Comerciantes e trabalhadores da construção civil são os profissionais que mais morreram por Covid-19 na cidade de São Paulo, de acordo com um estudo feito
Redação Publicado em 02/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h03
Comerciantes e trabalhadores da construção civil são os profissionais que mais morreram por Covid-19 na cidade de São Paulo, de acordo com um estudo feito pelo Instituto Pólis divulgado nesta terça-feira (1). Para os pesquisadores, os números indicam a necessidade de repensar o que é serviço realmente essencial para a vida em um momento de emergência sanitária mundial.
Para o levantamento foram utilizados dados da Secretaria Municipal de Saúde, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, do período entre março de 2020 e março de 2021.
O período analisado somou 30.796 mortes registradas por Covid-19 na capital paulista, sendo que os trabalhadores e as trabalhadoras empregados representaram a maior quantidade de vítimas (37,8%).
Analisando especificamente a ocupação, os pesquisadores descobriram que os comerciantes (5%), e os pedreiros e engenheiros da construção civil (4,1%), foram aqueles que mais morreram por Covid-19 entre março de 2020 e março de 2021 na cidade de São Paulo.
Ambas as profissões são enquadradas como serviço essencial, conforme o decreto federal de março de 2020, mas, por liderarem os números de vítimas da Covid na cidade, deveriam ser reavaliadas nesta categorização, na opinião dos pesquisadores do Instituto Pólis.
“O setor de alimentação, por exemplo, foi menos impactado do que essas duas classes na capital, com 1% de todas as mortes por Covid no período. Por quê? Porque houve uma política de restrição – ficou fechado e depois aberto com muitos protocolos. É difícil defender que a construção civil seja diferente do setor de alimentação e, este, sim, fundamental para a manutenção da vida. Esses 4% de mortes poderiam ser evitadas com a suspensão temporária das obras junto ao auxílio do governo”, disse Danielle Klintowitz, arquiteta, urbanista e coordenadora do Instituto Pólis.
O Pólis estima que 6,5% de todas as mortes foram de pessoas que trabalhavam em atividades que poderiam ter sido consideradas como não essenciais, como empregadas domésticas, além da construção civil.
Flores em cima de túmulos no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, em foto de 17 de abril. — Foto: KAREN FONTES/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO
Questionada sobre argumento de parte dos governantes de que, se não permitirem que as pessoas saiam de casa, um problema econômico seria estabelecido, a pesquisadora esclarece a falha desta suposta relação de causa e consequência.
“É uma falácia relacionar fome e isolamento social. A política de isolamento não deveria ser individual – é politica pública. Não basta o estado fazer campanha para que todos fiquem em casa e jogar a responsabilidade de conter a pandemia sobre o cidadão; o estado tem que garantir que o isolamento seja possível com auxílio econômico. O Brasil tem muito recurso, mas obviamente que não é ilimitado e precisa de prioridades, interrompendo, por exemplo, grandes obras que não ajudam no enfrentamento à pandemia”, explicou Danielle Klintowitz, coordenadora do Instituto Pólis.
Já o setor de saúde, composto por profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à pandemia, não se destacou no total de mortes e representou 1% das vítimas. Os pesquisadores atribuem este percentual ao fato de que a categoria foi a primeira a ser imunizada, e inclui equipes de limpeza e segurança, cujas mortes não são identificadas segundo o local de trabalho.
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