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Governo Bolsonaro mandou incinerar medicamentos de alto custo para doenças raras

Vacinas e remédios para pessoas com câncer e HIV foram queimados

Governo Bolsonaro mandou incinerar medicamentos de alto custo para doenças raras - Imagem: Agência Brasil
Governo Bolsonaro mandou incinerar medicamentos de alto custo para doenças raras - Imagem: Agência Brasil

Nathalia Jesus Publicado em 16/03/2023, às 14h52


Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), remédios de alto custo para o tratamento de pessoas com doenças raras foram incinerados, estima-se que pelo menos R$ 13,5 milhões em medicamentos tenham sido descartados.

Entre os itens incinerados, estão duas doses do Spinraza, cada uma comprada por R$ 160 mil pelo governo federal. O remédio, considerado um dos mais caros do mundo, é utilizado por pacientes com AME (atrofia muscular espinhal).

Segundo as informações obtidas pelo jornal Folha de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação, até o começo de 2023, o Ministério da Saúde havia deixado vencer 39 milhões de vacinas contra a Covid-19.

Excluindo as vacinas contra a Covid, os dados compartilhados pela Saúde apontam que já foram descartados produtos avaliados em R$ 214,2 milhões desde 2019 (valor que inclui imunizantes contra outras doenças). Outros insumos, de mais R$ 38 milhões, ainda estão na fila da incineração.

Entre os itens perdidos estão vacinas de diversos tipos —contra sarampo e rubéola, pentavalente, hepatites e tríplice viral—, além de medicamentos contra câncer, hepatite Ce outras doenças.

Testes e medicamentos para pessoas que vivem com HIV também foram descartados, ao todo, somente neste caso, são itens avaliados em R$ 8,5 milhões.

Quando o recorte vai para doenças raras, 949 unidades de Translarna, usado para pacientes com distrofia muscular de Duchenne, que causa degeneração muscular progressiva, entraram para a lista de incineração. Os lotes custaram R$ 2,74 milhões para os cofres públicos.

Os dados sobre estoques da Saúde estavam sob sigilo desde 2018. No fim de fevereiro, a CGU (Controladoria-Geral da União) recomendou revisão dessa reserva. A pasta comandada por Nísia Trindade liberou, por enquanto, a relação de produtos descartados.

Durante a campanha, o governo Bolsonaro apresentava como uma de suas bandeiras a atenção pela causa de pessoas com doenças raras. Em 2021, o governo chegou a lançar o novo mascote do SUS, a Rarinha, em uma cerimônia com a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Veja a relação dos medicamentos de alto custo perdidos a partir de 2018:

Translarna

Tratamento: distrofia muscular de Duchenne

Unidades incineradas: 949

Valor: R$ 2,74 milhões

Betagalsidase

Tratamento: doença de Fabry

Unidades incineradas: 259

Valor: R$ 2,46 milhões

Eculizumabe

Tratamento: hemoglobinúria paroxística noturna

Unidades incineradas: 127

Valor: R$ 1,73 milhão

Vimizim

Tratamento: mucopolissacaridose IVA

Unidades incineradas: 632

Valor: R$ 1,61 milhão

Galsulfase

Tratamento: mucopolissacaridose VI

Unidades incineradas: 283

Valor: R$ 1,24 milhão

Alfagalsidase

Tratamento: doença de Fabry

Unidades incineradas: 272

Valor: R$ 1 milhão

Metreleptina

Tratamento: síndrome de Berardinelli-Seip

Unidades incineradas: 47

Valor: R$ 1,1 milhão

Idursulfase

Tratamento: síndrome de Huner

Unidades incineradas: 186

Valor: R$ 985 mil

Nusinersen (Spinraza)

Tratamento: atrofia muscular espinhal (AME)

Unidades incineradas: 2

Valor: R$ 319 mil

Nitisinona

Tratamento: tirosinemia hereditária do tipo 1

Unidades incineradas: 1.200

Valor: R$ 229 mil

Alentuzumabe

Tratamento: esclerose múltipla

Unidades incineradas: 2

Valor: R$ 56 mil

Kanuma

Tratamento: deficiência de lipase ácida

Unidades incineradas: 1

Valor: R$ 23 mil


Total: R$ 13,5 milhões

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