Durante o governo Bolsonaro, foi decidido cessar os pagamentos a informantes, o que resultou na redução da vigilância sobre grupos ligados ao Hamas e ao Hezbollah
Marina Roveda Publicado em 20/10/2023, às 08h05
No governo anterior, de Jair Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enfrentou um "apagão" de informações cruciais sobre a atuação de grupos como o Hamas e o Hezbollah em solo brasileiro. Essa lacuna nas informações decorreu de uma decisão da direção da agência, na época sob o comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal, de interromper o pagamento a mais de 80 informantes de áreas sensíveis, incluindo contraterrorismo e contra-espionagem.
Esses informantes, cujas identidades são estritamente confidenciais, forneciam à Abin informações vitais sobre estrangeiros vivendo no Brasil com ligações a organizações como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas, que recentemente protagonizaram um conflito devastador na região do Oriente Médio.
A Abin tem a responsabilidade de monitorar a atuação de dezenas de simpatizantes e estrangeiros ligados a essas organizações, especialmente na região de Foz do Iguaçu, mas também em outras cidades do Brasil. Muitos desses indivíduos fazem remessas regulares de dinheiro para destinatários localizados na Faixa de Gaza e no Líbano, levantando suspeitas de que parte desses recursos possa estar financiando as atividades dessas organizações no exterior.
Várias dessas fontes, abruptamente desligadas da Abin durante a gestão de Alexandre Ramagem, eram próximas desses grupos. Como reportado anteriormente, um desses informantes chegou a mover um processo contra a agência, anexando relatórios sigilosos que havia enviado.
O corte dos pagamentos, na época, foi justificado por uma suposta mudança de prioridades nas operações da Abin. A alegação era concentrar os recursos que anteriormente financiavam o trabalho dos informantes em ações voltadas para o monitoramento de facções brasileiras ligadas ao tráfico de drogas. Essa decisão impactou diretamente a capacidade da agência de rastrear e coletar informações cruciais sobre organizações estrangeiras atuando em território nacional.
Essas informações, agora reveladas, levantam questões sobre a eficácia das políticas de segurança nacional e contraterrorismo no Brasil, e sobre a necessidade de garantir um monitoramento contínuo de grupos com presença no país, a fim de manter a segurança e a estabilidade. Esse "apagão" de informações pode ter tido sérias consequências em termos de segurança e política externa.
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