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O que é Alopecia Areata e como funciona seu tratamento?

A Alopecia Areata é mais comum em adultos jovens

A Alopecia Areata é mais comum em adultos jovens, porém é um susto que ainda pode acontecer com pessoas de qualquer idade, incluindo crianças pequenas - Imagem: Reprodução/Instagram @_alopeciaareata
A Alopecia Areata é mais comum em adultos jovens, porém é um susto que ainda pode acontecer com pessoas de qualquer idade, incluindo crianças pequenas - Imagem: Reprodução/Instagram @_alopeciaareata

Ana Rodrigues Publicado em 07/11/2023, às 12h12


Embora seja mais comum em adultos jovens - homens e mulheres com a mesma proporção -, é um susto que ainda pode acontecer com pessoas de qualquer idade, incluindo crianças pequenas. Os cabelos e pelos do corpo caem do dia para a noite, de maneira um tanto abrupta, típico da alopeciaareata.

Segundo o VivaBem, soltam-se tufos do nada, deixando uma área do couro cabeludo totalmente à mostra. Mas, há aqueles casos generalizados, em que, de repente, não sobra um fio na cabeça, aliás talvez aconteça de nem sequer crescer nas sobrancelhas e em outras áreas.

A angústia é aumentada, além do quesito aparência, devido a incerteza. Se alguém garantir que, um dia, os cabelos voltarão a crescer, estará chutando.

Em alguns pacientes, de fato isso pode acontecer espontaneamente depois de alguns meses. Em outros, porém, essa perda será duradoura. Existem pessoas que não respondem nem mesmo ao tratamento de imunossupressão e ficam sem cabelos para sempre", contou a professora Renata Magalhães.

Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a médica chefia o Serviço de Dermatologia, um dos centros que participaram do estudo de fase 3 de um novo medicamento, o baricitinibe, aprovado há duas semanas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Não há, nessa impressão da dermatologista, um fio de exagero, se a gente olhar para os resultados que levaram à sua aprovação. A molécula, desenvolvida pelo laboratório Eli Lilly, foi usada em 1.200 adultos —inclusive em brasileiros acompanhados na Unicamp— com alopecia areata grave. Ou seja, eles tinham perdido de metade a 100% dos cabelos. Mas em seis meses de tratamento, para 22% dos pacientes, 80% da área do couro cabeludo que tinha ficado "pelada" foi recoberta.

As causas da alopecia areata permanecem no "escuro". No imaginário popular, o problema é sempre atribuído ao estresse, mas não é bem assim. De acordo com a professora Renata Magalhães, um episódio de estresse agudo, como morte inesperada de um familiar ou a mudança de país, é capaz de mexer no eixo que liga os nossos sistemas nervoso, endócrino e imunológico, deflagrando a confusão.

Também podem servir de gatilho algumas infecções ou o uso de medicamentos", disse a professora, para dar mais exemplos.

Seja qual for o fator desencadeante, o que se sabe é que se trata de uma doença em que o sistema imunológico está envolvido, com o perdão do trocadilho, até o último fio de cabelo.

Nessa história, ainda há um componente genético, tanto é que, às vezes, existem casos na família da própria alopecia areata ou de outras condições autoimunes. Esse tipo de alopecia pode estar associado a outras doenças autoimunes, como o hipotireoidismo, provocado pela inflamação constante da tireoide e o diabetes tipo 1, que surge quando o pâncreas é atacado pelas células de defesa.

Quando o folículo piloso é o alvo de células imunológicas e moléculas inflamatórias, ele simplesmente para de funcionar.

Ele interrompe a produção de cabelo e elimina aquele que estava ali, ocupando o seu espaço", descreveu a professora Renata.

Após um tempo de evolução desses ataques, o próprio folículo tende a desaparecer.

Por isso, a chance de os fios voltarem, quando a doença já existe de longa data, acaba sendo menor", lamentou informar Renata Magalhães.

Essa, porém, não é uma norma rígida: há exceções, ou seja, gente com anos de alopecia areata que, ao ser tratada, volta a ter cabelos. Difícil é saber quem é quem. O prognóstico também é pior entre aqueles em que a alopecia areata surge cedo, antes dos 10 anos de idade, e que apresentam áreas de acometimento no couro cabeludo muito extensas.

Segundo Renata Magalhães, antes não tinha muita opção para tratar essas pessoas. A resposta aos tratamentos é muito variada: em alguns, os resultados aparece, ligeiro e, noutros, se aparecem, isso só é notado meses depois.

Quando a alopecia cria áreas localizadas sem fios, os médicos costumam apelar para corticoides tópicos, como cremes, ou injetam esses anti-inflamatórios na região desprovida de fios. Eles também podem indicar o minoxidil a tópico, substância que, aumentando a irrigação sanguínea no folículo, às vezes ajuda a recuperar sua função.

Se as áreas sem cabelos são extensas, porém, o corticoide oral acaba sendo uma opção. O problema, aí, são os eventos adversos que podem surgir com o tempo de uso do medicamento", disse a médica

Finalmente, para os casos mais graves, os dermatologistas prescrevem imunossupressores combinados com a finesterida.

Só que não importa qual o tratamento: em geral, quando ele é interrompido, os fios voltam a cair", avisou a médica.

O baricitinibe é um inibidor da Janus quinase. O nome dessa enzima é escrito assim mesmo, com "J" maiúsculo, mas os médicos também a chamam de JAK. Ela é encontrada na membrana dos linfócitos, fazendo parte dos receptores de moléculas inflamatórias, as famosas citocinas, que, ao se encaixarem bem ali, não permitem o cessar-fogo do sistema imunológico.

Quando a pessoa toma o baricitinibe, ele gruda nessa JAK, impedindo a ligação da citocina e, consequentemente, toda a reação que culmina na agressão ao folículo piloso", descreveu, de um jeito fácil, a professora Renata.

Ela lembra que esse medicamento já era usado, inclusive no Brasil, para tratar outras doenças, como a artrite reumatoide e a dermatite atópica. Com o tempo, notou-se que pacientes que tinham uma dessas condições e alopecia areata ao mesmo tempo acabavam melhorando da queixa capilar. Foi aí que o baricitinibe passou a ser estudado em quem sofreu essa queda brusca dos cabelos.

Segundo a dermatologista, os eventos adversos são raríssimos, embora constem na bula. Um deles seria deixar os pacientes mais sujeitos a doenças infecciosas.

Mas, quando isso acontece —e friso que não é frequente— são infecções mais leves, como herpes labial, facilmente controladas", assegurou a professora.

O que ainda ninguém sabe é se o uso do baricitinibe deverá ser para o resto da vida ou se, mesmo sendo contínuo, os fios não voltariam a despencar se a dose diárias fosse diminuída com o tempo - sendo por dia, um comprimido.

Outra questão é se o baricitinibe seria seguro e eficiente para crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, já que esse grupo também pode sofrer de alopecia areata. Há um estudo sendo conduzido com pacientes nessa faixa etária, mas as primeiras respostas estão previstas para daqui a exatamente um ano, em novembro de 2024.

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