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Russomanno corre risco de não chegar ao 2º turno outra vez; entenda por que

Celso Russomanno  foi oficializado candidato à prefeitura de São Paulo pelo Republicanos no dia 16 de setembro. Uma semana depois, o Datafolha divulgou sua

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Redação Publicado em 01/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h46


Candidato está em queda nas pesquisas; iG entrevistou eleitores que mantém voto no representante do Republicanos e outros que mudaram de ideia

Celso Russomanno  foi oficializado candidato à prefeitura de São Paulo pelo Republicanos no dia 16 de setembro. Uma semana depois, o Datafolha divulgou sua primeira pesquisa eleitoral na cidade, onde Russomanno aparecia na liderança, com 29% das intenções de voto, com 6 pontos de distância do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB).

Contudo, há 2 semanas da eleição, o candidato do Patriotas vê Covas se desgrudar cada vez mais, praticamente garantindo uma ida ao 2º turno, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) já aparece no retrovisor de Celso, com as pesquisas indicando um empate técnico.

Para o cientista político e Chefe do Departamento de Política na PUC-SP, Pedro Fassoni, a eleição deste ano acaba sendo um reflexo das anteriores:

“Acaba sendo padrão das eleições anteriores, em 2016 e 2012. O Russomanno é uma pessoas muito conhecida, não como político mas por conta de sua presença midiática constante no programa de TV em que apresenta e se colocar como um defensor dos direitos do consumidor, isso acaba criando uma identificação com o eleitorado mais pobre, menos escolarizado, que se identifica com essa questão”.

O programa em questão é a ‘Patrulha do Consumidor’, onde Russomanno atua como um mediador de consumidores que se sentem lesados por serviços prestados por empresas. Atualmente, o programa é exibido na TV Record.

O engenheiro eletricista José Álvaro Graça conta que escolheu Celso Russomanno como sua opção de voto após sua equipe ajudá-lo em um problema com um banco:

“Minha esposa foi assaltada e levaram seu celular, ao chegar em casa 10 minutos depois ela bloqueou o aparelho e achávamos que estava tranquilo, contudo, no dia seguinte ela recebeu uma mensagem que sua conta estava com problemas que haviam feito transferências no valor de R$ 110 mil. Após algumas semanas o problemas com outros dois bancos já estavam sendo resolvidas, mas o Bradesco negou a ressarcir o valor. Um amigo deu a idéia de levar a questão para a imprensa, e como o Russomanno é esse cara que defende o consumidor, ligamos para o programa e tivemos uma reunião com sua equipe, que nos recebeu muito bem e no mesmo dia entraram em contato com o banco. 2 dias depois o pedido foi acatado e minha esposa recebeu de volta o valor.”

Álvaro diz ser contra “qualquer partido de esquerda”, e considera o universo político “completamente podre”, mas elogiou Celso:

“Nós vemos que o Russomanno é um cara diferente. O principal motivo para eu votar nele se deu pelo caso da minha esposa, mas não por eu ter sido beneficiado, eu reparei que eles trabalham sério e estavam querendo me ajudar, com boa vontade, eles (assessores) nem pediram voto, não teve esse diálogo.”

Porém, Fassoni pondera que não basta apenas ajudar o consumidor, e que falta preparo ao candidato:

“Ao decorrer da campanha, quando os candidatos são forçados a mostrar suas ideias e planos de governo. O russomanno se mostra muito hesitante, o discurso dele de defender os direitos do consumidor é muito diferente do que ele faz no congresso nacional como deputado, já que ele votou em momentos importantes contra interesses da classe trabalhadora, como no caso da reforma da previdência, trabalhista e da concessão do auxílio emergencial. Então quando é confrontado por adversários sobre questões de saúde, transporte público e educação ele acaba dando respostas muito vagas, genéricas, e acaba mostrando que não tem um plano de governo.”

Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 22, chama a atenção a grande rejeição que o Deputado Federal licenciado tem na cidade. 38% dos eleitores afirmaram que não votariam de jeito nenhum em Russomanno.

Murilo Cintra, estudante de História na FFLCH, faz parte desta estatística:

“Celso Russomanno representa a velha política, ele é um famoso político ‘cirandeira’, que defende os interesses de quem estiver na cadeia de poder no momento, ele já defendeu a Dilma, e agora o Bolsonaro. Qualquer político que possa render eleitorado ele irá defender. Sem contar o vídeo em que ele humilha a caixa de supermercado”, crítica.

O episódio da caixa de supermercado se refere a operadora de caixa Cleide Cruz, que durante um programa de TV de 2005, em que Celso era o apresentador, e com os ânimos mais exaltados, rasga pacotes de papel higiênico e caixas de fósforo, alegando querer comprar apenas uma unidade. Visivelmente incomodada, Cleide não tem reação, e pode para que ele converse com o gerente, enquanto Russomanno ameaça ligar para polícia. Recentemente,Cleide cruz viralizou na web ao recitar um poema em repúdio à sua campanha, “ele é um oportunista”, afirmou.

Para tentar alavancar sua campanha, Celso Russomanno se aproximou do Presidente Jair Bolsonaro. Apadrinhado por Jair, o candidato chegou a afirmar em sua propaganda eleitoral que o presidente havia pedido para que ele “tomasse conta de São paulo”, além do mais, Bolsonaro aparecia no jingle de campanha, com os trechos: “Com Russomanno e Bolsonaro, quem ganha é a nossa cidade” e “Bolsonaro apoiando” no refrão da canção.

Todavia, Bolsonaro não goza de prestígio na capital paulista. Em pesquisa Ibope divulgada durante o mês de outubro, 48% dos paulistas classificam sua gestão como péssima ou ruim. Somada a queda nas intenções de voto, Russomanno se distanciou da imagem do presidente e as inserções relacionadas a ele nos programas de TV e rádio sumiram.

“(o apoio do Bolsonaro) acaba atrapalhando. A estratégia traçada por seu comitê mudou, ele já está fazendo poucas referências ao Bolsonaro, diferente de quando começou a campanha eleitoral, e vem procurando se distanciar do presidente, já que ele tem uma rejeição muito grande na cidade de São Paulo. Então a situação mudou muito em relação a eleição de 2018, fruto da crise econômica, aumento do desemprego e da pandemia do coronavírus, a popularidade dele caiu bastante, e mostrou que seu apoio não é o suficiente para eleger um aliado na prefeitura de São Paulo, então pode surgir um efeito contrário”, analisa Pedro Fassoni, que considera que os bons números de Covas e Boulos nas últimas pesquisas fruto dessa imagem distante do presidente.

A dona de casa Stefanie Silva dos Santos é um exemplo de eleitora que mudou de voto por conta da “coligação” feita por Celso com o representante do cargo mais alto da nação.

“Eu ia votar no Russomanno por conta de tudo que ele faz pelo povo, mas como ele está recebendo apoio do Bolsonaro, eu sei que ele fará tudo o que o presidente mandar, por isso mudei de voto”. Stefanie completa dizendo sua condição para votar no candidato do Patriota: “Se o Russomanno se aliasse ao PT, eu votaria nele”.

A pouco mais de duas semanas para o 1º turno das eleições municipais, Celso Russomanno tenta pela primeira vez chegar ao 2º turno após dois fracassos nas eleições passadas. Em um pleito atípico, com menos debates e menos exposição, Russomanno mantém esperanças de uma disputa contra o psdbista Bruno Covas (ou Bruno-Dória) como é dito em sua campanha, para atacá-lo, mas será difícil, já que a tendência é de queda, e de candidatos que vem logo atrás, como Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), de alta.

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IG

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