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COLUNA

"Eu tinha por volta de 7 a 8 anos", diz Duca Rachid sobre o nascimento de seu amor pelo cinema

Autora vencedora de dois "Emmy Internacional" fez revelações durante entrevista a Silvio Cerceau

Duca sobre escrever uma novela: "É uma responsabilidade imensa" - Imagem: Reprodução
Duca sobre escrever uma novela: "É uma responsabilidade imensa" - Imagem: Reprodução
Analice Nicolau

por Analice Nicolau

Publicado em 21/11/2023, às 13h00


Duca Rachid fez várias revelações durante uma entrevista concedida a Silvio Cerceau.  A autora vencedora de dois "Emmy Internacional" falou sobre o nascimento de seu amor pelo cinema e acerca do sucesso de de seu último trabalho: a novela "Amor Perfeito".
Duca tem um estilo peculiar que aborda com sensibilidade os temas em suas obras e é considerada uma das maiores dramaturgas do momento. Sua última novela, "Amor Perfeito", foi escrita em coautoria com Júlio Fischer e Elisio Lopes Jr e terminou em setembro. Um folhetim clássico que conquistou o público e tem sua inspiração em uma memória de infância da escritora. A inspiração para a obra veio do livro "Marcelino Pão e Vinho". "Marcelino Pão e Vinho foi o primeiro filme que vi com minha avó .

"Nossos personagens geraram empatia por parte do público, algo que ficou patente em inúmeras manifestações nas redes sociais", afirma a escritora
Imagem: Reprodução

Meu primeiro contato com o cinema. Eu tinha por volta de sete a oito anos.  E ali nasceu o meu amor pelo cinema e o desejo de trabalhar com áudio visual. Só fui ler o livro anos mais tarde. Então essa é uma história muito cara pra mim. Eu e o Júlio Fischer tínhamos escrito essa sinopse em 2003, quando ainda escrevíamos o Sítio do Picapau Amarelo.  Quando vi Anne com E, uma história de órfã, que fez muito sucesso na Netflix, me lembrei desse trabalho e resolvemos apresentá-lo à casa.  O Sílvio ainda comandava a dramaturgia e ficou empolgado com a ideia, assim como o Villamarin", diz Duca.

Elisio Lopes Júnior, Duda Rachid e Julios Fischer
Imagem: Reprodução


A escritora conta ainda que a história fez abordagens sutis de temas importantes e atuais como o racismo e machismo. "Claro que isso passaria sim pelo nosso racismo estrutural e também pelo machismo.  Temas que, infelizmente, ainda continuam atuais e que tem a ver com compreensão, escuta, acolhimento, aceitação, com amor, enfim. Fomos pesquisar e descobrimos que no Brasil sempre existiu uma elite negra, que nunca tinha sido retratada, principalmente numa novela de época. E cuja história foi apagada pela narrativa branca. Então resolvemos escrever essa história em que também falamos de racismo – que não pode ser ignorado, mas onde os personagens não estão ali só com esse fim, para sofrer o racismo, mas vivendo suas vidas, suas histórias,  sua cultura, sua estética, seus sonhos e anseios, e oriundos das mais diversas camadas sociais.  

"Fomos pesquisar e descobrimos que no Brasil sempre existiu uma elite negra, que nunca tinha sido retratada", afirma Duca
Imagem: Reprodução

E assim como tivemos muitas pessoas negras pioneiras nos seus ramos de atuação,  tivemos também muitas mulheres, nas artes, na literatura, nas ciências, na política. Um exemplo é Alzira Soriano, a primeira mulher a se tornar prefeita de uma cidade no Rio Grande do Norte, e que serviu de inspiração para a trajetória de Cândida Evaristo, personagem de Zezé Polessa", detalha a escritora.
Além dos temas pesados, a novela, claro, falou do amor em suas diversas formas. "Uma vez que nossa premissa era falar do amor em suas mais diversas formas e manifestações, procuramos desenhar cada personagem – inclusive a nossa grande vilã – sob a ótica da sensibilidade e da busca por camadas de suas personalidades, de modo que não ficassem chapados.  Acreditamos que foi por esse motivo que vários dos nossos personagens geraram empatia por parte do público, algo que ficou patente em inúmeras manifestações nas redes sociais.  Além disso, tivemos a sorte de contar com uma direção e uma equipe de cenografia, figurino, caracterização, direção musical, etc., totalmente afinada com o nosso propósito enquanto autores o que contribuiu imensamente para o resultado final", conta Duca Rachid.

"Acreditamos em contribuir para interferir positivamente no mundo em que vivemos", diz Duca sobre suas obras
Imagem: Reprodução


Por fim, a escritora falou sobre o desafio de produzir obras que conquistem o público, em especial, uma novela. "É uma responsabilidade imensa, como você bem sabe. Atualmente, com o fenômeno das redes sociais, podemos auferir, quase que em tempo real a maneira como as tramas impactam o espectador – quer positiva, quer negativamente.  Acreditamos que o fato de estarmos criando entretenimento não nos isenta de procurar contribuir para, de alguma forma e em alguma medida, interferir positivamente no mundo em que vivemos – quer gerando empatia para com algum grupo ou questão social marginalizado, quer chamando a atenção para alguma questão que pode gerar reflexão e questionamento por parte do espectador, quer, no mínimo oferecendo ao espectador uma novela de qualidade, que cumpra sua missão de entreter o espectador respeitando a sua sensibilidade e inteligência", conta Duca.

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