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Polêmica

Homem deixa cidade após ser torturado por bolsonaristas por criticar atos antidemocráticos

Os agressores foram identificados pela polícia, mas não se tornaram réus

A vítima vivia em Itapema, município de Santa Catarina - Imagem: reprodução/Facebook
A vítima vivia em Itapema, município de Santa Catarina - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 16/12/2022, às 15h41


Rafael dos Santos Cabral da Silva, 41 anos, foi vítima de tortura, após criticar um grupo que fazia um ato golpista em uma rodovia federal em Itapema, Santa Catarina.

Em entrevista à NSC TV, afiliada da Rede Globo, ele revelou que decidiu deixar o estado por temer novas represálias de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os agressores foram identificados pelas autoridades, dois deles viraram réus, mas não foram presos.

Em 19 de novembro, Rafael foi abordado por um grupo, torturado e obrigado a participar do ato sob ameaça de agressão. Rafael conta que passou a ter medo de andar na rua depois de ser agredido, forçado a repetir frases e a ficar sob controle do grupo por pelo menos cinco horas.

"Infelizmente, estou sem trabalhar, sem poder estar no local que amo, por causa da perseguição desse pessoal bolsonarista. [...] Não estou conseguindo dormir à noite. Quando alguém se aproxima de mim com a camisa do Brasil, eu fico aflito porque não sei qual é a intenção daquela pessoa comigo", contou.

Segundo a vítima, cerca de seis homens o abordaram e o agrediram. Em seguida, ele foi colocado dentro de uma caminhonete com destino a um trecho da BR-101 onde pessoas se manifestaram contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais.

"No acampamento deles, onde fizeram os vídeos, tinham mais ou menos umas 50 pessoas. Tinham até crianças", contou.

Rafael foi obrigado a participar dos atos antidemocráticos, com bandeiras do Brasil presas ao corpo. O episódio foi gravado e mais tarde compartilhado nas redes sociais.

Ele também foi forçado a usar um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), enquanto repetia frases ditadas pelo grupo. "Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros", aparece dizendo em vídeo.

"Fiquei o tempo todo, quando cheguei no acampamento, de cabeça baixa, porque até então eles estavam me chamando de vagabundo, de lixo, que eu era comunista, um retirante. [...] Naquele momento que eles botaram o boné na minha cabeça, fiquei de cabeça baixa. Quando aquilo estava amenizando, levantei a cabeça e vi crianças [no acampamento]", relata.

No dia seguinte após a publicação do vídeo na internet, a vítima recebeu uma ligação para buscar um sofá em um edifício no bairro Meia Praia, mas ao chegar, foi abordado pelos agressores.

"[Ele] chegou ao endereço e já foi cercado pelo grupo. Eles tomaram os pertences dele, a chave da kombi, carteira e o agrediram, humilharam. Depois colocaram ele dentro de uma Hilux, estava sem liberdade total, e o levaram até a BR-101, onde ocorriam as manifestações".

Além de ter sido agredido e mantido em cárcere pelos agressores, Rafael continuou sendo atacado com gravações compartilhadas nas redes sociais.

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