, nos orgulhamos profundamente de sua trajetória e de suas conquistas pela cidade de São Paulo. Pelo homem que é, de onde veio e o que se tornou. Arselino Tatto não perdeu; quem realmente perdeu foi São Paulo, especialmente os mais pobres. A luta não termina aqui. A luta continua!

Sao Paulo pt Câmara Municipal de São Paulo

Leia também