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Doenças do coração

1/3 das pessoas adultas no mundo sofre de pressão alta; situação no Brasil é preocupante

De acordo com estudo da OMS, a idade avançada e a genética podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença

De acordo com estudo da OMS, a idade avançada e a genética podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença - Imagem: Reprodução/Freepik
De acordo com estudo da OMS, a idade avançada e a genética podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença - Imagem: Reprodução/Freepik

Ana Rodrigues Publicado em 26/09/2023, às 12h15


A OMS (Organização Mundial da Saúde) pela primeira vez divulgou um relatório, onde detalha o impacto global da hipertensão arterial, com dados sobre a incidência da doenças em cada país. Segundo o estudo, um a cada três adultos em todo mundo sofre com pressão altae o Brasil encontra-se acima da média, com 50,7 milhões de hipertensos entre 30 e 79 anos (ou seja, cerca de 45% da população).

A organização chamou a doença de "assassina silenciosa" e seu impacto de "devastador". A hipertensão não provoca sintomas, mas pode levar à morte ao provocar acidente vascular cerebral (AVC), ataque cardíaco, danos renais, entre outros problemas graves de saúde. Importante reforçar que, devido não ter sintomas, há uma baixa adesão da população ao tratamento.

Em matéria do UOL, consta que, quatro em cada cinco pessoas com hipertensão não são tratadas corretamente em todo o mundo, apontou pesquisa internacional. Mas, caso os países aumentem a cobertura do tratamento, aproximadamente, 76 milhões de mortes, 120 milhões de AVCs, 17 milhões de casos de insuficiência cardíaca e 79 milhões de ataques cardíacos podem ser evitados até 2050, segundo a OMS.

No Brasil, o levantamento de informações indica que a probabilidade de uma pessoa com hipertensão morrer precocemente é de 15%. Os dados da pesquisa foram coletados em 2019, e neste mesmo ano, 381 mil morreram por doenças cardiovasculares e 54% deles tinham quadros de pressão alta. A expectativa da OMS é que 365 mil vidas sejam poupadas até 2040 se o País ultrapassar a marca de 40% dos casos de hipertensão controlados; hoje, apenas 33% tem a doença sob controle. 

Ainda segundo o relatório, o número das pessoas que vivem com hipertensão (onde a pressão arterial é igual ou superior a 140/90 mmHg ou há uso de medicamentos para hipertensão) duplicou entre 1990 e 2019, passando de 650 milhões para 1,3 bilhão.E ainda mais preocupante, é o fato de atualmente quase metade das pessoas com pressão alta em todo o mundo desconhece sua condição.

De acordo com a organização, a idade avançada e a genética podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença, mas alguns fatores tem o risco modificáveis, como uma dieta rica em sal, falta de exercícios físicos e consumo elevado de álcool, também favorecem o surgimento da hipertensão.

Segundo a cardiologista Lucélia Magalhães, presidente do departamento de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o consumo exagerado de sal é o maior culpado pela alta incidência de hipertensão na população local.

Consumimos quase duas vezes mais que o recomendado. Temos uma cultura de comida salgada", afirmou.

A recomendação atual sobre o consumo de sal é que seja no máximo 5 gramas ao dia (o que dá mais ou menos, 2 gramas de sódio, principal mineral presente no ingrediente). Há dados que apontam que o brasileiro ingere cerca de 12 gramas de sal. A maior questão é que, quando há excesso de sódio na circulação, o organismo começa a reter mais líquido no interior dos vasos - o que eleva a pressão.

Precisamos de uma política de saúde focada primeiramente na diminuição da ingestão de sal e, depois, no controle da obesidade", afirmou a médica. 

Para que isso aconteça, é preciso de uma campanha focada na atenção primária, com uma equipe multiprofissional que inclua desde o nutricionista e o educador físico, promovendo mudanças no estilo de vida, até o médico, que deve receitar um tratamento para quem já vive com a condição. 

E também, a criação de uma campanha centrada na atenção primária, a prevenção, a detecção precoce e a gestão eficaz da hipertensão estão entre as intervenções com melhor relação custo-eficácia nos cuidados de saúde. Sendo assim, devem ser priorizadas pelos países como parte do seu pacote nacional de benefícios de saúde.

Em estudos anteriores foi mostrado que, além dos benefícios para a saúde das pessoas, há também vantagens econômicas em investir nos cuidados de base: a cada unidade de moeda gasta na prevenção da hipertensão, é possível economizar 18 no tratamento de casos graves, quando o paciente chega ao hospital com AVC ou enfarte.

A hipertensão pode ser controlada eficazmente com regimes de medicação simples e de baixo custo e, no entanto, apenas uma em cada cinco pessoas com hipertensão a controlou", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Michael R. Bloomberg, embaixador global da OMS de Doenças e Lesões Não Transmissíveis também fez uma declaração sobre a hipertensão. 

Tratar a hipertensão por meio de cuidados de saúde primários salvará vidas, ao mesmo tempo que poupará milhões de dólares por ano".

Para Lucélia, a baixa adesão ao tratamento da hipertensão acontece porque, na maior parte dos casos, não há sintomas físicos até que o caso se torne grave, o que pode levar o paciente a um hospital. Além do que, há pouca visibilidade sobre os ganhos reais da redução do sal, do peso e do álcool podem trazer à saúde no longo prazo.

Sem os sintomas aparentes e dentro de uma cultura de consumo de alimentos e bebidas que não são saudáveis, as pessoas não procuram um médico para então, fazer exames de rotina ou até normalizam a pressão alta, não dando a atenção necessária aos riscos que traz.

É por isso que precisamos de uma campanha com foco na educação e no acompanhamento constante", completou ela.
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