Tico era daquelas pessoas populares, que facilmente se conectava às demais por onde passava. Caboclinho simples do interior. Fala mansa, cultura pouca,
Redação Publicado em 25/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 08h54
Tico era daquelas pessoas populares, que facilmente se conectava às demais por onde passava. Caboclinho simples do interior. Fala mansa, cultura pouca, esperteza muita. Filho de boias-frias, sempre teve vida simples, ao lado de seus seis irmãos, no casebre de dois cômodos na pequena e pobre Vila Alba, no alto Araguaia.
Por onde ia, formava rodinha em volta para ouvi-lo. Ele tinha carisma. Logo, as velhas raposas da política perceberam que estavam diante de um personagem útil para os escusos e pouco republicanos objetivos de poder na região.
Tico, sem dificuldades se elegeu Deputado Federal. Passa a ser cortejado como nunca tinha sido antes na vida. Era convidado para festas, todos o cumprimentavam com entusiasmo e ineditamente começou a fazer sucesso com as mulheres.
O novo poder chegou em sua vida vertiginosamente. Permitiu-se tutelar pelos líderes do partido e Tico começou a ser incumbido de apresentar emendas parlamentares por determinação deles, que diziam a ele que aquilo se referia a obras importantes para o progresso de Vila Alba, começando Tico a receber maços de dinheiro vivo, que jamais recusou.
Quando se deu conta, estava enredado num sofisticado esquema, do qual se beneficiava e em razão do que se tornou um homem rico, mesmo sabendo que a pobreza se mantinha intacta em seu grotão de origem. Os recursos das emendas que apresentava nunca chegavam ao destino.
Numa tarde, ao saber que a Polícia viria à sua casa fazer uma busca, correu para se livrar das evidências. Mas ainda restavam os trinta e três mil reais do “açaí” (codinome da propina). Tinha acabado de receber o dinheiro e acomodou os maços de notas de 200 no interior da cueca, alguns deles nas nádegas, diante da convicção de que a Polícia não chegaria ao ponto de querer fazer uma revista íntima.
Mesmo nervoso, recebeu os policiais, mas o pior aconteceu e Tico exposto em rede nacional de TV. Resolveu esperar alguns dias para ver se a poeira baixava e recebeu instruções de seus advogados para gravar vídeo em tom emocional, quase choroso, dizendo que o dinheiro se destinaria a pagar alguns valores devidos a compadres.
A leitura gaguejada do texto que Tico não conseguiu decorar denunciou a artificialidade da cena, que revoltou as pessoas ainda mais. Ele percebeu que não se saiu bem, mas estava tranquilo, repetindo aos amigos: tudo se resolverá com o próximo. Ninguém compreendeu até o surgimento do próximo escândalo, que absorveu toda a atenção da opinião pública, deixando Tico coberto pela nuvem do esquecimento.
Roberto Livianu é procurador de Justiça em SP, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção e escritor. Autor de 50 Tons da Vida.
Instagram @robertolivianuoficial
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