Houve quem estranhasse as lágrimas logo após o fim. Mas, por trás do choro, Thaisa recontava os passos até chegar ao pódio montado na quadra em Saquarema. O título, a festa, os prêmios em mãos. Eleita a MVP e campeã da Superliga com o Minas, a central fez do pranto um desabafo. Ali, voltou no tempo à grave lesão que sofreu no joelho esquerdo em 2017, quando jogava na Turquia. Não foram poucos os que decretaram o fim da carreira da bicampeã olímpica. Hoje, quase quatro anos depois, celebra o status de melhor jogadora do Brasil na atualidade.

– Para mim, foi uma superação muito grande. Eu passei por uma situação que as pessoas não acreditavam que eu voltaria a jogar. E os que acreditavam não acreditavam que eu voltaria em alto nível. Então, graças a Deus, é um desabafo. Eu não teria conseguido nada se não fosse meu time, esse prêmio é nosso. Eu preciso de todas jogando bem para que eu consiga sobressair. Eu sou muito feliz e grata ao meu time, ao meu noivo, à minha família. Porque eles sabem o que eu passo quando ninguém está vendo. Lá em casa, quando eu estou chorando, quando eu estou com dor, quando estou com dúvida, quando eu vejo os “haters” falando um monte de coisas horrorosas. Essas lágrimas são de “eu consegui”, “eu ajudei”. De superação.

Thaisa, com os olhos ainda inchados, e o troféu de campeã — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa, com os olhos ainda inchados, e o troféu de campeã — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa deixou Saquarema com os troféus de MVP, melhor central e “Craque da galera”, em votação popular. No processo até voltar a jogar em alto nível, porém, lidou com dedos apontados em sua direção. No início, quando se preparava para o Mundial de 2018, no Japão, a proteção que passou a usar no joelho esquerdo gerava mais dúvidas do que certezas. A desconfiança foi mais um obstáculo a ser superado.

– Os brasileiros, muitos, mas não todos, esquecem muito rápido os feitos dos atletas e de muitas outras coisas. Esquecem disso. À primeira dificuldade, à primeira dúvida, é apontar o dedo, que não vai conseguir mais, que já passou. Então, você precisar superar suas dificuldades, suas dores, os seus limites e ainda passar por cima de tantas coisas ruins que chegam não é fácil. Só quem está no nosso lado que vê, nesse momento que não tem ninguém por perto, quando você está em casa, que a gente está estudando, tentando melhorar, evoluir. Então, é por todo esse momento de dor, de luta, que essa lágrima veio.

Thaisa e os troféus individuais — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa e os troféus individuais — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

No ano passado, antes de a Superliga ser cancelada por conta da pandemia do coronavírus, Thaisa já era apontada como maior destaque do país dentro de quadra. A evolução seguiu mesmo diante dos obstáculos impostos pela crise mundial. Hoje, após levantar a taça e somar mais um título à galeria, a bicampeã olímpica ressalta a entrega a cada jogo.

– Isso aqui é a nossa vida, nosso trabalho. Estamos aqui nos doando todos os dias, finais de semana, nós não temos férias, feriado. Isso aqui é a nossa alma. Por isso que dói quando a gente perde, por isso que a gente chora e se emociona quando ganha. Porque a gente dá a nossa vida, a gente se doa de corpo e alma. No dia que você não se emocionar mais, que não der mais o frio na barriga, você está no lugar errado. O vôlei é a nossa vida. Por isso nos emocionamos tanto. E as pessoas não entendem, acham que é “esporte, legal, cool, uma brincadeira”. Não. Não tem um dia que a gente acha que está mais ou menos e vai pegar um atestado médico e ficar fora. Tem de ir com dor, cansado, estressado. Tem de virar a chave e fazer. É amor e profissão, os dois ao mesmo tempo. Isso aqui não é brincadeira. É a nossa vida.

Thaisa e Megan Easy comemoram ponto na final da Superliga — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa e Megan Easy comemoram ponto na final da Superliga — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa também agradeceu o apoio do técnico Nicola Negro. O italiano foi um dos maiores entusiastas na chegada da jogadora ao clube onde começou a carreira.

– Ele foi um cara incrível. Sempre me colocou lá em cima, mesmo quando eu achava que não estava bem. Ele sempre valorizou tudo o que eu conquistei, e sempre falou com muito orgulho da minha carreira. O Minas também me contratou sem ter certeza que eu iria render e acreditou na minha recuperação. É muito bom voltar e trazer o título para um clube onde eu comecei minha carreira.

Agora, a central deve ganhar alguns dias de folga, à espera da convocação da seleção brasileira para as Olimpíadas de Tóquio. O técnico José Roberto Guimarães deve divulgar uma nova lista de convocadas, como nomes do Minas e do Praia Clube, ainda nesta semana.

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Fonte: GE – Globo Esporte.