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Direitos Humanos

PF abre inquérito para investigar crime de genocídio contra yanomamis

A ação foi iniciada na manhã desta quarta-feira (25), informou a corporação

570 crianças yanomamis morreram de fome, desnutrição e contaminação, segundo Ministério dos Povos Indígenas - Imagem: divulgação/Policia Federal
570 crianças yanomamis morreram de fome, desnutrição e contaminação, segundo Ministério dos Povos Indígenas - Imagem: divulgação/Policia Federal

Mateus Omena Publicado em 25/01/2023, às 15h19


A Polícia Federal (PF) abriu nesta quarta-feira (25) uma investigação para apurar possíveis crimes de omissão e genocídio contra os povos yanomami, diante da crise humanitária que a comunidade enfrenta em Roraima.

A corporação afirmou que pretende apurar se houve omissão de agentes públicos e atuação dos financiadores e facilitadores do garimpo ilegal na região. A investigação será comandada pela superintendência da PF em Roraima, informou o portal UOL. A ação do órgão foi revelada inicialmente pela GloboNews.

A solicitação de inquérito foi feita pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), que está ciente da abertura da investigação.

A PF também informou, em nota, que seus esforços ficarão concentrados na apuração de "crimes de genocídio, omissão de socorro, crimes ambientais, além de outros crimes conexos em Terras Indígenas Yanomami". Por outro lado, a corporação apontou que podem haver outros possíveis crimes.

Ao visitar o estado de Roraima, no fim de semana, para averiguar a calamidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o culpou pela crise humanitária e indiferença com os povos indígenas.

Segundo o petista, Bolsonaro preferiu dar prioridades às motociatas e escolheu "abandonar" os yanomamis.

“É desumano o que eu vi aqui. Sinceramente, se o presidente que deixou a Presidência esses dias em vez de fazer tanta motociata tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse tão abandonado como está", declarou o presidente.

Medidas rígidas

Em entrevista à GloboNews, o ministro Flávio Dino afirmou que estão sendo adotadas medidas de emergência nas terras indígenas, tanto para socorrer povos em situação de vulnerabilidade, quanto para combater grileiros e invasores.

De acordo com o ministro, a PF está trabalhando para identificar os responsáveis pela crise, além de "buscar desde as pessoas que estão em Roraima como aqueles que estavam acima na cadeia hierárquica".

“Há centenas de documentos oficiais encaminhados a ministérios e vários órgãos públicos, e essas pessoas têm que ser chamadas a explicar porque, uma vez avisadas, não agiram. Isso será explicado à PF".
Ele explicou também que o processo de desintrusão será elaborado com a polícia local, as Forças Armadas e outros órgãos. "Há um cruzamento entre essas ocupações ilegais com o sofrimento da população", disse.

Neste momento, o ministro da Justiça e o presidente Lula estão avaliando iniciativas de combate à fome e à violência na região, com o apoio dos ministérios da Saúde, Desenvolvimento e Povos Indígenas.

Momento dramático

O Ministério dos Povos Indígenas revelou que 570 crianças yanomamis morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, "devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região".

Diante da crise, o Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que atinge os yanomamis.

A portaria foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) e já está em vigor desde a última sexta-feira (20).

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