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Testemunhas dizem que foram agredidas e ameaçadas por PMs que mataram carroceiro em SP

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que os policiais envolvidos na ocorrência, incluindo homens da força tática, foram afastados das ruas e estão agora

Testemunhas dizem que foram agredidas e ameaçadas por PMs que mataram carroceiro em SP
Testemunhas dizem que foram agredidas e ameaçadas por PMs que mataram carroceiro em SP

Redação Publicado em 13/07/2017, às 00h00 - Atualizado às 15h01


Carroceiro morto pela PM (Foto: Arquivo Pessoal)

Carroceiro morto pela PM (Foto: Arquivo Pessoal)

 Testemunhas da morte do carroceiro Ricardo Teixeira Santos, de 39 anos, na Rua Mourato Coelho, em Pinheiros, afirmaram na manhã desta quinta-feira (13) que a polícia recolheu cápsulas de bala do chão e agrediu e ameaçou pessoas que filmaram o assassinato na noite de quarta-feira (12).

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que os policiais envolvidos na ocorrência, incluindo homens da força tática, foram afastados das ruas e estão agora no serviço administrativo.

Ricardo foi morto com dois tiros após levantar uma madeira contra uma atendente de uma pizzaria que se recusou a dar um pedaço de pizza a ele e depois contra os policiais, ainda de acordo com as testemunhas.

“Ele levantou o pedaço de madeira e arremessou o pedaço de madeira no chão, em direção aos policiais. Na hora, na reação… Na hora que jogou o pedaço de pau, ele tomou três tiros. Tiraram todas as cápsulas de bala do chão e ameaçaram todos os populares que estavam em volta filmando. Inclusive machucaram gente nesta tentativa de pegar os celulares. A polícia agiu como criminosos. Foi isso o que aconteceu”, disse uma das testemunhas.

Um dos carroceiros que presenciou a cena, afirma que teve os dedos quebrados pela PM. As mãos dele estão inchadas e com marcas roxas.

“Ele pediu um pedaço de pizza. Aí, a menina não deu e começou a xingar ele, aí, ele voltou ali atrás e pegou um pedaço de pau. Só que quando ele chegou, a polícia já tinha chegado. a polícia já deu o primeiro tiro no peito, aí ele caiu e ainda gritou: ‘Me ajuda’. Quando ele gritou ‘me ajuda’ e eu vim para frente, a polícia pegou os meus dedos e quebrou tudo. Quase os dedos tudo”, disse.

Outra testemunha, uma mulher, afirmou que a polícia colocou o corpo no carro sem esperar a ambulância. “Ele caiu no chão e deram mais um tiro nele. Puseram ele num saco, jogaram dentro da viatura e sumiram com ele”, disse.

Um homem que gravou o crime disse que foi agredido pelos policiais. “Só que o pessoal da Força Tática, o cara colocou uma escopeta na minha barriga e me tomou meu celula. E apagou tudo minhas coisas do meu celular. E ainda me jogaram na parede lá e arrebentaram tudo meus dedos aqui ó”, afirmou.

Segundo um colega, que também atua recolhendo materiais recicláveis, Ricardo sofria de transtorno mental. De acordo com o amigo do carroceiro, apesar dos episódios de confusão mental, o homem, identificado apenas como Ricardo, nunca agrediu ou fez mal a alguém.

A cuidadora de idosos Aparecida Virgínia diz que a polícia foi chamada ao local por funcionários da pizzaria. Segundo ela, Ricardo havia se aproximado do estabelecimento para pedir um pedaço de pizza. “E ele estava com um pedaço de pau, mas ele não ia bater em ninguém porque eu conheço ele há seis meses já”, disse.

Testemunhas dizem que PMs atiraram contra catador de papel em Pinheiros

Testemunhas dizem que PMs atiraram contra catador de papel em Pinheiros

Carroceiro diz que policiais machucaram dedos dele (Foto: Paula Paiva/G1)

Carroceiro diz que policiais machucaram dedos dele (Foto: Paula Paiva/G1)

Corpo de carroceiro em rua de Pinheiros (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)

Corpo de carroceiro em rua de Pinheiros (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)

Cerca de 15 minutos após os tiros, os policiais colocaram a vítima dentro de uma viatura sob gritos de “assassinos” e “fascistas”. À reportagem, os agentes disseram que a socorreram para um hospital, mas não souberam informar qual. Eles tampouco deram mais detalhes sobre o ocorrido. Mais de 15 equipes da PM estavam no local e até um helicóptero sobrevoava a área.

O ouvidor da polícia, Julio Cesar Fernandes, também esteve por lá para levantar informações sobre o caso. Ele já adiantou que vai pedir que o Ministério Público entre na investigação. “Foi uma atitude que não tinha necessidade. Não [pode] atirar desnecessariamente. Esse policial não praticou o que tinha que praticar. Atirar é só em último caso”, disse.

A opinião é compartilhada por Álvaro Faleiro, outro a acompanhar a confusão na noite de quarta. “Era um louco com um pedaço de pau, não precisava ter feito isso, atirado dessa forma. Foi um assassinato brutal, ele poderia ter desarmado ele”, afirmou.

Ricardo tinha aproximadamente atuava como carroceiro nas ruas da Zona Oeste havia mais de 10 anos. Os tiros foram em frente a uma unidade do supermercado Pão de Açúcar e muitos clientes que estavam acostumados com a presença do homem se revoltaram com a polícia.

Em nota, a Polícia Civil disse que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) vai investigar o caso. A Corregedoria da PM também apura o caso. A carrocinha usada pela vítima para recolher papelão e outros materias recicláveis seguia no mesmo local na manhã desta quinta-feira (13).

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