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Novo prédio mais alto de São Paulo será inaugurado em 2022 no Tatuapé

Quase 100 anos após a construção do primeiro arranha-céu da cidade, São Paulo irá inaugurar, em 2022, um novo gigante em sua paisagem. Com seus 172 metros de

Novo prédio mais alto de São Paulo será inaugurado em 2022 no Tatuapé
Novo prédio mais alto de São Paulo será inaugurado em 2022 no Tatuapé

Redação Publicado em 18/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h59


Inauguração de arranha-céus no bairro acende debate sobre a verticalização da cidade e revisão do Plano Diretor.

Quase 100 anos após a construção do primeiro arranha-céu da cidade, São Paulo irá inaugurar, em 2022, um novo gigante em sua paisagem. Com seus 172 metros de altura, o ‘Platina 220’ supera o posto de mais alto prédio da capital, deixando para trás o Mirante do Vale, dois metros mais baixo.

E pela primeira vez o prédio mais alto de São Paulo não está localizado no Centro da capital, e sim no bairro do Tatuapé, na Zona Leste da cidade. A sua inauguração aponta para uma tendência de verticalização no tradicional bairro paulistano que há anos vem trocando seu cenário de sobrados e vilas por edifícios.

Ainda em construção no número 220 da rua Bom Sucesso, o ‘Platina’ ganhou o posto de mais alto da cidade em março de 2021, quando o seu 50º e último andar foi construído.

Até agora, foram usadas 2.300 toneladas de aço e 29.100 metros cúbicos de concreto. Para segurar o gigante, 32 metros de estacas perfuram o solo e dão sustentação à construção. Vinte elevadores deverão ser instalados para o acesso do público no prédio que terá uso misto, ou seja, salas comerciais e apartamentos residenciais.

Prédios mais altos de São Paulo:

  • Platina 2020 – 172 metros
  • Mirante do Vale – 170 metros
  • Figueira Altos do Tatuapé – 168 metros
Prédio mais alto de São Paulo tem 172 metros e é o primeiro a carregar o título e não estar localizado na região central. Edifício fica no Tatuapé, na Zona Leste da cidade. — Foto: Giaccomo Vocio/G1
Prédio mais alto de São Paulo tem 172 metros e é o primeiro a carregar o título e não estar localizado na região central. Edifício fica no Tatuapé, na Zona Leste da cidade. — Foto: Giaccomo Vocio/G1

Nascido e criado no Tatuapé, o urbanista Lucas Chiconi acredita que o conjunto de transformações trazidas pelos novos – e altos – empreendimentos apaga a memória e a identidade do bairro. Em 2019, Chiconi fez parte de um grupo que tentou impedir a demolição de um conjunto de casas da década de 50 que faziam parte da vila operária João Migliari, a 1 km de onde está o Platina 220.

Vinte das 60 casas foram demolidas para a construção de um empreendimento. As 40 casas restantes passaram a ser avaliadas pelos órgãos do patrimônio histórico. Mas, antes que o resultado saísse, o proprietário mandou demolir as casas. Apenas cinco casas permanecem de pé, ao lado de um terreno baldio cercado por tapumes, onde antes era o restante da vila.

“São justamente esses conjuntos de casas, com importância arquitetônica, social e econômica, que me ajudam a me identificar como cidadão do Tatuapé”, conta Chiconi.

Também era uma série de casas que ocupava o quarteirão onde hoje está o prédio mais alto de São Paulo. Casas geminadas de diferentes cores, que remetiam a um período de ocupação industrial do bairro, abrigavam residências e pequenos comércios.

Registro de 2010 das casas que ocupavam espaço onde foi erguido o prédio mais alto de São Paulo, o 'Platina 220', no Tatuapé, na Zona Leste — Foto: Reprodução/Google Street View
Registro de 2010 das casas que ocupavam espaço onde foi erguido o prédio mais alto de São Paulo, o ‘Platina 220’, no Tatuapé, na Zona Leste — Foto: Reprodução/Google Street View

O urbanista explica que, desde os anos 2000, o bairro passa por um intenso processo de verticalização. A partir de 2010, esse fenômeno ganhou empreendimentos mais luxuosos, que o especialista nomeia como perfil “ostentação”.

Para Aline Meira, arquiteta e coordenadora de Ciência Urbana da Porte Engenharia e Urbanismo, construtora responsável pelo Platina 220, o novo sempre causa um impacto muito grande para as pessoas. Segundo Aline, a construtora não buscou o título de mais alto, mas apostou na verticalização para que o prédio pudesse usar a menor área possível do terreno, e assim, tenha mais área dedicada a calçadas e áreas verdes.

Desta forma, em vez de construir duas torres de 25 andares, por exemplo, optou por uma de 50. “É uma solução que somente um recuo maior [entre o imóvel e a rua] e uma torre mais estreita e mais verticalizada permitem”, defende Aline.

A construtora nasceu na região há 35 anos e os lançamentos pretendem atrair empresas para a Zona Leste e oferecer apartamentos residenciais de alto padrão, como o “Figueira Altos do Tatuapé”.

A 1,4 km do Platina 220, no miolo do bairro, ele se tornou o residencial mais alto da cidade, previsto para ser inaugurado em agosto. Ainda que seja quatro metros menor do que o Platina, o prédio está em um ponto mais elevado da região, o que lhe confere um gigantismo ainda maior.

Este é um dos representantes do que o urbanista Chiconi chama de “ostentação”. Com apartamentos de 337 metros quadrados sendo vendidos a partir de cerca de R$ 5 milhões, o residencial já teve 47 dos seus 48 imóveis vendidos.

Recentemente, uma foto viralizou na internet mostrando a extensa sombra causada pela construção de 168 metros sobre as casas baixas de seu entorno.

Pela legislação atual da cidade, o prédio sequer poderia ser construído naquele local. Mas, meses antes da aprovação do atual Plano Diretor, que orienta como e para onde a cidade deve crescer até 2030, a construtora protocolou o pedido de obras do residencial Figueiras.

O pedido de aprovação das obras na Prefeitura de São Paulo foi feito em setembro de 2013, e em julho de 2014 o Plano Diretor foi sancionado, limitando em oito andares os novos prédios construídos no interior dos bairros. Por ter feito o pedido de construção antes da regra, o Figueiras pôde construir 50 andares, em vez dos oito previstos na nova legislação.

A regra quer evitar que os miolos de bairros sejam verticalizados, causando transtornos de mobilidade e infraestrutura. “Se a gente tem vários arranha-céus, acaba acontecendo o que a gente vê na Vila Olímpia, por exemplo, onde tem congestionamento de carro na garagem antes mesmo de sair do edifício”, explicou a arquiteta e urbanista Danielle Klintowitz, coordenadora do instituto Pólis e integrante do Conselho Municipal de Política Urbana. Cada um dos 48 apartamentos do Figueiras tem cinco vagas de garagem.

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G1

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